Dia chuvoso, daqueles de não querer sair da cama. Tomo o rumo do trabalho e boto para tocar um CD com uma coletânea erudita.
Infelizmente, eu já tinha 10 anos quando tomei conhecimento da música clássica. Naquele ano de 1985, foi exibido o filme Amadeus, de Milos Forman, sobre a vida de Mozart (interpretado de modo competente por Tom Hulce, mas perdendo para a genial composição de Antonio Salieri feita por F. Murray Abraham). Eu e meu irmão adoramos e ele, depois, inaugurou a nossa posterior mania de comprar trilhas sonoras de filmes. Foi escutando aquela trilha de duas bolachas pretas que me apaixonei por música e ingressei no mundo de grandes compositores e obras imortais.
Embora eu apreciasse estilos diferentes — até hoje, com predileção pelo barroco —, desde o primeiro momento ficou clara a minha inclinação para as músicas tristes, as mais pungentes, aquelas que penetram mais o coração, como se o apunhalassem. Daí que uma de minhas músicas favoritas é o Adagio, de Albinoni. A faixa que me fez recordar de tudo isto, esta manhã, também foi um Adagio, mas de Samuel Barber, o de n. 11.
Minha mãe, com a simplicidade de uma mulher interiorana (Óbidos), que jamais tivera contato com música erudita, não teve a sensibilidade burilada para essa forma superior de arte. Quando seus filhos começaram a escutar (e diariamente), ela se incomodou. Dizia que era "música de velório". Quantas vezes escutei isso! Anos se passaram até que ela amolecesse um pouco e, hoje, ela nos acompanha todos os anos às óperas montadas no Theatro da Paz. E gosta.
Mas eu refletia sobre as músicas tristes. Não são fúnebres, nem funestas, nem drásticas. São apenas tristes. Penso que a tristeza seja um dos sentimentos mais puros e, por isso, o maior sentimento que me fica, ao escutá-las, é paz. Uma enorme paz, um enlevo de espírito.
Talvez alguém me considere um tanto necessitado de uma consulta psiquiátrica, mas penso que estar diante da tristeza, de vez em quando, é bom. E isso é um bom efeito trazido por essas músicas. Você não está triste. Nada de ruim aconteceu. Você apenas contempla um estado emocional, medita sobre a sua vida e acaba satisfeito, porque nenhuma das coisas ruins imaginadas está ocorrendo. Daí segue seu caminho, mais leve.
O paradoxo está em passar tantas horas escutando músicas tristes e, depois delas, estar mais feliz.
Um comentário:
Hhhuuummmm que post sensacional! Bach é poderoso tb!
Alguém me disse uma vez que a música erudita é "como se Deus estivesse soprando em seus ouvidos" as notas musicais!
Então, amigo Yúdice, é tudo de bom, se é Deus. Paz! Calmaria. Relaxamento. Saudades....
Beijinhos aos dois.
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