Os padres da Arquidiocese de Belém foram orientados a transformar os púlpitos em tribunal de acusação ao ministro José Gomes Temporão, gestor da saúde pública no Brasil. Considerado persona non grata pela CNBB, Temporão é acusado de gastar R$ 2 milhões com a indústria farmacêutica que produz contraceptivos e a pípula do dia seguinte. A primeira munição dos padres é a falta da vacina Tríplice Viral nos postos de Saúde de Belém. (Repórter 70, hoje)
O ministro Temporão, coitado, não é de hoje, não pode passar na frente de uma igreja nem por acaso. Mas, honestamente, não consigo considerá-lo o diabo que pintam — até porque concordo com boa parte das políticas de saúde pública que ele pretende implementar.
De fato, deve-se cobrar a falta de vacinas na rede pública. Aliás, de medicamentos e até de gaze e esparadrapo. Deve-se cobrar a falta de ambulâncias, de médicos, de leitos, de centros cirúrgicos, de próteses, órteses e tudo mais. Inclusive a falta de órgãos para transplante e sangue para transfusão — o que não é culpa do governo, mas da sociedade, sem que, todavia, a Igreja pareça preocupada em convencer seu rebanho da importância da doação. O que incomoda a Igreja não é a falta de solidariedade humana, ou de ações concretas do governo, ou de probidade administrativa, mas a falta de cumprimento do modus vivendi que ela determina como certo.
É errado dizer que não se pode gastar dinheiro com anticoncepcionais porque faltam vacinas. O certo é ter dinheiro para ambas as coisas, em vez de desviá-lo para todos os fins espúrios que sabemos.
Ou seja, a capa com que se envolveu o discurso é bonita e justa. Mas serve apenas para mascarar as reais intenções da Igreja que, diga-se de passagem, bem que podia investir mais em programas de assistência familiar - as pastorais da família. Investir com recursos próprios, bem entendido.
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