Posso dizer, sem vaidade, que sempre fui mais maduro do que a maioria das pessoas de minha idade, em todas as fases da vida. Quando criança, corri na rua, subi em árvore, brinquei de carrinho, andei de bicicleta, tive meus amiguinhos, mas fui essencialmente uma criança de ficar em casa, lendo. E os livros infantis me aborreciam, exceto se tivessem uma temática mais profunda, como A bolsa amarela, de Lygia Bojunga, que tem um nítido cunho existencialista. O fato é que minhas preocupações estavam sempre voltadas a questões normalmente além dos interesses da juventude. Por conta disso, sofria com a necessidade de auto-afirmação. Ser tratado como criança me afetava, acho, mais do que aos adolescentes em geral. Resultado: sempre que alguém falava que com mais idade eu poderia, eu entenderia, eu saberia, isso me irritava.
O tempo passou e cheguei à conclusão de que era verdade. Minha irresignação se devia a um sentimento de autodefesa, mas quando me tornei adulto e cheio de responsabilidades, não precisava mais convencer ninguém disso. Curiosamente, foi a fase em que me senti mais distante de ser um adulto de verdade. Vai entender.
Hoje, convivo com alunos de variadas idades. Como as famílias colocam seus filhos na escola muito cedo, é normal que eles cheguem à universidade aos 16 anos, a idade que eu mesmo tinha quando ingressei na UFPA. Muitos chegam bastante imaturos, empolgadíssimos com a ideia de fazer uma "atividade de adulto", ávidos por entrar nas farras de universitários. Isso, claro, repercute em sua relação com a academia. Pode-se encontrá-los nos corredores, na cantina, nas escadas, enquanto a aula corre. E quando em sala, não mostram a mesma vivacidade. Distraem-se com facilidade, entram e saem, atendem celular. É preciso invocar a disciplina.
Naturalmente, isso é meramente exemplificativo. Encontram-se com grande facilidade alunos muito jovens dentre os mais compenetrados e responsáveis.
Quanto aos adultos, que chegam à academia com famílias constituídas (e até desconstituídas), trabalho, outros cursos concluídos, profissões mais ou menos recompensadoras, o clichê é que são mais responsáveis, têm mais afinco em aprender, porque o tempo já lhes corre desfavorável, as energias decrescem, as necessidades aumentam exponencialmente. A verdade é que o clichê se confirma. A maioria dos discentes pós 30 anos são mais aplicados ou pelo menos mais preocupados. Seus insucessos estão frequentemente relacionados à falta de tempo para estudar, em vez de excesso de tempo para picardias. O que não impede, claro, que volta e meia apareçam alguns bem malandros.
Em suma, a experiência e as estatísticas demonstram que, sim, a idade faz a diferença. Isto é uma regra. Há milhares de exceções mas, como sabemos, as exceções confirmam as regras.
Felizmente, hoje posso dizer que as pequenas leviandades da juventude ou as justificativas, reais ou inventadas, dos mais velhos não comprometem o meu trabalho docente. Eu aperto a todos, indistintamente. E eles respondem, às vezes com sacrífício, às vezes reprovando, mas seguindo em frente. No final, a maioria reconhece que, se tivessem sido menos cobrados, teriam estudado menos.
Nessa convicção de que é do esforço que vêm a conquista e o mérito, sigo com meus alunos que, não importa a idade, são sempre as minhas crianças.
5 comentários:
Quando fazia minha primeira graduação, em Administração, iniciada ainda no antigo Cesupa-Cesam, tive contato com alguns alunos do curso de Direito que me falavam de um professor muito rigoroso, às vezes "carrasco", chamado Yúdice Randol. Mas eu o via pelos corredores tão simpático, interagindo com os alunos, não acreditava na "fama" que tinha. Anos mais tarde retornei à casa, agora cursando Direito, e queria ser aluno do professor Yúdice, mas logo no primeiro contato com a disciplina de Direito Penal, ministrada por outro excelente professor, percebi que alguns alunos que faziam dependência (repetindo a disciplina) comentavam que "tivemos sorte" não sendo alunos do prof. Yúdice. Aí eu pensava: "mas ainda essa história de 'carrasco'?" rsrsrsrsrs...
Ah, essas 'crianças' negligentes...
Vocês estiveram nas ótimas mãos do Prof. Alexandre Rodrigues, meu dileto colega. Mas estou certo de que teriam se divertido comigo. Abraços.
PS - Há alguns semestres, um aluno disse à Profa. Gysele Amanajás que me queria para orientador de TCC para não correr o risco de sofrer argüição rigorosa na banca. "Quero esse cara do meu lado", explicou. Preferi não orientar o dito cujo.
Para quê ?
Beijos.
Querido Yúdice,
Concordo com as suas assertivas acerca da maturidade e, consequente, comprometimento dos alunos mais velhos, aliás, tenho a impressão de q as turmas com pessoas mais velhas sempre tem um melhor rendimento...o q, acho, não é o caso da minha!
De qualquer forma,não considero sua didática "carrasca", pelo contrário, acho mesmo q faz com as pessoas levem mais a sério o estudo. Pelo fato de o Sr ser um prof super comprometido com suas responsabilidades, faz com q todos nós, seus ex ou atuais alunos, repetentes ou não, que o considere carrasco ou não, tenhamos respeito e apreço por vc!
Grande abraço,
Tainá Bitar (infelizmente, ex-aluna).
Tainazinha, também sinto muito a tua falta. É valioso ter uma aluna como tu. Só posso agradecer pelas gentis palavras e benfazeja avaliação. Vinda de uma aluna tão comprometida com a própria formação, só posso comemorar.
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