Alguém deveria indicar o caminho do banheiro, aquele que se conecta com a saída dos fundos, para o diretor da Federação das Indústrias do Estado do Pará — FIEPA, Ivanildo Pontes. Não o conheço pessoalmente, nada sei de sua vida e este meu comentário se restringe à declaração desairosa dada (segundo o Repórter Diário de hoje) sobre a proposta de redução da jornada de trabalho no Brasil, defendida pelo DIEESE e organizações sindicais.
Obviamente, o empresariado não quer nem ouvir falar de uma coisa dessas. Todavia, Pontes teria declarado que a medida não é necessária porque o Brasil já tem muitos feriados e, além disso, o trabalhador já tem direito a 30 dias de férias! Dito assim, até parece que 30 dias de férias são uma eternidade. Mas a pérola mesmo vem da malsinada mania que os brasileiros têm de se comparar com outros países. E quando o sujeito faz uma asneira dessas, normalmente vai buscar as piores comparações. Foi o que fez Pontes, ao dizer que, no Japão, as férias duram apenas uma semana por ano.
Sugiro ao empresário que transfira seus negócios para a terra do sol nascente e não nos aborreça com um desatino desses. Então porque existem países que impõem a seus nacionais jornadas laborais mais intensas, o Brasil precisa seguir o mesmo rumo? Ah, já sei, é porque o Japão é rico. E se copiarmos países ricos, ficaremos ricos também. Já escutei isso.
Claro que o empresário ignorou os hábitos culturais de ambos os países, seu nível de desenvolvimento econômico, sua qualidade de vida, seu acesso à educação e saúde, dentre inúmeros outros fatores. Imagine um brasileiro mal nutrido, andando de ônibus lotado todo dia, pagando seus pecados nas filas do SUS, habitando um barraco num bairro cheio de lixo, com férias de apenas uma semana. Seria quase uma morte em vida. Mas o nosso empresário não pensou nisso, claro. E aposto que ele adora os feriados brasileiros, quando então bota a família num carro e se muda para Salinas. Minha sugestão: quando houver um feriado, Pontes deve ficar em Belém, com toda a família, em sinal de protesto.
Então ficamos assim: por que não acabamos com alguns feriados, que de fato existem em número excessivo, e em troca ganhamos uma reduzidinha na jornada laboral? Isso seria viável?
6 comentários:
Excelente post! Bravo! O título então...ó...pra lá de sugestivo para mim... rsrs
Beijinhos Yúdice.
Não estou enganando o meu coração, é que gosto mesmo de você. Muito. Com todo o respeito. Feliz 2008, 2009...e que venha o mês de março!
:)
Essa lábia de empresário é muito canastrona. Pena que uma multidão se deixa envolver por esse discurso hipócrita. Parabéns pelo discernimento.
E será que não foi esse empresário que escreveu as novas normas dessa empresa?
"Novas Normas para a Empresa
INDUMENTÁRIA:
Informamos que o funcionário deverá trabalhar vestido de acordo com o seu Salário. Se o percebermos calçando um tênis Prada de R$350 e carregando uma bolsa Gucci de R$600, presumiremos que vai bem de finanças e, portanto, não precisa de aumento.
Se ele se vestir de forma pobre, será um sinal de que precisa aprender a controlar melhor o seu dinheiro para que possa comprar roupas melhores e, portanto, não precisa de aumento.
E se ele se vestir no meio termo, estará perfeito e, portanto, não precisa de aumento.
AUSÊNCIA DEVIDO À ENFERMIDADE:
Não vamos mais aceitar uma carta do médico como prova de enfermidade. Se o funcionário tem condições de ir até o consultório médico, pode vir trabalhar.
CIRURGIA:
As cirurgias são proibidas. Enquanto o funcionário trabalhar nesta empresa, precisará de todos os seus órgãos, portanto, não deve pensar em remover nada. Nós o contratamos inteiro. Remover algo constitui quebra de contrato.
AUSÊNCIAS DEVIDO A MOTIVOS PESSOAIS:
Cada funcionário receberá 104 dias para assuntos pessoais a cada ano. Chamam-se sábado e domingo.
FÉRIAS:
Todos os funcionários deverão entrar em férias nos mesmos dias de cada ano. Os dias de férias são:
01 de janeiro,
07 de setembro
e 25 de dezembro.
AUSÊNCIA DEVIDO AO FALECIMENTO DE ENTE QUERIDO:
Esta não é uma justificativa para perder um dia de trabalho. Não há nada que se possa fazer pelos amigos, parentes ou colegas de trabalho falecidos. Todo esforço deverá ser empenhado para que não-funcionários cuidem dos detalhes. Nos casos raros, onde o envolvimento do funcionário é necessário, o enterro deverá ser marcado para o final da tarde. Teremos prazer em permitir que o funcionário trabalhe durante o horário do almoço e, daí, sair uma hora mais cedo, desde que o seu trabalho esteja em dia.
AUSÊNCIA DEVIDO À SUA PRÓPRIA MORTE:
Isto será aceito como desculpa. Entretanto, exigimos pelo menos 15 dias de aviso prévio, visto que cabe ao funcionário treinar o seu substituto.
O USO DO WC:
Os funcionários estão passando tempo demais no toalete. No futuro, seguiremos o sistema de ordem alfabética.
Por exemplo, todos os funcionários cujos nomes começam com a letra 'A' irão entre 8:00 e 8:20, aqueles com a letra 'B' entre 8:20 e 8:40, etc. Se não puder ir na hora designada, será preciso esperar a sua vez, no dia seguinte. Em caso de emergência,
os funcionários poderão trocar o seu horário com um colega. Ambos os supervisores do funcionário deverão aprovar essa troca, por escrito.
Adicionalmente, agora há um limite estritamente máximo de 3 minutos no box. Acabando esses 3 minutos, um alarme irá tocar,
o rolo de papel higiênico será recolhido, a porta do box abrirá e uma foto será tirada.
Se for repetente, a foto será fixada no quadro de avisos da empresa sob o título "Infrator Crônico".
A HORA DO ALMOÇO:
Os magros têm 30 minutos para o almoço, porque precisam comer mais para parecerem saudáveis. As pessoas de tamanho normal
têm 15 minutos para comer uma refeição balanceada que sustente o seu corpo mediano. Os gordos têm 5 minutos, porque é tudo que precisam para tomar um "Slim Fast" e um remédio de regime.
Muito obrigado pela sua fidelidade à nossa empresa. Estamos aqui para proporcionar uma experiência empregatícia positiva. Portanto, toda dúvida, comentário, preocupação, reclamação, frustração, irritação, agravo, insinuação, alegação, acusação, observação, consternação e "input" deverá ser dirigida para qualquer outro lugar. Se dirigir-se ao RH para fazer isso, leve logo a carteira de trabalho nas mãos.
Tenham uma boa semana.
A Gerência"
Prezado Yúdice
30 dias de férias é muito ainda mais se aliado a uma quantidade absurda de feriados "enforcados" pra comemorar uma série de covardias portuguesas reais , coloniais depois republicanas e pior as vezes religiosas afora a a injusta carga tributária sem equivalente mesmo em economia ricas como Japão que entrega ao governo 4 meses da riqueza gerada.Agora , Miguel , se o Pontes paga mal e não dá aos seus empregados participação (efetiva e não migalhas estatísticas) nos lucros ele é burro.
Abração
Tadeu
Cris, sugestivo por quê?
Fábio, muito boa, essa. Valeu a pena ler.
Tadeu, teu comentário me lembrou o grande verso de Renato Russo, sobre "celebrar nosso passado de absurdos gloriosos". É isso, de fato. Concordo, também, com o restante das idéias.
Valeu Yúdice , um detalhe acabei não comentando o cerne da questão do post . Vejo com muito bons olhos uma discussão sobre redução ( uma flexibilizaão , então, acho urgente) da jornada de trabalho.É necessário que se dê acesso a trabalhador a usufruir em horários compatíveis a serviços que ele usa e paga como por exemplo bancos , eletricidade , telefonia etc.quando um trablhador tem um problema com um desses "prestadores" de serviço (a aspas corre por minha conta) , ele tem que se ausentar , ou pedir pra sair do trabalho.Acho também que o trabalhador tem que dar uma volta no shopping com d. patroa sem que seja sabado ou domingo quando 5 milhões e meio de pessoas estão fazendo a mesma coisa.Essa alteração (redução) de horario implicaria em contratação de mais mão de obra e no fim resultaria em um acrescimo expressivo no consumo , principalmente de lazer e entretenimento (essa indústria poderosíssima)Além do que , acho as famílias ,os casais seriam mais felizes.
Abraços
Tadeu. (puta pelegão , eu sou , hein?rsrsrs mas a galera que trabalha comigo gosta pq se falarem que não , demito por justa causa , rarararara)
Pelego, por quê, Tadeu? Tu és ótimo, isso sim!
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