domingo, 16 de setembro de 2007

Brincante



Antônio Nóbrega é desses artistas que valorizam a verdadeira cultura brasileira. Compositor, instrumentista e cantor (rabequeiro de mão cheia), bebe no folclore de seu Estado natal, Pernambuco, a inspiração para uma carreira que não pode ser acompanhada pelas rádios nem pelos programas de variedades ou de entrevistas que passam cotidianamente. Eu mesmo jamais ouvira falar dele quando vi sua entrevista ao Jornal Liberal de um sábado há cerca de quatro anos, promovendo o show que faria no Teatro da Paz, claro em única apresentação. Como meu irmão é ator e adora essas pessoas que correm por fora do circuito, convidou-me. Fui por ter simpatizado com o tipo e qual não foi a minha surpresa ao assistir a um dos maiores espetáculos musicais de minha vida — e eu não conhecia absolutamente nada do repertório!
O teatro estava cheio e quem foi, amou. Para vocês terem uma noção, após esbanjar vitalidade, dançando frevo com seus mais de 50 anos de idade, com mais de uma hora de apresentação ele ainda levou uma moça da plateia para o palco, onde dançaram, e convidou todos nós para acompanhá-lo. Deixamos a sala de espetáculos e acabamos no saguão do teatro, de mãos dadas, numa imensa ciranda — o artista juntinho de seu público, interagindo inclusive fisicamente.
Saí do teatro de alma lavada, com aqueles sorrisos que grudam na cara e não saem mais. Lamento dia e noite ele não ter vindo mais aqui. Compramos, eu e meu irmão, um CD cada um. O meu, Lunário Perpétuo, que baseou o espetáculo em questão. E é nesse CD que está a linda canção Carrossel do destino, cuja letra lhes ofereço em homenagem a esta aborrecida mas esperançosa tarde de domingo.

PS — Saiba também sobre o Teatro Brincante, do qual Nóbrega faz parte.

Deixo os versos que escrevi,
As cantigas que cantei,
Cinco ou seis coisas que eu sei
E um milhão que eu esqueci.
Deixo este mundo daqui,
Selva com lei de cassino;
Vou renascer num menino,
Num país além do mar...
Licença, que eu vou rodar
No carrossel do destino.
Enquanto eu puder viver
Tudo o que o coração sente,
O tempo estará presente
Passando sem resistir.
Na hora que eu for partir
Para as nuvens do divino,
Que a viola seja o sino
Tocando pra me guiar...
Licença, que eu vou rodar
No carrossel do destino.
Romances e epopéias
Me pedindo pra brotar
E eu tangendo devagar
A boiada das idéias.
Sempre em busca das colméias
Onde brota o mel mais fino,
E um só verso, pequenino,
Mas que mereça ficar...
Licença, que eu vou rodar
No carrossel do destino.

2 comentários:

morenocris disse...

Caramba...isso é bão demais para os meus olhos e mente!

Pernambuco, terra de gente abençoada por Deus! Quantos poetas habitam por lá!

Ontem recebi a visita no blog de Juli Ribeiro, escritora desta terra maravilhosa!

Lindo post. Eu já tinha passado por aqui ontem, mas foi cedo. Ia falar sobre o domingo...rsrs

Beijinhos, amigo, boa semana.

Yúdice Andrade disse...

Fico por demais acarinhado com essas tuas visitas reiteradas no mesmo dia. Que bom! E essa cultura verdadeiramente brasileira é uma delícia, mesmo. Só falta eu ter a oportunidade de conhecer Pernambuco. Vontade não falta.