terça-feira, 18 de setembro de 2007

Tipo novelinha

O diretor e os atores são estrelas globais. Dois deles, inclusive, atualmente no ar, na novela do horário nobre. Olhando de longe, Primo Basílio, de Daniel Filho, parece um autêntico fruto do jeito Rede Globo de fazer dramaturgia. E é. Mas, por favor, não tomem isso como uma crítica destrutiva pois, afinal, sou um consumidor da teledramaturgia global e já postei aqui no blog a minha defesa das novelas, o tipo de entretenimento mais bem sucedido no país.
Primo Basílio (creio que a omissão do artigo foi uma deliberada medida de individualização da obra) é um bom filme, mas nada além disso. Fui assistir porque, como escrevi ontem, valorizo o cinema nacional. E considero valioso que emissoras de TV invistam no cinema e ajudem a alavancar essa importante área da cultura.
Com meu olhar leigo, posso dizer apenas que Débora Falabella está adorável como sempre, mas esta observação não se estende à personagem. Fábio Assunção não surpreende e suspeito que o tipo cafajeste não é novidade para o bonitão. Reynaldo Giannechini é aquilo mesmo e o seu sotaque irritante lembra um pouco o mecânico Pascoal. Glória Pires, que é maravilhosa, estava insossa. A cena do atropelamento (não disse de quem) foi bem ruinzinha. Merece especial menção Simone Spoladore (mais destacada no cinema que na TV), atriz valorosa com um papel pequenino (coisas de cinema global), que ao final do filme solta um olhar de tristeza realmente comovente.
O jeitão novela está lá, com suas cenas curtinhas gravadas em estúdio. E considerando que, ao contrário das novelas, não existem milhões de personagens e tramas paralelas, o picotamento da trama central causa um certo desconforto. Algumas cenas eram muito escuras. Terá sido uma metáfora do diretor mostrar os personagens imersos em sombras?
O destaque é que, finalmente, uma produção brasileira mostra uma rua com mais do que dois carros antigos de uma só vez!
O som sempre foi um problema no cinema nacional, mas ontem fomos prejudicados pela porcaria que é o Moviecom, essa empresinha ordinária que praticamente monopoliza o setor em Belém. Durante toda a projeção, o som esteve abafado, em meios a estalos que alternavam os canais em funcionamento. Com isso, às vezes só ouvíamos ruídos de fundo; às vezes, só a música, com as falas dos personagens sussurradas ao longe. Deixei de entender pelo menos 30% dos diálogos. Mas naquela joça, reclamar a quem?
Enfim, se quiser ver Primo Basílio, vá. E divirta-se. Mas que Saneamento básico, o filme é muito melhor — mesmo sendo difícil comparar, face à diferença de estilos —, lá isso é.

6 comentários:

Antonio Carlos Monteiro disse...

Sou fã do cinema brasileiro também, Temos bons atores e bons diretores. Acho que falta um enrijecimento não somente no cinema, mas em toda e qualquer forma de produzir arte, cultura no Brasil. Falta alma, exercício de intelecto, leitura, paixão pela poesia, pela literatura.
Ontem, assisti um documentário cubano em que o reporte entrevistava uma menina numa praça, gente do povo. Espantei-me ao ver a cultura da menina, cheia de livros de poesia, poesia marginal, literária, e alguns livros de romance. Recitou alguns poemas, com muita intensidade, lembrou-se de trechos marcantes no seu mundo da leitura, seu amor aos livros era notório. E ela dizia que jamais poderia viver sem os livros, pois tinha sido doutrina desde criança de que livros afloram as idéias, instruem o ser humano, e exercitam o intelecto, fantástico. Um dia será assim aqui, Quiçá...
O clamor disso geraria projetos, oficinas e teríamos uma melhor formação em produzir cultura.
Hoje o que se vê, é tão somente o triste anedotário político, interpretações fabulosas, de esbanjamento de pudicícia, sinceridade, e nós, distante desse abismo que separa nossa opinião das decisões tomadas. Sinto vergonha de ter esses atores da corrupção a nossa frente, estes intérpretes da malversação...

Lá, na Argentina nossos vizinhos estão primorosos. Lá, o cinema está de vento em polpa.
Procure as películas de lá, não vai te arrepender...

Abraços.

morenocris disse...

Bom dia, Yúdice.

É por isso que as locadoras se transformaram é um ótimo negócio.

Além de problemas técnicos, as pessoas ainda não sabem se comportar nos cinemas. Faz tempo que não cumpro esse ritual. Sinto muita falta. Ir ao cinema para mim era como se eu estivesse me preparando para ir à uma biblioteca ou livraria. Mais feliz na livraria, pois estava planejada para comprar algumas edições.

Engraçado Yúdice, também faz tempo que não digo isso "ritual para ir ao cinema"...geralmente aos sábados com os amigos...na saída, uma casa noturna aconchegante...vinho ou cerveja...e íamos discutir o filme...caramba...saudades!

Beijos.

Yúdice Andrade disse...

Caro Antonio Carlos, há muitos anos li uma reportagem sobre a quantidade de livros lidos pelos argentinos. Nem se compara. E, de fato, os nossos hermanos latinos, em suas nações muito mais pobres do que a nossa, conservam com muito mais respeito e dignidade a sua história, valores e, no geral, a sua cultura. O Brasil é a terra da desconstrução. No mau sentido.
Seguirei sua recomendação de ver os filmes argentinos. E não apenas eles, mas as produções dos demais países. Gosto de vê-los, mas como são fora de circuito acabamos não tendo conhecimento sequer dos títulos. Se me recomendar algum filme em especial, começo por ele.

Cris, as locadoras só não contavam com a pirataria. Agora, nem elas mais sobrevivem.

Antonio Carlos Monteiro disse...

Com maior prazer, indico não só um, mas vários...

Temos o ousado Plata Quemada e o espertíssimo Nove Rainhas (ambos de 2000) conquistaram crítica e público.

Nove Rainhas, longa de estréia do diretor Fabián Bielinsky, foi um estrondoso sucesso internacional. Tanto que ganhou um remake americano em 2004, o fraquinho "Criminal" - batizado em português de 171.

O Filho da Noiva, indicado ao Oscar de filme estrangeiro, apresentou-nos ao belíssimo trabalho de Juan José Campanella. Estilo poético e bem-humorado do cineasta lembra o cinema italiano contemporâneo de mestres como Giuseppe Tornatore.
O filme anterior de Campanella, o romântico O Mesmo Amor, a Mesma Chuva, embora nunca tenha passado nos cinemas, costuma ser figurinha fácil na rede Telecine, cult.

Lucrecia Martel, de A Menina Santa, e Fernando Solanas, dos documentários "Memórias do Saqueio e "A Dignidade dos Ninguéns",

O Abraço Partido, de Daniel Burman.

Outro novo de Campanella: Clube da Lua. Filmado em 2004, o longa tece um paralelo entre o clube do título e a crise pela qual vem passando o país. O decadente clube Luna de Avellaneda, outrora um marco da boa vida em Buenos Aires, está para fechar suas portas após meio século de tradição.

"Não é Você, Sou Eu", que envereda pelos caminhos do coração com uma receita de comédia romântica temperada com pitadas de dilemas existenciais para Woody Allen nenhum botar defeito

No Escurinho do Cinema de Érika Liporaci

Peretti em, Tempo de Valentes.

Herencia, da estreante Paula Hernández. A trama narra com delicadeza a amizade entre uma italiana de meia-idade e um jovem alemão em Buenos Aires. Olinda chegou à Argentina logo após a 2ª Guerra Mundial, em busca de seu grande amor e decidiu ficar no país.

Pra finalizar "Roma" ganhou a sala escura. E mais dois exemplares estão sendo mostrados em trailers: "Buena Vida Delivery" e "O Buda".

No entanto, puxo essas películas pela internet, A qualidade é ótima, tendo um bom pc, assisti-se tranqüilamente todos os filmes.
O site é www.makingoff.org contem os filmes, trailers e sinopses.

Abraços caro.

morenocris disse...

Caramba...é mesmo Yúdice...bem lembrado.

Olhe, o número de bibliotecas só na capital da Argentina, supera o número das existentes no nosso país como um todo.

Beijos.

Adorei o seu comentário no Juca, sobre a divisão do Pará. Sou sua fã de carteirinha!

Yúdice Andrade disse...

Antonio Carlos, foram muitas as dicas! Desses, vi "Plata quemada" no cinema e gostei muito. É uma linguagem diferente e interessante. Os demais vou procurar.

Querida Cris, não mereço tanto. Beijo.