sábado, 22 de setembro de 2007

Dos antigos ditadores

O ex-presidente peruano Alberto Fujimori, após uma batalha judicial travada no Chile, finalmente foi extraditado de volta ao Peru, em cujo território já se encontra, para ser apresentado às autoridades locais e enfrentar os processos decorrentes das acusações de violação a direitos humanos e corrupção.
Inevitável pensar na última vez em que o mundo assistiu a um acontecimento do gênero. O nefasto general Pinochet, preso na Inglaterra, também foi alvo de um complicado processo de extradição. Retornando por fim ao país de origem, o mesmo Chile que agora está do lado oposto, foi recebido por uma legião de vítimas de seus crimes e, ao mesmo tempo, por outra legião, de admiradores. Nunca falta quem sinta saudade de assassinos de Estado — o que também ocorre no Brasil, claro, em relação aos ditadores de três décadas recentes.
Mas o caso de Pinochet deve servir de advertência a quem espere justiça. Afinal, as autoridades chilenas tanto demoraram para conduzir as ações criminais contra um réu idoso e doente, coitadinho, que o desgraçado acabou morrendo. Está no inferno, sem dúvida, mas não respondeu ao seu país nem à humanidade pelas atrocidades que cometeu.
Fujimori pode ir em caminho semelhante. Em 28 de julho de 2008, o ex-ditador completará 70 anos e, segundo as leis peruanas, em caso de condenação, teria direito a cumprir pena em prisão domiciliar, uma resposta mínima à gravidade dos desatinos que cometeu. Mas parece ser o destino dos monstros, esse de sempre acabar mais ou menos impunes. Dos matadores brasileiros, quem foi punido? Não se pode sequer tocar no assunto que o oficialato sobe nas tamancas e exige que o assunto seja esquecido, fala em perdão, etc.
Todo ditador é um cínico em nível máximo.
Enquanto velhas mães de filhos mortos acendem velas, Keiko Fujimori, a filha, membro do Congresso peruano, reclama em favor do pai tratamento de chefe de Estado. Nada de detenções ou algemas. Os advogados só precisam procrastinar o processo. É a procuradoria de justiça que está com a corda no pescoço, para conseguir uma condenação em no máximo nove meses.
Boa sorte. O mundo merece assistir a um canalha ser punido por seus crimes. Essa é uma exigência da esperança — aquela que é impossível perder e prosseguir vivendo.

2 comentários:

Unknown disse...

Ótimo post,professor.
A relação entre impunidade e desesperança é direta.
Abs e boa semana.

Yúdice Andrade disse...

Graças a Deus, Juvêncio, a era dos ditadores acabou. Infelizmente, contudo, há muitos querendo reeditá-la. E a América Latina, com sua sempre frágil democracia, é o palco para isso.