Renan Calheiros afirmou, novamente, que de modo algum se afastará da presidência do Senado. Justificou-se dizendo que é o mais qualificado para presidir a casa.
Não duvido. Num antro de desqualificados, qualquer um pode ser o mais qualificado entre eles. E, convenhamos, senadores graúdos renunciaram por muito menos e ele, com tudo que se apurou até aqui, não perdeu sequer a chefia do Congresso Nacional. O cara é mesmo muito qualificado.
Sorte do Brasil. Afinal, essa foi uma vitória do povo. E eu que preferia perder...
6 comentários:
Caro Yudice, o que eu acho que ocorreu no Renangate foi uma grande partidarização da cobertura do episódio pela mídia. A mídia conservadora e golpista, como diz o jornalista Paulo H. Amorim. Para quem não se lembra, Renan Calheiros foi ministro da Justiça de FHC. Por que, na época, a VEJA, a Globo, a Folha não fussaram a vida do prospéro criador de gado? Com certeza, encontrariam podres. Aliás, se a gente fussar a vida de qualquer politico no Brasil vamos encontrar podres. Todos eles os possuem. Sem excessão. Do senador Agripino Maia, lider do DEM, à Heloísa Helena, DO psol, todos são comprometidos com alguma coisa. É só investigar. Coisa que jornalista quando quer, sabe fazer.
Agora, o caso é que Renan é um dos principais aliados de Lula, e o que eu vi como espectador é que procurou-se atingir o governo, que inclusive foi absolvido nas urnas, através desse episódio. Quer dizer, que hoje, Renan por ser aliado de Lula não presta? Mas, quando aliado de FHC era um baluarte da justiça? É brincadeira. Outra coisa: não vivemos em uma democracia? O Senado poderia cassar ou absolver. Duas opções dentro do jogo democrático. Preferiu absolver. Cabe quem perdeu - a mídia e a oposição - aceitar a decisão e ponto final. A vida continua. Numa democracia as decisões dos orgãos constituidos devem ser respeitadas. O Senado é soberano. E nesse episódio não aceitou faca no pescoço. Sei que Renan não é santo. Mas, a mídia e essa oposição também não é.
Um abraço.
Márcio, permita-me uma crítica: você trata a questão usando a mesma linha de defesa do governo.
O "renangate", muito embora tenha servido de motivo para a explosão de denúncias da grande mídia, que partidarizou sua posição - e nisso estamos de acordo - não foi "denuncista", no sentido irresponsável do termo.
Renan deve. Deve muito: impostos à Receita Federal, contribuições ao INSS, explicações à população. O fato de a mídia ter aproveitado as falcatruas do senador para verter tinta acusando "mais um escândalo de corrupção do governo Lula" não justifica a absolvição.
Afinal, entre imprensa, oposição e governo, o único que se estrepa (para não usar palavra mais pesada) é o povo. E aí nós nos incluímos.
"Mutatis mutandis", como diz o juridiquês, os argumentos do debate maniqueísta que vem ocorrendo no Brasil, fundado na relação conflituosa entre a grande mídia e o governo Lula, também se prestam para justificar, por exemplo extremo, a morte de alguém por seu mau-caratismo. E quem deu a partida para tal debate não foi ninguém mais, ninguém menos, que o próprio "grande líder da Nação", ao alegar ridiculamente, na entrevista de triste memória concedida em Paris, que o uso de "receitas não contabilizadas" era comum no país, e que o PT, no caso do mensalão, nada mais fizera que usar das mesmas "prerrogativas" dos demais partidos.
O maniqueísmo se manifesta, por exemplo, na forma como a classe média debate os fatos: ou se é a favor, ou se é contra o governo. Ou se é PT, ou se é contra. Entre estas duas opiniões, uma enorme bruma separa as nuances que seria imprescindível enxergar, mas ninguém enxerga.
Neste assunto, da absolvição de Renan Calheiros, não importava a que partido ele pertencia; se sua cassação interessava ou não à imprensa; se o governo sairia ou não enfraquecido: ele tinha que ser cassado. Ele é improbo, é amoral, é um salafrário. Um ladravaz. E isto basta para que ele não possa presidir o Senado. Ou você discorda?
Marcio, em minha atividade docente denuncio, dia a dia, o desserviço que a imprensa causa à nação e tenho afirmado, inclusive, que sua meta tem sido emburrecer os brasileiros. Evidentemente, no agora chamado Renangate há muito que se criticar sobre a atuação da imprensa. E, do ponto de vista da independência das instituições, concordo que o Senado não poderia aceitar a faca no pescoço para decidir. A despeito disso tudo, Calheiros é uma síntese do mau político brasileiro, safado de marca maior. Tinha que ser cassado, com ou sem imprensa, porque fez por merecer.
Portanto, embora seja uma análise oportuna, não considero que ela deva estar em foco sempre.
O Senado é soberano - soberanamente podre. Isso não há imprensa que mude, para melhor ou pior. Logo, sustento o que disse.
Francisco, acho que não percebeste o tom irônico do meu texto. É claro que não concordo que Calheiros seja qualificado para nada além do mal e, de modo algum, corroboraria os argumentos usados pelo governo no caso. Ratifico tudo o que escreveste. Ele não tem que presidir o Senado.
Meu texto foi apenas um deboche amargo. Mas não é isso que a política nos dá todos os dias? Deboches?
Caro Yudice e caro Francisco, não tenho nenhuma dúvida em afirmar que Renan Calheiros é um típico politíco adepto à praticas não recomendáveis. A maioria deles, sem excessão, age dessa forma. Agora, penso que no Renangate, houve sim partidarização da cobertura por parte da mídia. Foi isso que critiquei. Se dependesse de mim esse Senado seria fechado. Aliás, bastaria um Parlamento unicameral. Sobre o processo de cassação penso que ali só tinha duas alternativas: cassar ou absolver. É a regra democrática. Palhaçada foi quem se absteve, como o Mercadante. Ou é ou não é. Agora, o que é errado, e isso é que a mídia apresenta, é que só vale se Renan fosse cassado. Ora, num Estado de Direito a lei vale para todos ou não? Saudações.
Yúdice, entendi teu tom irônico, com toda certeza. Concordo 100% com o que disseste.
Minha crítica foi ao que disse o Márcio, e tão somente a isso - tantoque dirigi meu comentário a ele. Tenho certeza que ele concorda que o Renan "Calhorda" tinha que ser cassado. O que aduzo, e veementemente, é que este episódio não é apropriado para discutir a partidarização da imprensa, justamente porque desfoca do principal: o de que o Senado é hoje presidido por alguém que em nada difere do Fernandinho Beira-Mar. Talvez somente por homicídio não constar dentre seus crimes.
Márcio, insisto: a discussão sobre o papel da imprensa, no caso Renan, não importa. O argumento do governo é justamente este, e visa desfocar o debate de seu ponto principal.
Abs a ambos.
Ih, Francisco, é verdade: escreveste o nome dele. Desculpa, não percebi. Mas achei o debate ótimo. É isso que valoriza o blog: pessoas inteligentes e uma discussão de nível. Estejam sempre por aqui.
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