segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Inglês no Ver-o-Peso

Quando tomei conhecimento do convênio entre a prefeitura de Belém (temos prefeitura, embora não prefeito) e a Universidade da Amazônia, para que os feirantes do Ver-o-Peso recebam aulas de inglês, achei a medida interessante, mas talvez inoportuna. Meu argumento: há necessidades muito mais prementes em nosso maior cartão postal, que vive um cotidiano de absoluta desorganização e grande insegurança. Os feirantes e as adoráveis vendedoras de ervas, falando inglês, não atrairão mais turistas. Não há condições de o turismo se desenvolver num ambiente caótico. Basta ver que, para visitar a feira, os turistas se reúnem em grupos e passeiam cercados por uma rede de segurança. Convenhamos, é uma lástima.
Todavia, minha opinião mudou um pouco. Procurei informações sobre o convênio na página da Prefeitura, mas não encontrei nada — apenas notícias elogiosas ao sedizente. Então acessei o sítio da UNAMA e, ali sim, a notícia aparece. Foi quando topei com um artigo da Profa. Amarílis Tupiassú, comentando uma carta que algum leitor conseguiu ver publicada no jornal O Liberal. Não li a carta e desconheço seu conteúdo. Fiquei apenas com a visão da mestra, mas suas palavras lúcidas foram suficientes para me influenciar.
Ainda acho que feirantes falando inglês são um paliativo de pouco impacto, mas agora entendo que a iniciativa deve ser levada adiante e torço para que surta todos os efeitos esperados. Ainda mais porque a coordenadora do projeto é a competente e dedicada Profa. Lourdes Nogueira, minha colega, que tem os pés firmes no chão e conhecimento da vida e do mundo, aspectos que certamente contribuirão para que as aulas de inglês não sejam apenas aulas de inglês, mas uma forma de atuar positivamente na vida dos feirantes e suas famílias.
Sucesso a todos os participantes do projeto.

8 comentários:

morenocris disse...

Caramba...se todos pudessem fazer o "mea culpa" como você faz...o mundo seria da verdade!

Beijos.
Boa semana.

Yúdice Andrade disse...

Apenas vi o assunto sob uma dimensão maior, Cris. Por isso é tão bom confrontar nossas opiniões com as alheias. Muitas vezes, escrevo aqui no blog com a esperança de que alguém me forneça subsídios para, até mesmo, mudar a minha opinião. E algumas pessoas têm sido muito úteis nessa empreitada. Abraços, querida.

Anônimo disse...

Yúdice,

desculpe fugir um pouco do assunto da postagem, mas hoje no liberal um artigo minimamente sugestivo sobre a crise do clube do Remo e que demonstra que nesse estado, uma modernização nos princípios de gestão é algo para ontem. Sem maiores comentários, eis a descrição da hilariante postura do vice-presidente do clube:
"O empate com o Avaí, depois de o Remo estar vencendo por 2 a 0, foi um soco no estômago da diretoria azulina. Ontem pela manhã, o vice-presidente do clube, Guto Age, determinou que não haverá mais tolerância para atitudes subversivas no Baenão. Quem estiver propenso a manter a greve debelada na semana passada, será afastado do plantel e terá o contrato rescindido, apesar de o dirigente confirmar que ainda não tem uma posição definitiva sobre quando os três meses de salários atrasados começarão a ser pagos. 'O Remo não tem dinheiro, mas vamos conseguir e pagá-los. Coloquei isso aos jogadores, um a um', disse Guto, que cogitou renunciar ao cargo."

Será que isso é complexo demais para a minha parca inteligência? Ou alguém pode me esclarecer melhor o que o quase demissionário vice quis transmitir aos jogadores, que mesmo sem receber salários devido problemas administrativos, devem, ao contrário dele mesmo, permanecer no clube? Eu, mesmo sem ser remista, agradeço pelo auxílio na solução deste enigma.

Com os melhore votos

Roberto Barros.

Yúdice Andrade disse...

Caro Roberto, gratíssimo pelo interesse pelo blog. Espero que esteja sempre por aqui. Infelizmente, contudo, você escolheu a pessoa que menos sabe e menos se interessa por futebol para formular o seu questionamento. Honestamente, nem sei o que lhe dizer. Como jurista, só posso lembrar que os riscos do empreendimento não podem ser transferidos aos funcionários. Eu não posso ser pago quando o chefe tiver dinheiro. Afinal, comer, comemos todos os dias.
A meu ver, deveria haver algum tipo de intervenção que bloqueasse o desfrute dos clubes e seus dirigentes enquanto a folha de pagamento não fosse saldada. Mas isso pode ter relação com o fato de que não me interesso pela existência desses clubes. Então, de fato, não sei o que lhe responder. Lamento.
Também espero que minha aversão por futebol não me custe as suas gentis visitas.

Frederico Guerreiro disse...

Eles erraram de língua. A galera lá do Ver-o-Peso está mais para o francês.

Anônimo disse...

Caro Yúdice,

obrigado pela resposta. Em verdade a minha intenção não era discutir futebol, mas por estarmos no Brasil e segundo o meu modo de entender, a mentalidade gestora do futebol revela muitos traços que também estão presentes no imaginário brasileiro, mais particularmente no político.

O meu comentário foi um pouco abrupto, mas eu achei o raciocínio do dirigente tão terrivelmente hilário, que escrevi espontaneamente. Ele demonstra com muita clareza toda a hipocrisia administrativa que nós também constatamos no Estado, mas com um grau maior de anacronismo.

Quanto a sua falta de interesse por futebol, isso em nada poderia influenciar as minhas visitas ocasionais e comentários no blog, até mesmo porque a minha aversão por novelas também não foi motivo para isso.

com os melhore votos.

Roberto.

Yúdice Andrade disse...

Fred, dizem que é a herança cametaense!

Roberto, grato pela compreensão. Eu também escrevo de modo muito espontâneo. Tem sido um exercício, aqui no blog, a preocupação em manter o foco. Divertido o seu comentário sobre novelas. Bom saber que há viva fraternidade entre nós.

Vladimir Koenig disse...

Yúdice, também pensava como você: existem coisas mais prementes a se resolver no Ver-o-peso.
Contudo, topei, um dia desses, em Salvaterra (estou trabalhando lá), com um sul-afriacano que veio a pé de São Paulo e seguirá da mesma forma Amazônia adentro (quer conhecer a Amazônia e seus encantos a pé, sem pressa. Cada um curte as férias da forma como acha melhor...). Batendo um papo com ele descobri que sua maior dificuldade não é andar no sol, a pé, dormindo em postos de gasolina ou em sua barraca de camping. O que mais lhe causa transtorno é a dificuldade de se comunicar. Pensei com os meus botões e disse-lhe que isso seria natural pelo interior (pobre) de TO, MA, PA (locais por ande já passou) e AM, AP, RO e AC (locais por onde irá passar). Ele disse que isso era esperado quando planejou a viagem. Só não havia planejado a mesma dificuldade em Belém. Disse-me que passou pelo Ver-o-peso, shopping, praça da República e outros lugares "de turista" sem conseguir muito sucesso na comunicação. Foi para ele uma surpresa encontrar alguém em Salvaterra (eu e o dono da pousada que estou morando) falante (ainda que mal! hehehe) do inglês. Mas uma coisa mesmo me impressionou ainda mais: ele não estava conseguindo trocar seus travelers-checks!!! Isso numa cidade que quer ter algum lucro com o turismo!!!!!
Por esses motivos, passei a ver a questão (assim como você) com outros olhos.
Abraços,
Vlad.