segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Qual é a maior estupidez brasileira?

De novo, o grande Gilberto Dimenstein:

Começa nesta semana um programa gerido por médicos da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) para diminuir o espantoso número de estudantes que, por causa de doenças simples de serem tratadas, têm dificuldades nas escolas. O programa é patrocinado pela prefeitura de São Paulo, previsto para atingir todos os alunos da rede municipal. Faz dois meses que os médicos da Unifesp (antiga Escola Paulista de Medicina) desenvolvem um piloto numa escola e encontraram uma galeria de horrores. É como se crianças estivessem apodrecendo por falta de tratamento médico. Algumas doenças são de fácil resolução como baixa acuidade visual e de audição. A taxa de sobrepeso é de 30%; 60% têm cáries. O que os médicos estão constatando ocorre em todas as escolas brasileiras --e ocorre porque não se consegue um melhor entrosamento entre as áreas de educação e saúde. Estamos falando aqui de um problema que, segundo as estatísticas, atinge 40% dos alunos da rede pública. Ou seja, algo como 25 milhões de estudantes. Sei de meninos tratados como surdos, mas que não limpavam o ouvido. E de outros considerados retardados pelos professores, mas que tinham distúrbios psicológicos provocados pela violência doméstica. Há disléxicos considerados burros. Ou anêmicos chamados de preguiçosos. Não é fácil eleger a maior imbecilidade brasileira, tamanha a oferta de candidaturas. Pelo impacto social, meu voto vai pela falta ou precariedade de programas de saúde escolar. Só um estúpido completo é capaz de imaginar que vamos melhorar nossos indicadores educacionais com crianças que não ouvem e não enxergam direito. PS- Se Gilberto Kassab conseguir tocar esse projeto, terá realizado sua maior contribuição à cidade de São Paulo. Muito maior do que a Cidade Limpa que, apesar de seus méritos, é uma obra de fachada. Não existe pior poluição do que a falta de saúde e a falta de educação. Se bem sucedido (o que, em se tratando de poder público, é sempre uma dúvida), a Unifesp poderá disseminar esse modelo em todas as grandes cidades, onde, em geral, a saúde escolar é, quando existe, pífia.

3 comentários:

Anônimo disse...

Tenho miopia: 3,0 graus no olho direito e 3,5 no esquerdo. Descobri o problema na pré-adolescência, há cerca de 25 anos, por meio da escola.
Nada a ver com dificuldades de leitura que atrapalhassem meu desempenho. Foi numa consulta regular, feita semestralmente por médicos públicos, para verificar a capacidade ocular e auditiva e os dentes da molecada. Constatado algum problema, os pais eram imediatamente avisados, para as providências cabíveis. Assim comecei a usar óculos - que, muito tempo depois troquei por lentes.
A escola era pública. O serviço médico, repito, também: oftamologistas, otorrinos e odontólogos não custavam um centavo além daqueles já pagos por impostos dos cidadãos. Rotina semestral, insisto; em todas as escolas da comunidade, frise-se. Algo parecido com o que está fazendo agora a Unifesp, só que com 25 anos de atraso.
Em tempo: a escola era na França, onde tive a oportunidade de morar por 3 anos...

Frederico Guerreiro disse...

E o que fazer então com os alunos, que, como eu, não conseguem entender o que os professores estão querendo saber na prova?

Unknown disse...

Frederico, para isso, um número parecer ser bem útil: o zero.
hehehe.

Bem, essa matéria mostra bem a diferença de desenvolvimento social existente em um mesmo país. O Brasil é um exemplo de que o ser humano pode ser muito mesquinho. No Brasil, há segregação, desequilíbrio latente entre regiões (sul>sudeste>centro-oeste>nordeste>norte), , estados, cidades, bairros... E por aí vai...

No sul, há lugares que você se sente no primeiro mundo. Quem já foi sabe. Aqui, tem lugares que você se sente nos confins da África.

A saúde é melhor, a educação é melhor, enfim quase tudo é melhor. Medidas como essas podem não parecer muito importantes, mas aumentam a eficiência da educação. E educação, como todos já sabem, "é a base de tudo".

Chega de falar de coisa ruim...

Parabéns para a iniciativa.