quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Um sincero desabafo

Ontem, ao final da aula da noite, uma aluna se aproximou de mim e soltou seu desabafo: "Não aguento mais essa violência em Belém! Alguém precisa fazer alguma coisa!"
Os motivos da irresignação: cinco membros de sua família já sofreram sequestro-relâmpago e, ontem mesmo, pela manhã, ela e seu pai assistiram ao assalto à mão armada de um motorista que conduzia o carro parado bem na frente do deles.
Imagine o pânico dessa moça, presenciando a cena e se sentindo ela mesma ameaçada. Já passei por algo semelhante, parado num sinal fechado, quando vários policiais militares cercaram uma dupla, numa motocicleta. Eles haviam acabado de assaltar a Cairu da Oliveira Belo e foram alcançados na Generalíssimo Deodoro com José Malcher, onde eu estava calmamente, começando o meu dia. É realmente assustador. Quando dei por mim, eu estava com as mãos para o alto, dentro do carro, num patético apelo para não atirarem em mim.
Está bastante claro que o cidadão comum se sente, realmente, inseguro diante do atual estado de coisas. E impotente. A conclusão óbvia é de que, por enquanto, nenhuma medida de segurança pública foi eficaz no combate ao crime. Talvez a imprensa esteja divulgando menos, porém a incidência não parecer ter caído. Aliás, a julgar pelo que me disse um dos meus orientandos de TCC, que está pesquisando sobre segurança pública e teve acesso a dados estatísticos da Polícia Civil mais atualizados do que os divulgados no final do primeiro semestre, os números são de fato maiores do que pensamos.
Se o governo não está sendo eficiente, qual será o papel da sociedade civil? Reivindicar? Protestar? Mas quem fará isso? Apenas as vítimas da violência, como o Movimento Viva Lauande? Como tirar o cidadão comum de sua cadeira para agir, antes que ele mesmo se torne uma vítima?

6 comentários:

Anônimo disse...

Yúdice,

Acredito que o primeiro passo é urbanizar os bairros localizados próximos ao centro (Guamá, Terra Firme, Jurunas, Condor e outros), pois esses locais são um emaranhado de becos, vielas e passagens estreitas, que constituem uma verdadeira escola do crime.

Mais do que urbanizar, é preciso CIVILIZAR. Levar educação e novas perspectivas aos nossos jovens, que hoje estão largados à própria sorte.

Não sou partidário do prefeito Duciomar Costa (na verdade, nem gosto dele) mas não posso deixar de reconhecer os méritos do grandioso projeto Portal da Amazônia, que promete dar uma nova cara à periferia da cidade. Por mais que o Dudu seja trapalhão, ao menos ele tem se esforçado para criar soluções para os problemas de Belém.

Se o cronograma de obras não atrasar, e com a valorização imobiliária prometida por esse projeto, é possível que um bairro como o Guamá seja elevado ao status de "bairro nobre" num prazo de 30 anos. Assim, a bandidagem que hoje predomina lá vai residir cada vez mais distante do centro da cidade.

Gostaria muito de ver um Guamá com ruas e avenidas planejadas como o Marco.

E sabe outra coisa que eu não entendo? Como é que a presença da UFPA no Guamá - por onde circulam diariamente doutores e especialistas das mais diversas áreas - ainda não conseguiu transformar a realidade do bairro???

É uma questão que a comunidade acadêmica da UFPA precisa responder.

Grande abraço!!!

Adelino
COISAS DE BELÉM
http://www.coisasdebelem.blogspot.com/

patricia teixeira disse...

A pergunta que não quer calar Yúdice. Como? O problema é que a sociedade de hoje não é acostumada a lutar. Quantas vezes deixamos de reivindicar direitos?
E infelizmente quando reivindicamos,não é pelo conjunto, é só depois do pior ter acontecido conosco.
Tiro por mim, quantas vezes anúncios dos meios solicitaram doação de sangue e eu sempre disse que iria e nunca encontrava tempo. Só quando precisei de um transfusão recentemente, que pude ver a gravidade e a precisão deste sistema.
Assim acontece com a violência. Será que só vamos tomar alguma atitude só quando a situação for mais extrema do que já é?

Abrçs.

Frederico Guerreiro disse...

Não há retorno. A tendência é piorar, pelo menos nos países tidos como "em desenvolvimento". O estágio a que chegou o modelo de mercado causa a redução do Estado e a relativização das garantias fundamentais do cidadão.
Aguardem e confiram.

Yúdice Andrade disse...

Concordo contigo, Adelino, quanto à necessidade de urbanizar os bairros mencionados, como forma de melhorar a segurança pública. Essa viagem de membros do governo à Colômbia, agora, se baseou justamente na idéia de conhecer o projeto que, graças a intervenções urbans, ajudou a derrubar a criminalidade naquele país.
Só não acho que empurrar os criminosos para longe do centro seja uma solução. Isso seria bom para a classe média, mas péssimo para a periferia. Logo, não seria justiça social.
E, definitivamente, não acho que o sedizente prefeito de Belém tenha qualquer idéia. Que dirá boa.

Pattriótica, essa inércia tem sido a tônica desde que ninguém mais precisou pegar em armas contra o regime. Não há como desmentir que a sociedade brasileira está desmobilizada para qualquer fim útil.

As tendências são as piores, Fred. Concordo. Mas se desistirmos completamente, como seguir vivendo? Só esperando a bala nos achar?

Anônimo disse...

Enquanto continuarem tratando segurança Pública como caso de polícia as coisas piorarão!!! Por que ninguém aprende com a História?

Eu aidna enxego uma luz no fim do tpunel, espero que não seja o trem hehe

Abraços Primo!!!

Yúdice Andrade disse...

Disseste tudo, Jean: segurança pública não é e não pode ser tratado como assunto estritamente policial. Não é à toa que o problema não se resolve.