Eu numa roda de amigos, com a minha indefectível Coca-Cola. A primeira desce rápido, para conter a ansiedade. Depois começo a saborear o líquido escuro que, gelado, faz mal à garganta e, em qualquer situação, corroi o esmalte dos dentes e vergasta as paredes estomacais. Doce, engorda e não possui valor nutricional.
Do outro lado da mesa, o amigo toma a sua indefectível cerveja. Para ele, lazer sem cerveja simplesmente não existe. São conceitos interdependentes.
As horas se passam e eu, cedendo a um impulso, peço uma terceira latinha vermelha. Justifico-me com a esposa que é por causa do jantar. Quando terminar de sorvê-la, terei ingerido 1.050 mililitros do refrigerante e, provavelmente, não colocarei mais nada na boca além de água.
Mas as cervejas do amigo continuam se avolumando. Entre um tira gosto e muito papo, as garrafas vão-se sucedendo. Não sei quantas já foram. Ele está alegre, agitado, e ri com gosto. Seu hálito denuncia o álcool. O meu não denuncia nada. Afinal, se é verdade que Coca-Cola serve como desinfetante e tira-ferrugem, neste momento minha boca é apenas um caldeirão de açúcar que, convenhamos, não cheira que se perceba. Meu temperamento, também, está rigorosamente igual ao da hora em que cheguei, exceto pela vontade crescente de ir para casa.
Lá chegando, uma boa escovação nos dentes e língua, um banho e cama. Acordo tranquilo e bem disposto. Durante o dia, porém, fico sabendo que meu amigo passou mal. Chegou em casa e caiu na cama do jeito que estava. Acordou no dia seguinte quase ao meio dia, com uma brutal dor de cabeça. A boca amarga. Ao longo de todo o dia, nada fez além de permanecer deitado e tomar remédios. Questionou se a comida não estava estragada.
Sinceramente, não consigo entender como alguém pode se divertir assim. Não, não tente esclarecer. Prefiro continuar não entendendo.
Esta postagem foi escrita em intenção das 101 pessoas que morreram nas estradas federais de todo o país, de quinta-feira até ontem, simplesmente porque saíram de casa para curtir o feriado. Que espécie de diversão é essa que, por imprudência evitável na esmagadora maioria dos casos, acaba em morte?
10 comentários:
Grande parte da culpa, na minha opinião, é da mídia. Se não houvesse veiculação em massa intencionalmente direcionada aos fracos de personalidade, as drogas liberadas poderiam ser facilmente extirpadas da nossa cultura.
Tens razão, Ivan. Mas a imprudência a que eu me referia eram o excesso de velocidade e as manobras irresponsáveis. Contudo, o texto focalizou demais na bebida. Enfim, ambas as coisas valem.
E lá fica clara a velha máxima do "day after" com perturbações intestinais:
"porcaria de azeitona. Só porque eu tomei 32 cervejas!"
E o outro lá pergunta: como é que pode um sujeito se divertir assim? Vai a um barzinho, passa a noite toda enchendo o bucho de refrigerante e achando que já está na hora de ir para casa, e chega no dia seguinte fica falando mal do amigo que já paga o seu preço. Isso é diversão?
Agora falando sério. Álcool e direção são a guerra das guerras em nossas estradas. Enquanto for permitido estimular tais comportamentos por meio da publicidade, não haverá armistício.
Frederico, assino embaixo. Dos dois comentários... hehehehehehe!
Ahahahahah!
É verdade, Fred.
O Yúdice parece estar algo rigoroso ultimamente...
Abs à todos!
Amigos, não ando rigoroso ultimamente, não. Na verdade, sempre fui assim, só estava escondendo de vocês...
A bonis bona disce. Effectus durat, durante causa. Efficacior est omni arte immines necessitas, ab uno discant omnes.
Parabéns pelo magistral raciocínio.
Se gosta do latim, debruça-te acima.
Abs
terei que me debruçar, mesmo, Val-André. Só entendi o meio da expressão. Mas agradeço mesmo assim.
"Dos bons aprende-se boas coisas. Mais eficaz do que qualquer ciência é a necessidade iminente, por um, aprendam todos."
Eis a tradução. Adoro latim. É o que mais gostei quando estudei no Colégio Nazaré ai em Belém.
Abs
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