segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Reflexo dos desvios de caráter

Ontem à tarde, convidei uns amigos que nos visitavam para me acompanhar no passeio com os cachorros. Tenho um casal de goldens retrievers e minha mãe, uma fêmea de pastor alemão. As duas fêmeas ainda são filhotes, ambas com cinco meses. Enquanto caminhávamos, passou por nós um rapaz de porte físico mediano, levando pela coleira um pit bull bastante marombado que, ao ver nossos cães, avançou em nossa direção. O dono, contudo, puxou-o e lhe disse alguma coisa. O animal respeitou e seguiu seu rumo sem problemas. Sorte nossa, claro, pois se quisesse atacar estaríamos indefesos. É o tipo de situação em que superioridade numérica pouco ou até nada significa.
Hoje, olhando as notícias do país, encontrei mais um caso de ataque de pit bull. E observei, também, que nos últimos dias houve uma grande quantidade deles. Deve ser por causa do mês do cachorro louco. O fato é que, num curto espaço de tempo, muita gente foi atacada, em vários cantos do país. Houve mortes, inclusive de crianças.
Lembro-me que, quando criança, escutava com frequência dizerem dos dobbermans o que hoje se diz dos pit bulls. Criou-se uma mística em torno dos dobbermans a tal ponto que foram rareando e hoje nem se ouve mais falar deles.
Cachorros são animais domésticos e, como tal, reagem à forma como são tratados. Evidentemente, há diferenças de temperamentos entre raças. Umas são naturalmente mais violentas do que outras. Não se espera que um labrador ataque, mas vi no canil da Polícia Militar um que reagiu a minha presença com mais agressividade do que os rottweilers, porque aprendeu a violência no ambiente em que cresceu. Do mesmo modo, sei de um pit bull dócil a ponto de tomar conta de um bebê, nascido quando ele já era adulto.
Segundo os especialistas, as raças caninas que conhecemos hoje são todas resultantes de cruzamentos feitos propositalmente pelo homem, a fim de obter animais com características específicas. O pit bull é um caso grave. Foi construído a partir da fusão de cinco raças, extraindo delas a força, a alta resistência à dor, a ausência de medo e o péssimo temperamento. Em suma, foi feito para ser mau. Nem por isso, claro, se criado por pessoas decentes, deixa de ser um animal agradável e seguro.
Eu defendo os pit bulls. Sou contra os projetos de lei de castração compulsória, cuja finalidade é a extinção de certas raças. Sou solidário às pessoas de boa fé, que gostam dessas raças — eu próprio gostaria de ter um rottweiler, também na mira dos exterminadores. Só lamento que haja tanta gente doente, sociopática, que use esses animais para dar vazão a seus primitivos instintos de maldade.
Quem anda pela rua com pit bulls arrastando pneus ou mordendo cocos, para citar apenas duas sandices que vi pessoalmente, age com a intenção nítida de produzir feras sanguinárias. Para quê? Para compensar suas frustrações sexuais ou, talvez, sua inaceitação do tamanho de certas partes do corpo? Ou talvez seja uma sanha assassina, mesmo, prestes a eclodir através do cachorro, assim que alguém o contrariar?
Não exterminem os cães. Examinem a cabeça e a personalidade de seus proprietários. Dependendo do que manifestem na perícia, eles é que deviam ser exterminados.

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