Convenhamos, só existe polêmica em torno da operação "Cadê seu filho?", das polícias e instituições de assistência à infância e juventude, porque o Brasil é a terra do oba-oba, onde as pessoas têm a mania de exprimir a vida na perspectiva da malandragem, da farra, do samba, suor e cerveja. E o Pará leva isso bem longe.
Mas essa operação, se inaugura alguma novidade, é apenas a forma de enfrentar um problema sério. Porque a legislação que a embasa, nomeadamente o Estatuto da Criança e do Adolescente, é de 1990, ou seja, há nada menos que 17 anos ações desse gênero deveriam ter sido iniciadas. Se tivessem, é provável que os índices de criminalidade envolvendo menores, nos polos ativo ou passivo, fossem menores.
Claro que não falta quem seja contra. A começar pelos adolescentes, que precisam curtir a vida. E a vida só pode ser aproveitada nos bares, casas noturnas, pegas automobilísticos e na experimentação de álcool e outras drogas — além de beijar muuuuuuuuito. Beijos e o que se segue.
Os donos desses estabelecimentos também são contrários e nem preciso dizer o motivo.
Quem caça a meninada na noite, a fim de acabar nos motéis e escurinhos da cidade, também é contra. Afinal, isso diminui as oportunidades de sexo casual. E de aliciamento, prostituição, estupro, etc.
Até o presente momento, não vi um só argumento contra a operação que pudesse ser, ainda que remotamente, considerado sério e honesto. Até aqui, e a menos que me provem o contrário, está contra quem lucra algo com a situação de risco dos jovens, consoante a nomenclatura consagrada.
Pode até ser que os números da operação não sejam tão positivos e que haja um certo hiperdimensionamento deles, para valorizar a ação e reduzir resistências, bem como para ser usado em favor do governo. Pessoalmente, porém, acredito que as ocorrências tenham mesmo caído em 66%, como oficialmente declarado pelo delegado responsável. E mesmo que tivessem caído em 2% ou 3%, já teria valido a pena.
Faço votos de que a operação vire mesmo uma campanha permanente e produza tudo de bom que pode nos oferecer.
Uma provocação final: sabe o que pode ser mais impactante nessa operação? Se os adolescentes não puderem estar nas ruas após as 22 horas, sem um responsável, as famílias serão acionadas para lhes proporcionar diversão e bem estar. E este é um dos grandes dramas atuais: a incapacidade de relacionamento das famílias. É como aquela metáfora: se a TV não funciona, isso significa que teremos que conversar uns com os outros?
Qual será o maior legado da operação "Cadê seu filho?" As famílias olharem para si mesmas?
2 comentários:
Acho que a presença de Estado também, além disso. Pode ser um dos caminhos. Vamos torcer. Isso é um movimento, quero dizer, as águas estão se mexendo, do outro lado.
Beijos, Yúdice.
Admiro suas reflexões.
Fiquei pensando sobre isso quando vi a matéria no jornal.
Então estamos voltados aos mesmos anseios, Cris. Espero que sejamos contentados.
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