quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Socializando o quê?

Dois sábados atrás, uma família residente no brioso Médici I, o mais antigo conjunto residencial de Belém (1970) e outrora um lugar absolutamente pacífico, foi surpreeendida à meia noite com a chegada de assaltantes armados. Renderam as vítimas e mandaram que elas mesmas carregassem os objetos de valor que seriam levados. Tudo foi posto na mala de um carro. Na saída, um deles chegou a empurrar a filha adolescente dos donos da casa sobre uma cama, fazendo ameaças. O pai pediu que a menina não fosse molestada. O bandido atendeu, mas bateu no queixoso. Em seguida, fugiram.
Era para ser mais um desses assaltos que ficam impunes, porque o sistema de segurança pública do Pará (e talvez de todo o Brasil) utiliza, para reconhecimento de criminosos, meios arcaicos ao ponto do ridículo. Se a fotografia do seu agressor não constar do livrinho do delegado, esqueça. Mas os delinquentes foram traídos pela própria ganância.
Do Médici, foram direto ao Conjunto Costa e Silva, para um novo assalto. Como a polícia já fora acionada pelas vítimas anteriores, acabou topando com eles no segundo lugar de crime e o bando foi preso. Na mala do carro, os objetos roubados, garantindo um flagrante delito seguro o suficiente para que a turma responda ao processo na prisão.
Na delegacia, descobriu-se que todos os assaltantes eram maranhenses. Um deles, foragido da polícia e considerado perigoso. Na boa, deviam inventar jurisdição para assalto: cada meliante só pode assaltar no seu Estado de origem. Algum senador devia propor uma lei com essa finalidade. Afinal, como senadores e assaltantes têm, digamos, algumas afinidades, talvez até desse certo.
A Constituição de 1988 afirma que, dentre os objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil, está "erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais" (art. 3º, III). Para cumprir isso, seria necessário socializar riquezas e oportunidades.
Mas neste país somente se socializa miséria, violência e crime.

3 comentários:

Frederico Guerreiro disse...

...rssss. Jurisdição para assalto? rsss... boa, muito boa. O problema seria ter de amargar a interdição da Alm. Barroso, da Br e da Aug. Montenegro pela passeata de protesto contra a lei. rssss...

Anônimo disse...

As vezes tenho a impressão de que o país é de certa forma "pacífico" se analisarmos a quantidade de mazelas e a desproporcionalidade de renda entre os cidadãos!!!

Prisão como ressocialização é utópico sob o ponto de vista da atual mentalidade social. Não consigo imaginar que um ex-detento vá deixa de ter a mácula de tal "qualidade", mesmo que tenha cumprido sua pena de forma exemplar, tenha feito algum tipo de trabalho que inclusive o qualificasse, enfim que cumprisse com todos os requisitos que atendam a ressocialização.

Mais um motivo pelo qual acho que não se pode vislumbrar horizontes menos sombrios é o fato da maioria "querer" ver o sofrimento alheio, "regalias" aos presos? Muitos acreditam que o presídio é uma colônia de férias, no qual a pessoa tem um quarto para si, um trabalho, come no mínimo 3 vezes por semana e pasmem, um dizem até que possuem segurança. Em troca disto: "somente" a liberdade.

Ai como vivemos num dito regime democrático (que costumo chamar de governo do Demo hehe) a vontade dos "grandes" prevale, travestida de regra da maioria.


Abraçaao Primo!!!

Yúdice Andrade disse...

Fred, eu posso chutar como for, mas tu sempre pisas em cima. Essa tua tirada foi ótima!

Jean, tocaste num ponto essencial: quem é essa maioria que decide? Para quem decide? Com base em que decide? Solucionar isso abriria portas para muitos problemas brasileiros.