sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Linha de produção

Há alguns dias, uma aluna foi expulsa de um cursinho preparatório para o exame de Ordem — e não foi gentilmente. Numa sala com cerca de 70 alunos, foi-lhe dito apenas "vá embora do meu curso". E "passe na secretaria e pegue seu dinheiro de volta".
A jovem em questão foi uma de minhas melhores alunas, reunindo à seriedade e compromisso com os estudos um caráter forte e um temperamento respeitoso e digno. Não é, de modo algum, alguém que mereça censura pública. Seu pecado foi questionar o professor, após o final de uma aula e portanto já sem a presença da turma, sobre explicações que ele dera confusamente. Ele se contradizia. Além disso, segundo as palavras da moça, ela aprendera comigo e outros professores da faculdade a procurar soluções diversas para os problemas. Agora, no cursinho, o professor só tinha uma verdade: ou era do jeito dele ou estava errado. E o jeito dele, pelo que vi em anotações de aula, ontem à noite, confirmadas por três pessoas, continha uns tantos equívocos.
Após ser admoestada na aula por estar conversando, segundo alegado pelo "ofendido", a moça enfim questionou a animosidade. E, para justificar estar sendo perseguida, argumentou que todos os alunos haviam recebido suas peças processuais corrigidas, exceto ela. As peças que ela produziu simplesmente desapareceram. Foi nesse momento que o professor a expulsou. A meu ver, ao ser publicamente acusado de um ato de má fé do qual não podia defender-se, porque realmente não devolvera nenhum trabalho corrigido daquela aluna, deu o bote. Ficou tão nervosinho que mandou embora, também, a amiga da jovem, que saíra atrás dela.
Eu e meu colega professor de Direito Processual Penal achamos que a nossa aluna deveria processar o cursinho, perante um Juizado Especial Cível. Afinal, aplicam-se ao caso as regras do Código de Defesa do Consumidor. E um professor, que não revela o equilíbrio necessário para uma atividade que exige doses maciças de paciência, não pode afrontar dessa forma um aluno (e contratante de serviço), apenas porque — talvez seja esse o motivo — se sente amparado pelo seu altíssimo cargo público.
Não leciono em cursinhos preparatórios de nada. Já me convidaram — por sinal esse mesmo cidadão. Mas recusei, porque anteriormente já aceitara um convite de outra pessoa, para um curso de duas semanas. Cumpri o contrato e constatei o que já imaginava: detesto cursinhos. Jamais voltei a um deles.
Sem qualquer crítica aos cursinhos, por si mesmos, que podem ser realmente muito bons, o problema deles é a (i)lógica dos concursos: passar a qualquer custo. E como esses concursos começam com provas objetivas imbeciloides, a ânsia dos alunos é quantitativa: absorver o máximo possível de informações, para acertar o máximo possível de questões e passar à etapa seguinte. É o ensino linha de produção. Ou, como disse ontem outra aluna, que faz o mesmo curso e presenciou tudo, o McDonald's do Direito.
Amo o magistério porque posso parar uma aula convencional, conteudista, e instituir um debate sobre algum assunto polêmico e passar uma hora inteira só ouvindo o que os alunos têm a dizer, mesmo que nem seja uma abordagem jurídica. Posso pedir-lhes que imaginem uma situação que jamais foi pensada antes. Posso sugerir que especulemos como uma triba indígena solucionaria, p. ex., um crime violento envolvendo seus membros. Posso levar duas aulas apenas fazendo um histórico, a fim de compreenderem como e por quê as coisas são hoje como são. Isso seria impossível num cursinho, onde a abrangência é substituída pela urgência.
A docência é isso: ensinar a pensar. Enfiar informações na cachola é, apenas, linha de produção. Para isso, não me convidem.
E se você for se matricular em algum cursinho preparatório, não seja tolo de ir atrás do único discurso que os comerciantes do saber usam: tantos por cento de aprovação! Dados, por sinal, nunca muito confiáveis. Procure informar-se sobre os métodos empregados no curso e, até mesmo, sobre o temperamento dos professores. Preocupe-se com qualidade. Afinal, é a sua vida que precisa seguir em frente.

8 comentários:

Unknown disse...

Já passei por situação constrangedora em um cursinho (a única vez que fiz um). O professor tava falando uma besteira e fui, junto de outra aluna, corrigir o indivíduo. O mesmo falou o seguinte:
"Aqui não é espaço pra discussões acadêmicas".

O problema era que a questão era basicamente objetivo, dizia respeito a lei mesmo.

O pior de tudo é que fomos execrados pela maioria da turma que repetia que nem papagaio - o que é de praxe desses ratos de concurso - o que o professor dizia.

além de coisa do tipo:
"Nóis vem aqui pra decarar"
"Não é faculdade"

Bem, deu pra perceber isso.
Não aconselho, em especial, aquele Exemplo. Além da estrutura precária. Os professores são muito arrogantes e despreparados.
Qualquer aluno da Di4ta por exemplo poderia dar aula no lugar deles. Bastando para isto, ler (e decorar) os artigos, e alguma jurisprudências (só as extremamente úteis).

Ridículo.

Yúdice Andrade disse...

O que te aconteceu, Carlos, expressa exatamente o meu sentimento. A expressão "discussão acadêmica" já me dá nos nervos, porque é normalmente sinônimo de devaneios inúteis, como se o que fizéssemos na academia fosse sinônimo de bobagem. E o que seria importante, então, para esses superpragmáticos?
Gente que não sabe que por trás de cada resposta precisa existem anos, às vezes séculos de pensamento, é burra mesmo e não merece ser tratada além disso, com a complacência que precisamos ter com os deficientes mentais.

Anônimo disse...

PRimo!!!

Acho que mais uma vez somos uníssonos na forma de pensar. Também sou veemente contrário à ploriferação de cursinhos preparatórios (pinguinizadores). Se tem algo que prezo é o debate, é a possibilidade de contrapor idéias, porque aí sim há a chance de nascer novos pensamentos.
E também por isso sou totalmente contrário ao ensino à distância que sob minha análise é uma forma discarada de maximização do lucro, afinal, paga-se um professor para 10 turmas.

Grande Abraço!!!

Aldrin Leal disse...

Aqui é cripto-comentário. Não apague, mas não estou sendo muito claro e, eventualmente, alguns termos podem soar curiosos.

"Para todos e para ninguém", diria Nietzsche. Considerei postar no mnemetica, por julgar relevante, mas, quanto a isto, prefiro não ser 'indexável' pelo Google. Ele sabe até achar a vergonha nacional

Enfim. Enquanto aluno, e enquanto analista, eu procuro 'desvios de caráter'. Estereótipos. E eis que luzes amarelas acendem aqui quando a figura:

- Preocupa-se demais em ser engraçadinho<
- Preocupa-se demais demonstrar que sabe, conversa demais sobre o seu dia-a-dia profissional, e/ou vida pessoal, afim de entreter a turma
- Não procura construir explicações a partir de fatos vividos pelos alunos
- Possuem um juízo bastante bem definido sobre o que deve ser ensinado ou não, não permitindo-se sequer sugerir aonde obter tal informação, e, portanto, postando-se como a única fonte segura sobre aquela informação (à medida que ela seja do interesse do ego dele)

Enfim, quando isto me acontece no CESUPA, a medida pre-emptiva é mandar e-mail pra coordenadora.

A Luz Amarela não é, obviamente, o fator determinante. Mas me faz revirar as causas da antipatia ao estereótipo. Logo, eu começo a coletar os sintomas paralelos que, coincidentemente, envolvem horário, assiduidade, responsabilidade, bases, confiabilidade e principalmente, EMENTA DO CURSO. Eu faço o raio-x. Como ex-instrutor, nem precisa ser Super Homem, e sim Homo Sapiens. E nessas horas, eu viro muito mais sabido do que o meu caráter especial (i.e., possuir um cromossomo a mais) me permite. Pois não tem coisa pior que só apontar defeito depois da reprovação no final do semestre.

Ah, e estes caras, como os chamo? Entertainers. Artistas, sabem direcionar a atenção mas, como você bem sumarizou: Não ensinam a pensar. Enfim, se for pra ver Telecurso ao vivo, prefiro o video-tape.

E é por isso que temos ensino profissionalizante e temos bacharéis. E se você não tem a disciplina pra compreender o como e o porquê, você vira um empiro-pião (ou "pião-empírico"). E, por este motivo, eu costumo sinalizar muito bem - e a coordenação até que concorda comigo -, quando nossas diferenças criativas sinalizam que temos um professor de tele-pião na universidade noveau-richè.

Anônimo disse...

Não entendo porque o nome do senhor e do "cursinho" foi omitido?!

Yúdice Andrade disse...

Caro Jean, anotarei o "pingüinizadores". Gíria de sulista, mesmo. Só te sugiro refletir um pouco mais sobre o ensino à distância, que é uma ferramenta muito importante para a educação. Entendi o que quiseste dizer, mas o problema não está no método e sim na proposta do curso. Eu mesmo uso o ensino à distância em minhas disciplinas, como ferramenta complementar. E sabemos que há cursos inteiros sob esse modelo, que podem funcionar bem. Depende da seriedade da proposta.

Aldrin, percebi que rolou uma memória emotiva bastante pessoal em teu comentário. Louvo a tua preocupação em zelar pela tua formação acadêmica. Lamento os alunos que se limitam a atirar pedras e esses, em 99% dos casos, são os que não têm razão. Mas só posso elogiar um aluno que baseia as suas críticas na ementa do curso, nas práticas pedagógicas e que, ao invés de reclamações de má fé, procura os caminhos institucionais adequados para externar seus queixumes. Parabéns. Por sinal, há uma pedagoga muito competente lá na nossa COGRAD.

Caro anônimo, eu poderia ter citado os nomes, mas não gostaria de tornar isso pessoal - até porque, como professor, não gostaria que me acusassem de pouca ética. Se faço a crítica a uma pessoa, entendo que o efeito é menor do que se for feita ao método. Se me concentro no método, a crítica passa a valer para todos que vistam a carapuça, sem que pareça uma agressão individual. Honestamente, achei melhor assim.
Além do mais, eu não sou o parâmetro de ninguém. Cada interessado deve procurar o cursinho que melhor lhe sirva, a seu próprio juízo.

Anônimo disse...

PROFESSORA , QUEM ME DERA SER ALUNA DA SENHORA. ESTUDO NA PUC MINAS E LA TEM UMA PROFESSORA QUE LECIONA DIREITO PENAL QUE É UMA VERGONHA. PRA COMEÇO DE CONVERSA ELA RIDICULARIZA OS ALUNOS A QUALQUER DUVIDA QUE CONSIDERA INJUSTIFICADA... E TODO MUNDO MORRE DE MEDO DELA , POR CAUSA DA FAMA DE MÁ , QUE ELA , IRONICAMENTE FALA PRA GENTE QUE ADORA!!! ACONTECE QUE EU DISCORDEI DESTA PROFESSORA EM RELAÇAO Á PENA DE MORTE. EU DISSE PARA ELA QUE UM ESTRUPRADOR DE CRIANÇAS NAO MERECIA CONTINUAR VIVENDO... ELA SE ENFURECEU , PASSOU A ME MARCAR , NAO DEVOLVEU MINHAS PROVAS CORRIGIDAS , E , POR FIM , PELA PRIMEIRA VEZ NA VIDA , JA NO SEGUNDO CURSO SUPERIOR , FUI MANDADA PARA PROVA ESPECIAL POR DOIS PONTOS(ELA ME SUBTRAIU , DOS QUE EU TENHO CERTEZA ABSOLUTA , CERCA DE CINCO PONTOS NA PROVA QUE NAO ME DEIXOU VER E NA PROVA ESPECIAL 30 PONTOS) . RESUMO DA ÓPERA: OBVIAMENTE ENTREI COM RECURSO NA FACULDADE SOLICITANDO QUE FOSSE REVISADA A PROVA. ANEXEI COPIA DE LIVROS EM QUE SE BASEARAM AS MINHAS RESPOSTAS , COPIA DO CADERNO COM A MATERIA LECIONADA , CRENTE QUE A SITUAÇAO SERIA RESOLVIDA... E AÍ ME FOI ALEGADO O DIREITO DE CÁTEDRA DO PROFESSOR. OU SEJA , EU FALEI QUE 1+1=2 , A REFERIDA PROFESSORA FALOU QUE É 3 E O COLEGIADO DISSE QUE NAO PODE FAZER NADA... VOCE PODE ME AJUDAR???EXISTE ALGUM ÓRGÃO QUE PODE VERIFICAR ESTAS ARBITRARIEDADES? ME AJUDE POR FAVOR!!! OBRIGADO!!!ADRIANA

Anônimo disse...

GOSTARIA DE SALIENTAR , INCLUSIVE , QUE NO OUTRO CURSO QUE FIZ FUI PREMIADA COMO A MELHOR ALUNA...NUNCA TIVE PROBLEMAS COM NENHUM PROFESSOR... ESTOU FRANCAMENTE DESESPERADA...