sábado, 22 de setembro de 2007

Curto circuito cultural

Uma das queixas frequentes de quem vive em Belém é a falta de opções de lazer. Nesta cidade, praticamente só se sai para comer e/ou beber, daí o sucesso de bares e restaurantes. A atividade local de cantores e de teatro aumentou nos últimos anos, mas ainda não se vêem grandes espetáculos com a frequência desejada. Nossos festivais de ópera já estão no calendário nacional, mas atendem a um público específico. Assim como, a seu turno, boates, micaretas e shows musicais de brega & cia. também atendem a um público bem específico, ainda que vasto.
Em meio a insatisfações mais ou menos justificadas, o fato é que Belém tem uma vida cultural monótona para pessoas de gosto mais refinado — creiam-me, não quero ser antipático ao afirmar isso — ou que buscam diversidade.
Por isso, o Circuito Cultural Banco do Brasil chega como uma bênção para quem deseja ver, numa só iniciativa, artistas da boa música (quantos belenenses sabem quem é Mônica Salmaso?), teatro profissional, dança (que não sejam os alunos das escolas locais) e artes plásticas, como agora temos a oportunidade de ver a obra de Di Cavalcanti.
Mas alegria de pobre dura pouco. O Circuito é aberto ao grande público, mas não funciona exatamente assim. Há algum tipo de tratamento privilegiado aos clientes do Banco do Brasil, ou sei lá a quem, que compromete a correta oferta de ingressos. Um conhecido comeu o pão que o diabo amassou para conseguir ingresso para um dos eventos (não me recordo agora qual). Acabou comprando de um cambista mas, ao chegar ao espetáculo, havia lugares de sobra. Para onde então foram os ingressos? Quem compra não desperdiça, então quem está desperdiçando? E por que não há controle de cambistas?
Hoje estive no Theatro da Paz para comprar ingressos para as peças de teatro. Desisti de ver Eu sou minha própria mulher porque só havia vagas no Paraíso (que para mim deveria chamar-se Inferno). Contentei-me em comprar ingressos para o meu real objetivo — a peça Renato Russo —, que entretanto deve ser o objetivo de meia Belém: restavam pouquíssimas vagas. Comprei em camarotes de segunda, quase em cima do palco, ou seja, aquelas porcarias de onde não se enxerga quase nada — que na bilheteria são eufemisticamente chamadas de "visão parcial". Sei que vou me aborrecer, mas esse é o meu esforço para prestigir o teatro brasileiro, ainda mais porque o tema me interessa.
Uns dois ou três anos atrás, vi uma peça que o Circuito trouxe, muito boa (A vida é cheia de som e fúria, com Guilherme Weber, o Toni da novela Da cor do pecado), por isso não quis perder a oportunidade.
Enfim, será que os produtores culturais, chegando em Belém, fariam o favor de abrir as suas portas de verdade ao grande público, permitindo que os amantes da cultura pudessem adquirir seus ingressos sem problemas? Duvido que essa situação tenha sido causada por vendagem em tempo recorde. Tem coelho nesse mato. E graças a ele vamos ficando para trás.
Por que será que eventos originados em entidades públicas não podem acontecer direitinho? Se alguém puder me esclarecer, ou mostrar que na verdade estou errado, agradeço.

7 comentários:

Frederico Guerreiro disse...

É para radicalizar? Então vamos lá.
Primeiro, ator da globo não é referência de coisa nenhuma. Aliás, novela da Globo nenhuma. Segundo, o 'paraíso' no Teatro da Paz vale mais do qualquer ingresso no A Pororoca. Terceiro, Mõnica Salmaso... quem é mesmo? Quarto, a obra de Di Cavalcanti está incompleta; seus melhores quadros estão nas mãos de particulares. Quinto, a alegria de pobre é novela da Globo. Sexto, Belém só terá realmente uma vida cultural quando Robert Plant, Jimmy Page e John Paul Jones se reunirem por aqui. E ponto final.

morenocris disse...

Pois é, Yúdice. Programação maravilhosa, mas...
A reclamação era geral. Veja, Lenine no Teatro da Paz. Caramba, não tem nada a ver.
Por que esse privilégio para os funcionários do BB ? Horrível isso.
O mesmo se dá com as programações culturais promovidas pelo estado. Os ingressos são distribuídos para secretários, etc.
Temos espaços maravilhosos, como o Parque da Residência, Estação das Docas...
Vários amigos ficaram de fora também!

Beijos.

Ah! amei o título do post!

Antonio Carlos Monteiro disse...

Eu fui um deles, Tive que comprar todos os outros, pra não perder.
Metade dos ingressos do Circuito BB foram distribuídos aos funcionários e alguns clientes vip's. O público ficou só com a metade. Ora, então pra que divulgar? Se a maioria não tem prioridade...

Hoje vou levar meu irmãozinho numa peça infantil, mas ainda sim vou porque gosto. Teatro me fascina! E Belém carece disso!

abraco, e bom domingo.

Yúdice Andrade disse...

Fred, minhas impressões:
1. Não citei atores por seus papéis como referência a nada, mas apenas para que eventuais leitores soubessem de quem se trata, pois muitos atores talentosos não são conhecidos do grande público.
2. Novelas da Globo são uma referência da cultura do povo brasileiro. Se boas ou más, discute-se, mas não se pode negar o caráter de elemento cultural ao produto-mor do consumo televisivo. E, convenhamos, se atualmente a maioria é ruim, nem todas o são.
3. Chamei o "Paraíso" do TP de "Inferno" porque é desconfortável e tenho medo de altura, então não me sinto bem lá. E, sim, obviamente, é infinitamente melhor do que os lugares que citaste.
4. Salmaso é uma cantora adorável, porém não conheço seu repertório.
5. A obra de Di está incompleta, mas todas as exposições são incompletas. Gostaria de ver a parte disponível.
6. A meu ver, a verdadeira alegria de pobre é futebol.
7. Não me odeies pelo que direi, mas precisei acessar o Google para saber quem são Robert Plant, Jimmy Page e John Paul Jones, Led Zepellin é legal. Mas não creio que sintetizem uma vida cultural. Eu e o Val-André gostaríamos mais de ver o Queen. E eu, particularmente, prefiro espetáculos de música erudita. E, sim, gosto muito de uma grande quantidade dos artistas nacionais.

Cris, o motivo da postagem foi justamente reclamar dessa política de privilégios, que comecei a odiar na Fundação Carlos Gomes, quando mendigava ingressos para os festivais de música. Eu me sentia humilhado ali e, desde então, abandonei os espetáculos gratuitos. Só me freqüento os que têm ingressos pagos, porque pelo menos conservo minha dignidade. Mas no caso do Circuito BB, nem comprar se consegue. Aí é demais.

Antônio Carlos, disseste tudo. Eu queria que alguém mais confirmasse essa situação.

patricia teixeira disse...

Olá Yúdice.

Sofri o mesmo drama, do Antônio. Queria muito assistir o show do Lenine, que só vi em 2003, no Sesc, junto com Paulinho Moska, e perdi o da Bienal. Mas os ingressos "acabaram" na segunda, primeiro dia de vendas. Na verdade, segundo alguns amigos, nos bastidores do evento o clima era frustrante, segundo eles houve perda do controle de vendas.

Quanto a Mônica Salmaso, é uma cantora maravilhosa, que vai trazer à Belém belas interpretações da obra de Chico Buarque, trabalho de seu novo CD. Acompanhada pelo grupo Pau Brasil, que carrega fortes expressões do jazz em seu repertório.

Mais informações, no meu blog. O próximo post será uma canção do novo CD da Mônica, só para saber o que podemos esperar do show.

Vou linká-lo ao meu blog.

Beijão.

Anônimo disse...

Também gostaria de ter assistido aos shows e espetáculos de teatro e não consegui. Contudo, não posso deixar de lamentar a falta do mesmo empenho para com os espetáculos teatrais locais. Bem sei que nem todos alcançam o melhor nível, mas posso dizer que a maioria que vem de fora, também não alcança. Atualmente, está em cartaz no Teatro Cuíra a peça Paresqui, sensacional trabalho de mimese corporal, junto aos moradores do Combu. O resultado é bonito, engraçado, comovente, empolgante. O teatro é bom, com cem poltronas confortáveis. E no entanto, não está recebendo o público que merece. Aí vem a atriz global Solange Couto, ganha chamadas na Tv Liberal e arrebenta de público. As pessoas dizem que "puxa vida, aqui não acontece nada".
Gostaria de renovar o convite. Por falar em convite, após o Círio, o Cuíra reapresenta a comédia Convite de Casamento. Taí uma boa sugestão.
Abs

Yúdice Andrade disse...

Pattriótica, passarei no seu blog para ver mais informações. Abraço.

Edyr, seria triste não ter uma opinião tua, numa postagem sobre cultura. Fico feliz que tenhas vindo. Endosso tuas palavras, opinião que escuto sempre de meu irmão, que é ator de teatro e dramaturgo iniciante. A idéia é justamente essa: mede-se o produto paraense pela ausência de penetração na mídia, não pela real qualidade.