sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Só vendo para crer

As práticas da esmola e da comercialização de produtos em ônibus do transporte urbano são pribidas há muitos anos e, mesmo assim, sempre foram praticadas livremente. Segundo consta, desta vez sofreram um baque e tanto. Atualmente, câmeras de TV estão sendo instaladas nos coletivos, originalmente por motivo de segurança, mas o SETRANSBEL também quer aproveitá-las para monitorar o que se passa nos veículos — para azar dos cobradores que adoram flexibilizar a passagem pela roleta, para ficar com uns trocadinhos. Dentre as condutas a observar, está justamente a aceitação, pelo motorista, de pedintes e vendedores.
A par disso, a Justiça do Trabalho publicou uma instrução normativa há dois meses, proibindo a entrada de menores nos coletivos, para vender mercadorias. Como os empresários não vão querer multas, terão todo o interesse em cumprir a ordem.
Não estou otimista como o Diário do Pará de hoje, que em sua coluna nobre afirma que esse comércio móvel acabou, mas acredito que ele será sensivelmente afetado, até que, com o tempo, comece a parecer inviável para os próprios interessados. Já não era se em tempo. Por vezes, uma simples viagem em transporte público podia converter-se num verdadeiro show de horrores, com mendigos exibindo suas ulcerações para comover o público. Já vi gente descer de ônibus com ânsias de vômito por causa disso.
As vendas não têm a mesma carga negativa, mas são um grande incômodo, principalmente quando os vendedores são insistentes. E de fato expõe crianças a perigos. Lembro-me de uma noite, há muitos anos, em que uma menina entrou no ônibus vendendo bombons. Eu e meu irmão recusamos e ela nos mostrou a língua, irritada. Em seguida, um sujeito a chamou e, com uma expressão que me pareceu lúbrica, sussurrou-lhe alguma coisa ao ouvido. A menina pareceu surpresa e depois, encolhida, fez que não com a cabeça e se afastou.
Já passou da hora de acabar definitivamente com tais práticas no transporte público. Não se trata de falta de solidariedade, mas de uma medida preventiva que, para ter pleno sucesso, precisa passar por uma recolocação desse exército de pedintes — no mercado de trabalho ou na escola.

5 comentários:

Julio Lourinho disse...

Um abraço do seu assiduo leitor.

Frederico Guerreiro disse...

Aqui, tudo está ficando cada vez mais avacalhado do que nunca.
Falta autoridade, por....!!!
Estou indignado.

Yúdice Andrade disse...

Querido Júlio, venha sempre. Muitos abraços.

Fred, também vivo indignado, porra.

Anônimo disse...

Pois então primo!!!

Eu acredito que desta forma só se desloca essa parcela da sociedade em geral esquecida pelos tentáculos do Estado. Se eles não farão mais nos ônibus, farão em outros locais, porque é daquilo que eles vivem.

O Estado ao invés de adotar políticas previdenciárias e de evolução efetiva, promove ações caritativas que visam somente aliviar as mazelas mais gritantes e discaradas.

Estamos tomando o mesmo rumo dos EUA, que se vangloriza pro ter o maior número de detentos no mundo, afinal isso mostra a eficiência do Sistema Penal.

Então creio que medidas como estas são somente de caráter paleativo e sinceramente não aguento mais ficarem empurrando o problema com a barriga.

Confesso ser hipócrita, pois também odeio pegar um onibus que pro si só já não é um ambiente muito agradável, princiaplmente em horarios de pico. Imagina então onibus com gente pedindo coisas, depois de uma dia cansativo.

Mas mesmo assim também não sou muito otimista, afinal cria-se leis para punir acada vez mais os miseváreis enquanto ladrões públicos continuam saqueando os cofres publicos.

Grande Abraço!!!

Yúdice Andrade disse...

De fato, Jean, essa massa de pessoas se deslocará para algum outro canto. E até existe a possibilidade de cumprirem a filosofia do "eu poderia estar roubando" e irem roubar, mesmo. Todavia, não podemos aceitar isso como argumento para não tomar providências.
Retirar essas pessoas dos coletivos não é apenas uma questão de comodidade, mas de segurança.