O mesmo Alexandre Garcia que já me irritou algumas vezes, quando tomava café da manhã assistindo ao Bom Dia Brasil, hoje me presenteou com uma manifestação lúcida, em vez das habituais interpretações do mundo ao estilo lei e ordem. Ei-la (destaco os pontos que considero mais relevantes):
Blindam-se carros, blindam-se casas; daqui a pouco vamos ter que blindar nossos corpos. Não aconteceu de uma hora para outra; foi aos poucos se implantando, inclusive com a nossa contribuição.
Pouco a pouco, fomos enfraquecendo a lei que deveria nos proteger. É estacionar em lugar proibido; furar o sinal vermelho; oferecer propina para o guarda; sonegar imposto; ser cúmplice do crime ao comprar fita pirata ou droga. Essas coisas do dia-a-dia que criaram a cultura de que obedecer às leis é para os trouxas. Aí, enfraquecemos a lei e agora descobrimos que ela não é forte o suficiente para proteger nossas vidas e bens.
Como não podemos nos mudar para países próximos, como o Uruguai, onde não é preciso chave na porta nem muro na casa; ou no Chile, onde o perigo é o terremoto e não o bandido, vamos nos blindando. Os que podem fazem turismo nos Estados Unidos ou na Ásia e Europa, onde podem passear a qualquer hora do dia ou da noite com risco mínimo.
Alguns acreditam. Outros fingem acreditar nas autoridades que nos dizem que o crime é um problema mundial e que é normal o que temos aqui. Não é. Somos campeões em homicídios, assim como somos campeões em blindagens. E não nos despertam nem mesmo choques, como aquela série de ataques em São Paulo, em maio de 2006; nem o arrastar de João Hélio pelas ruas do Rio, antes do carnaval do ano passado.
Pois não virão os marcianos, nem a ONU para resolver isso. O problema é nosso, a responsabilidade é nossa, a menos que já tenhamos nos rendido atrás da blindagem, admitindo que a vida e nossos bens não sejam mais nossos.
Parabéns ao jornalista por lembrar que não apenas os governos sacripantas estão por trás dos nossos sofrimentos, mas nós mesmos, por meio de uma série de facilitações que damos ao crime. Considerei lúcido ele dizer que ações incorretas, mesmo que aparentemente diminutas, como estacionar em lugar proibido, têm a mesma lógica dos crimes graves, porque partem da mesma origem de desrespeitar a lei e, conseqüentemente, o semelhante. Adorei a alegoria do despertar, porque realmente o brasileiro está adormecido, entorpecido.
E o que faz o brasileiro médio? Vai à luta ou vai continuar dando uma ponta para um cara conseguir tirar ou renovar a habilitação sem que sejam cumpridas as formalidades legais — para dar um só exemplo, que certamente já custou vidas?
2 comentários:
amigo, o problema social que nos defrontamos no nosso Brasil, leva a violência urbana e ao caos da Segurança Pública. Hoje, a classe alta e até mesmo a classe média, se enclausuram em condôminios fechados , protegidos por grades e outros apetrechos de defesa ,deixando o leito da rua aos ambulantes, traficantes , batedores de carteira e demais profissionais do ilicito.
Há meu ver, sem mecanismos de correção, que passam por escola, saúde, habitação e principalmente emprego, num futuro proximo viveremos uma guerra urbana sem limites, onde a vida humana não valera mais do que um prato de comida, e os valores morais estarão colocados em 2o plano, valendo a lei do mais forte. Nossas instituições já perderam o controle da tal situação, isso leva a varias anomalias como egoismo, exploração religiosa, extinção da família, egocentrismo e muitas outras doenças que assolam a sociedade atual.
Correto o diagnóstico, falta definir um tratamento. Alguns pontos mencionaste e, dentre as muitas coisas que deveríamos fazer, está realmente a idéia de reforço ao senso de dever, que considero diretamente associada ao senso de cidadania.
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