segunda-feira, 24 de março de 2008

Seis anos passados

Não me recordo com exatidão como foi que conheci pessoalmente o Maestro Isoca. Já o conhecia de renome, mas travei contato pessoal na condição de amigo de sua neta Polyana, que pouco mais de cinco anos depois se tornaria minha esposa. Já na condição de namorado, fui recebido em sua casa, em Santarém, escutei suas histórias, vi seus livros (e fui presenteado com alguns) e tive o privilégio de merecer uma récita particular, ao piano. Vendo-o tocar do jeito que tocava, nem se diria que sofria do mal de Parkinson. Era, sem dúvida, um homem de notáveis capacidades.
O maestro junto ao piano que tocou para mim

Infelizmente, a debilidade física da velhice afeta a todos. E foi um simples tapete mal posicionado que o levou ao chão, ocasionando uma fratura grave no fêmur. Caiu no mesmo apartamento onde morei logo depois do casamento. A família discutiu sobre submetê-lo ou não a uma cirurgia, especialmente arriscada considerando a sua idade e os seus problemas cardíacos (usava marcapasso, inclusive). Riscos sopesados, deliberou-se pela cirurgia, que foi realizada a contento. Mas o organismo do vozinho não reagiu como esperado. Já não mais saiu do coma.
Em Santarém, Belém e Florianópolis (onde moram alguns parentes e onde estava Polyana, à época, por causa do mestrado), orações e novenas. Recorreu-se a N. Sra. Desatadora dos Nós.
Os nós foram desatados do jeito que vontades outras, que não as terrenas, preferiram. Em 24 de março daquele ano de 2002, partiu Wilson Fonseca. Hoje, seis anos se completam.
Fica aqui uma homenagem singela, de quem não teve a oportunidade de chamá-lo de avô com justo título para fazê-lo. E que colheu uma das rosas favoritas do poeta.
Estou cuidando bem dela, viu, vô? Já temos até um botãozinho chegando.

5 comentários:

Polyana disse...

Obrigada pela homenagem, meu amor. Vovô com certeza está feliz com a família linda que estamos formando.

Anônimo disse...

Meus sentimentos e reconhecimento pelo bondoso e memorial Maestro Isoca, Yúdice. Imagino que tenha sido uma experiência ímpar tê-lo conhecido e, principalmente, vê-lo interpretar uma obra ao piano. É graças a pessoas como o Sr. Wilson Fonseca que nos sentimos motivados a sermos pessoas melhores. É com grande cordialidade que deixo aqui meu singelo comentário. Alexandre

Anônimo disse...

HOMENAGEM A ISOCA, EM FORMA DE NOTURNO

Hoje (24 de março de 2008), Wilson Fonseca - maestro Isoca - faz 6 anos que retornou à Orquestra do Senhor.

A última partitura musical que meu pai manuseou, em vida, ainda no hospital onde ele se internara, em março de 2002, em Belém, foi a da "Valsa Santarena nº 50", de minha autoria, que eu lhe mostrei, em fotocópia ampliada, porque ele, com 89 anos de idade, já apresentava dificuldades de visão. Eu sempre lhe mostrava as minhas composições, sobretudo para obter os ensinamentos sábios e oportunos. Nessa ocasião, ele me estimulou a prosseguir na composição da "série" dessas valsas, compostas desde a década de 70 do século XX. Atualmente, a série conta com 62 "Valsas Santarenas", a maioria escrita para piano. Há arranjos diversos (para conjuntos camerísticos, para orquestra, para violão etc.). Algumas possuem letras, também de minha autoria.

Na missa de corpo presente, em 26 de março de 2002, na Catedral da Igreja de N. S. da Conceição, em Santarém, para onde ele foi trasladado (depois de ser velado na Academia Paraense de Letras, em Belém), não sei como ainda encontrei forças para tocar, no teclado, outra música, que compus no próprio hospital - a "Valsa Santarena nº 51", que depois recebeu o subtítulo de "Lira Iluminada", e cuja partitura depositei no esquife onde jazia meu saudoso pai, bem juntinho ao seu coração, na hora da partida... Que emoção!... (Oportunamente, poderei postar a letra desta música, também).

A última música que papai ouviu, em vida, foi a sua própria composição "Santarém, pôr-de-sol" (noturno nº 1, de 1951), gravada no CD "Wilson Fonseca - Projeto Uirapuru - O Canto da Amazônia" (volume 1, Secult/PA, 1996), tendo por intérpretes os três filhos do maestro Isoca: José Wilson (saxofone-alto), Vicente José (piano acústico) e José Agostinho (piano digital).

Naquela manhã do dia 12 de março de 2002, minutos antes de papai sofrer uma queda (que provocou uma operação cirúrgica, da qual veio a falecer, no dia 24 seguinte), minha querida mãe Rosilda pedira a ele que colocasse para tocar o CD com aquela música, que ela muito aprecia.

Quando ele caiu, estava tocando justamente esse noturno...

Em 2003, mais de meio século depois de composta a música por meu pai (1951), eu resolvi elaborar uma letra para aquela linda composição.

É uma parceria póstuma com o "velho", dentre tantas outras. Mas é um texto poético que tenta reproduzir a beleza do crepúsculo santareno.

Meu saudoso pai contava que o tema básico do noturno "Santarém, pôr-de-sol" foi composto no banco da Praça da Matriz, na terra querida, logo após uma tarde de exaustivos ensaios com o Coro da Catedral de Santarém, em 1951.

Curiosidade: o bolero "Um Poema de Amor" (1953) também foi inspirado durante o momento mágico do por-de-sol santareno e foi dedicado ao meu irmão José Agostinho ("Tinho", pai da Polyana e sogro do Yúdice), que, com poucos meses de nascido, estava chorando bastante na ocasião, porque já era hora da mamada...

A pedido de meu amigo Eliezer Martins (de Alenquer) - velho companheiro de residência na "Casa da Juventude", em Belém, na época em que éramos universitários - eu escrevi um texto alusivo aos 60 anos do famoso Colégio "Dom Amando" e, logo depois, outro texto sobre o noturno "Santarém, pôr-de-sol".

O registro sobre a letra do noturno está no seguinte site, no tópico sobre "contribuições memoriais" para o CDA: http://www.eliezer.ninhodanatureza.nom.br/

E na comunidade do Colégio "Dom Amando", no orkut, pode ser encontrado o registro que escrevi em 25.01.2006, sob o título “MEU TESTEMUNHO SOBRE O ‘DOM AMANDO’: http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=360350&tid=2444191664686922035

Se este blog dispusesse de recurso para registro de músicas em formato "mp3" (sei que futuramente deverá ter, não é?), eu poderia enviar um arranjo musical que eu escrevi, em 2006, para o noturno "Santarém, pôr-de-sol" (Quarteto de Cordas e Piano), em homenagem a meu saudoso pai e mestre.

Por ora, fica apenas a homenagem com a letra que fiz para o belo noturno "Santarém, pôr-de-sol". (Fiz outros arranjos para esta composição).

Meu pai é muito especial.

Obrigado pelo registro.

Eis a letra do noturno:

Santarém, Por-de-Sol
(noturno nº 1)

Música: Wilson Fonseca (Santarém-PA, 1951)
Letra: Vicente Fonseca (Belém-PA, 28.02.2003)

Vem
Minha amada imortal
Quero estar junto a ti
Neste instante de amor sem igual
Vamos
Cantar com emoção
Esta nossa canção
Ao poente do sol.

Sempre
Ao meu lado estarás
Neste encontro imortal
Chega perto de mim outra vez
Quando
A noite chegar
Vê a luz do luar
E as estrelas no céu.

No mistério
Deste encontro
Tudo é eterno
Sem confronto
Só ternura
Meiga e pura
Santarém
Um poema de amor.

Um poema
De ternura
Nas palavras
Sem medidas
Bem tecidas
De purezas
Como a luz
Que se esgota no sol.

Mas, vem
Pois a noite já chega
Ah! Vem
Que eu te quero só minha
Vem
Meu eterno amor
Oh! Vem
Com esse jeito só teu.

Pega aqui minha mão
Nesse enlace sublime
Ah! Que volúpia tão doce
Sempre a sorrir
Meu amor
Vem, me abraça, feliz.

Vem
Minha amada imortal
Quero estar junto a ti
Neste instante de amor sem igual
Vamos
Cantar com emoção
Esta nossa canção
Ao poente do sol.

Na esperança
Que um dia
Nosso encontro
Se eternize
Realize
Nossos sonhos
Nosso céu
No horizonte do amor.

Paraíso de amor
De venturas tão lindas
Guardamos no jardim
Lá naquela cidade
Que tanto amamos
E festejamos
Oh! Santarém
Do Tapajós.

Rio azul como o céu
De beleza infinita
Céu azul como o rio
Cristalino e tão puro
Como as águas, oh! vem
Minha amada imortal
Mas, vem
Como um sonho de amor
(O nosso amor... amor...).

..............

Deus seja louvado!

Abraços,

Vicente Malheiros da Fonseca
http://www.trt8.gov.br/juiz/juizes_togados.asp

Unknown disse...

professor, não tem nada a ver com o post em si...
mas estava passando pelo kibeloco e vi isso:

http://www.kibeloco.globolog.com.br/Guia%20pratico%20bebes.jpg

umas dicas para o futuro papai!

hehehehehe

abraços!

Yúdice Andrade disse...

Tenho certeza disso, meu amor.

Foi sem dúvida uma experiência enriquecedora, Alexandre. Isoca realmente nos inspirava sentimentos e ações boas. Grato pelo carinho.

Fico feliz de minha postagem corresponder aos sentimentos de um filho saudoso, tio Vicente. Parabéns pela composição.

Já conhecia, CT. Obrigado mesmo assim.