domingo, 9 de março de 2008

Nas terras do bem-virá

Em busca da terra prometida, milhares de "severinos" deixam suas casas e seguem rumo à Amazônia. A única coisa que carregam: a esperança. O longa metragem "Nas Terras do Bem-Virá" costura vários casos de conflitos envolvendo esses "severinos", que caíram no trabalho escravo, que perderam suas terras, que foram assassinados e viram assassinar seus líderes. Casos de um povo que cansou de migrar em busca da sobrevivência e decide lutar para conseguir um pedaço de terra, deixar de ser escravo e manter viva a última grande floresta tropical do planeta.

Gravado em 29 cidades de cinco estados do norte e nordeste brasileiro, o documentário, realizado por Alexandre Rampazzo e Tatiana Polastri, aborda entre outros assuntos, o modelo de colonização da Amazônia, o massacre de Eldorado do Carajás, o assassinato da missionária Dorothy Stang e o ciclo do trabalho escravo.

Esta é a sinopse de Nas terras do bem-virá (2007), documentário em longa metragem que conta a ocupação da Amazônia a partir da década de 1970, mostrando a trágica relação entre grande capital, usurpação de terras (não necessariamente devolutas) e menosprezo absoluto ao ser humano — sua vida, seu corpo, seu trabalho, sua liberdade. O filme mereceu reconhecimento em 11 festivais de cinema, inclusive fora do país.

Para quem vive na Amazônia, conhecer as questões tratadas no filme — e refletir sobre elas — deveria ser entendido como uma obrigação moral e de cidadania, imposta não por terceiros, mas pela própria consciência. Evidentemente, quem não vive o problema prefere agir como se ele não existisse e reduz um dos temas mais explosivos do país a uma simples condenação de todo e qualquer movimento organizado de trabalhadores rurais. A mentalidade da classe média brasileira, que odeia reivindicações e somente se incomoda com alguma coisa se ela lhe bater diretamente à porta.

O Centro Universitário do Pará — CESUPA possui uma atividade chamada Cine Tribuna, concebida no âmbito do Curso de Direito. Na última sexta-feira, dia 7, foi exibido Nas terras do bem-virá, por iniciativa da professora de Teoria Geral da Constituição, Bárbara Dias.

Apesar dos insistentes convites, foi pequeno o afluxo de alunos ao auditório da instituição, em relação ao que poderia ser. Claro, tão logo informada sobre a suspensão da aula, a maioria prefere ganhar o mundo. Afinal, era sexta-feira e há apelos muito mais fortes pela noite em que todos os gatos são pardos. Todavia, um número significativo permaneceu até o final da exibição. Significativo, sobretudo, porque esses é que têm maior propensão a fazer a diferença, na academia e na vida profissional.

Ao final, não perdi a oportunidade de me manifestar nesse sentido. Disse à plateia que quando a faculdade não lhes oferece atividades fora da rotina, é criticada por isso. E as privadas são especialmente criticadas. Contudo, quando a faculdade oferece o novo e o diferente, o aluno é o primeiro a não manifestar interesse. Esquece que, no ensino superior, há um objetivo maior do que enfiar conteúdos cabeça adentro, como fazem os deprimentes cursos pré-vestibulares hoje em dia. O objetivo maior é formar mentes — meta que se alcança por meio da reflexão e do debate, sempre com uma postura pró-ativa do sujeito aprendente.

Tocou-me o comentário de um aluno, de que após a exibição sua mente fervilhava com muitas ideias (tanto que decidiu escrever um artigo sobre o assunto e ontem de manhã já me mostrou as primeiras anotações das leituras que fez). Ele agradeceu por eu suspender a minha aula, devido ao adiantado da hora, pois ainda precisava de mais tempo para pensar no que acabara de ver. São posturas assim que fazem toda a diferença. Infelizmente, muitos demoram a perceber.

Outros alunos lamentaram não haver tempo para um debate, pois assistir ao filme sem dizer o tanto que fica na cabeça depois era um problema. Só que este problema pode ser sanado, adiante, reunindo essas boas almas em torno de uma profícua discussão, a qual pode resultar numa conquista: se um único aluno for tocado pela reflexão, ele a levará adiante, para mais uma pessoa, pelo menos. Esse é o efeito multiplicador da educação. O efeito que queremos.

Saiba mais sobre o documentário em Mnemocine e AdoroCinema.

Um comentário:

Anônimo disse...

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