O brasileiro é solidário. Amigo, hospitaleiro, festeiro, prestativo e um monte de outras coisas boas. Você já ouviu isso, com certeza. Talvez tenha até acreditado.
Pois fique sabendo que, em pesquisa recentemente realizada, 26% dos entrevistados consideraram a tortura um recurso legítimo de investigação policial. E disseram mais: que a usariam, se fossem policiais. 33% dos valorosos brasileiros também admitiram que se afastariam de um amigo, se descobrissem que ele é homossexual, revelando a face dura do preconceito que não entrou na letra de nenhum samba.
Adoro pesquisas. Elas não melhoram o mundo, mas têm potencial para auxiliar os que poderiam fazê-lo. E só o fato de conhecer melhor a espécie humana já é um grande feito.
O que mais impressiona na pesquisa em questão é que o Secretário Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, Paulo Vannuchi, esperava resultados piores. Meditando um tempo, concluo que ele tem razão. Aliás, os resultados devem estar mascarados pela tentativa do brasileiro de parecer politicamente correto. Ainda tem isso: o brasileiro se declara dono de um monte de virtudes, mas no seu íntimo sabe que a coisa não é bem assim.
Outro dado curioso, quanto ao uso da tortura como "técnica" de investigação, é que apenas 19% dos entrevistados com renda de até um salário mínimo a aprovam, mas o percentual sobre para 42% entre os pesquisados com renda superior a 5 salários mínimos. Ou seja: a tortura é menos aceita entre as pessoas que sabem, ou ao menos intuem, que são candidatíssimas a sofrê-la, qualquer hora dessas. Mas é bem vinda para quase metade do público com renda mais alta, a refletir uma preocupação maior com a proteção de seu patrimônio — quiçá um maior desprezo pela vida humana.
O bom do Brasil é o brasileiro. Na próxima vez que me perguntarem, direi que são as praias.
Nenhum comentário:
Postar um comentário