terça-feira, 18 de março de 2008

Modelo de petição

Em minhas passagens por Núcleos de Prática Jurídica de duas faculdades, uma pública e outra privada, aprendi que estagiários são loucos por um modelo. Tudo o que pedimos, querem um modelo de petição, de recurso, do que for. Desaprovo tal postura, mas hoje me deparei com uma petição que merece ganhar uma moldura e ser pendurada na parede.
Trata-se de uma renúncia ao mandato advocatício, que o nobre causídico faz lamentando — eu diria, quase aos prantos. Aqui vai a transcrição, sem identificação alguma, claro:

[Identificação do advogado] vem à honrosa presença de Vossa Excelência, em seu nome pessoal, dizer que RENUNCIA, embora lamentando, ao MANDATO JUDICIAL outorgado pelo Réu [...], em face do Acusado ter declarado expressamente no dia de ontem face a face com o advogado subscrito, que não reunia as mínimas condições financeiras de saldar os miseráveis honorários advocatícios contratados com este modesto Defensor.
2. E como este advogado também come, paga a gasolina e a "manutenção" do seu carro, precisa se vestir dignamente, paga um inflacionado aluguel do seu Escritório (onde se inclui ainda uma altíssima taxa de condomínio), paga Secretário, paga office-boy, paga Advogados Assistentes, paga Estagiários, paga contas astronômicas de água, luz e telefone, paga assinatura de "internet", compra livros e revistas jurídicas caríssimas, paga a cada ano uma anuidade milionária aos cofres da OAB.
3. E ademais, sacrificado com tamanhas despesas e encargos, não tem este humilde advogado nenhum "convênio" com os "cofres públicos", nem é sócio de nenhuma "associação filantrópica", e nem, tampouco, recebe qualquer centavo de qualquer "associação de militares" que vise defender GRATUITAMENTE esses "deserdados da sorte" chamados RÉUS, não tendo, portanto, nenhum "estímulo" para trabalhar sem remuneração na defesa desses Oficiais que tanto precisam de Justiça. Se ao menos fosse ele um pobre soldado, quem sabe!!
3. Desta forma, como este modesto Causídico é filiado apenas à "ordem dos advogados", que nem de longe se parece com nenhuma "ordem franciscana", não tem, em face destas seriíssimas razões de ordem financeira, nenhuma condição de continuar "patrocinando" gratuitamente os interesses do ACUSADO, vendo-se assim forçado, em razão dessas circunstâncias, a RENUNCIAR ao presente MANDATO, requerendo que de tal RENÚNCIA seja intimado o respeitável e distinto OFICIAL-MILITAR.


E aí? Ainda querem ser advogados?

7 comentários:

Unknown disse...

hahahahahahahah "míseros honorários"!!
hehehe

essa foi boa!

merece um " 'Ctrl + C' ... 'Ctrl + V'"

Hellen Rêgo disse...

Ave Maria! Mais quatro linhas e eu chorava com essa petição, hehe
Abraços

Anônimo disse...

amigo, assim você acaba no zorra total, abraço

Ivan Daniel disse...

Isso é uma 'pérola'! rsrsrsrsrs...
E não, ainda continuo não querendo advogar.

Yúdice Andrade disse...

Em se tratando de quem se trata, CT, o adjetivo "míseros" é realmente dramático.

É de chorar, mesmo, Hellen.

Poxa, anônimo, não me sacaneie! "Zorra total" é de última. Abraço.

Se for fazê-lo, Ivan, cuidado com os modelos, tá?

Anônimo disse...

essa á a mais pura verdade.

PAULA disse...

TAMBÉM SOU ADVOGADA, E TRABALHAR DE GRAÇA NAO É NADA ENGRAÇADO!

MUITO LEGAL AS COLOCAÇÕES APRESENTADAS, SÓ FALTOU RESSALTAR OS GASTOS TIDOS ATÉ CHEGAR A ADVOCACIA, PAGAR FACULDADE 5 ANOS, SOFRER PRA PASSAR NO EXAME DA OAB E AS VEZES AGUENTAR DESAFOROS DE CLIENTES MALAS, QUE O PIOR DE TUDO EM ALGUMAS VEZES NEM NOS PAGAM OS MINIMOS HONORARIOS COBRADOS.

REALMENTE SER ADVOGADO NAO É FÁCIL!!!!!

PARABÉNS AO AUTOR PELA PÉROLA