quarta-feira, 26 de março de 2008

Práticas criminosas

Recentemente, precisei abrir uma conta corrente na Caixa Econômica Federal, aquela que agora quer ser conhecida apenas como Caixa. Para ter acesso a um financiamento imobiliário, somos obrigados a abrir uma conta e a adquirir um seguro residencial. É a velha venda casada, oficialmente proscrita pelo Código de Defesa do Consumidor, mas largamente praticada por todos, inclusive pelos bancos públicos, com conhecimento e beneplácito imoral de todo os poderes públicos. Outra hora falaremos sobre venda casada e sobre a impossibilidade de o cidadão comum se defender dessa coação. O tema agora é outro.
Para abrir a conta, tive que autorizar o recebimento de um cartão múltiplo, com funções bancária, de crédito e de débito. Alguns dias mais tarde, o cartão chegou em minha residência.
Há pouco, recebi uma ligação pelo celular. Estranhei o código de área, indicando que a chamada se originava em São Paulo. Atendi e uma cidadã foi logo disparando: "Bom dia, aqui é da Caixa." E se danou a falar que eu precisaria de um cartão e queria confirmar os meus dados para consumar a operação.
Quando respondi que meu cartão já chegara, a moça ficou perceptivelmente hesitante. Mas então emendou questionamentos sobre se o meu cartão era international, gold, exclusive, prime, supermegaultrahiper alguma coisa e foi então que a minha ficha caiu. Ela não era da Caixa coisa nenhuma e sim da Visa, tentando me empurrar o seu produto. Quando entendi isso, para minha surpresa, ela não insistiu mais do que uma vez, mas quando informei que já possuo um cartão sob a bandeira Visa, ela agradeceu e desligou.
Instituições financeiras são a expressão da existência do demônio no mundo. Eu as desprezo. Lucram absurdamente, porque não se pode fugir delas, mas não contentes com os ganhos que o governo lhes propicia com as políticas econômica, tributária e creditícia, adotam desbragadamente práticas criminosas agressivas. Veja só: a fulana que me ligou mentiu para mim. Disse ser da Caixa e pediu apenas para eu "confirmar meus dados", ou seja, queria me induzir a erro para me levar a fornecer informações de que ela não dispõe e não está apta a utilizar. Queria criar condições para, mais tarde, se eu protestasse contra o cartão, alegar que ele fora livremente solicitado por mim.
São bandidos da pior espécie. O povo se preocupa tanto com a criminalidade violenta que não para a fm de pensar nas violências implícitas que sofremos. Não temos mais sequer privacidade, pois somos molestados a qualquer dia e hora, em casa, no trabalho, onde for. Quem deu a essa biltra o direito de ligar para o meu celular? Quem, na Caixa, compartilhou o meu cadastro?
É preciso ter absoluto cuidado com esses vagabundos que nos perseguem. Um sujeito um pouco mais desatento ou desinformado teria arrumado uma dívida, sem nem saber de quê.
O que mais me revolta é a inércia do Ministério Público, que tinha a obrigação de coibir tais abusos. Mas aqui é Brasil...

3 comentários:

Anônimo disse...

Leio seu blog todos os dias e não pude deixar de expressar minha satisfação em ler esse post – satisfação pela sua revolta transcrita. A impressão que tenho é que não há mais respeito pelo cidadão. “Fodam-se todos”. Parece que aqui – Brasil – tudo pode e isso é revoltante. Principalmente por saber que é o nosso dinheiro – muito suado - que movimenta essa bandalheira. Os serviços estão cada dia piores, somos tratados como lixo. Bancos, lojas, empresas de telefonia... Eles nos roubam diariamente, nos ludibriam, usam de má fé mesmo, e ninguém faz nada. Meu namorado faz direito, a mãe dele é advogada, e às vezes me aborreço muito porque até quem conhece a lei se omite, deixa pra lá. Confesso que me revirei de emoção aqui na cadeira lendo o seu texto, mas ao final, desanimei quando me dei conta da realidade: “Mas aqui é Brasil...”. Lembrei-me desse fardo. Puta merda!

Sergio Lopes disse...

Amigo yudice, sua revolta é contagiante e compreensivel, eu também por vezes passo pela situação que você descreveu e fico perguntado como tais empresas tem acesso a dados que nunca os dei, para mim parece que o mundo está virando um verdadeiro paeadoxo , onde determinadas entidades tomam conhecimento de cadastros pessoais de "futuros clientes" com o nitido objetivo de trna-lo refém de estrategias absurdas de marketing cujo único objetivo e aplicar golpes e destemperos em incaltos cidadões.

Yúdice Andrade disse...

Cara anônima, de tudo que você escreveu, uma seqüência me tocou mais intensamente: "Confesso que me revirei de emoção aqui na cadeira lendo o seu texto" (um impacto emocional que me surpreende e alegra), "mas ao final, desanimei quando me dei conta da realidade" (revelando que não fui muito hábil na minha conclusão, pois induzi o desânimo).
Creio que uma revolta justa deve ser fomentada nos brasileiros em geral, pois o Direito do Consumidor é um exemplo concreto de que informação e iniciativa são realmente capazes de mudar as coisas. O consumidor brasileiro está muito mais consciente e reivindicador do que nunca, o que é ótimo. Mas há setores em que continuamos terrivelmente desamparados.
Espero que, doravante, eu cumpra apenas a primeira parte dessas emoções, sem provocar nenhum desânimo no final.
Constate que isto aqui é Brasil, mas sem que isso signifique desistir.
Muitíssimo obrigada por me conceder, todo dia, um pouco da sua atenção. Espero merecê-la.

É exatamente isso, Sérgio. É por isso que precisamos denunciar, gritar, escrachar essa gente.