sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Dizque de Caxias

Tão assoberbado nos últimos dias, meio aéreo nas poucas horas vagas, deixei passar o último adiamento da inauguração da única obra que o sedizente lega à cidade, a decantada Avenida Duque de Caxias — o primeiro corredor ecológico de Belém. [Pausa dramática.]
Esta manhã, vi alguns minutos do jornal da Record e descobri alguns fatos pitorescos, que passo a elencar:

1. Fiquei estarrecido de saber que a CTBel possui um setor de educação para o trânsito. Educação para o trânsito! E eu que, na minha imensa ignorância, supunha que a CTBel só possuía um setor de autuação de infrações e arrecadação de multas. Pelo menos, é a imagem que os agentes de trânsito nos passam, ao multar sempre, sem jamais abordar o condutor para uma conversa educativa.

2. A inauguração, amanhã, ocorrerá no mais descarado estilo pão e circo, mostrando que a campanha da re-eleição será oficialmente deslanchada. Serão nada menos que dez horas de atividades! Durante o dia, serão realizadas atividades que a chefe do tal setor de educação chamou de "atividades em detrimento dos servidores municipais", pois o dia do servidor público é comemorado no dia 28 deste mês. Perdoado o lapso da servidora, vemos que aí está a desculpa para distribuição de brindes comprados com dinheiro público. Daí o pão e circo.

3. A inauguração oficial, às 18 horas, será marcada pela instalação de dois marcos, que esta manhã vi serem preparados. Ou seja, pretexto para haver duas placas com o nome do diz que prefeito.

4. Haverá uma caminhada de um marco a outro. Deve ser por isso que o primeiro marco fica ao lado do Santuário de Fátima e o segundo, na Alferes Costa, em vez de na Dr. Freitas, onde a avenida acaba. Acho que o sedizente não aguenta andar de um extremo a outro do logradouro. Ou o seu séquito. Ou ele quis destacar o sobrenome "Costa". Ou, vá lá, pode ser que haja alguma razão histórica. Gostaria que alguém me explicasse a escolha. Na Almirante Barroso, o marco identificador do antigo limite da cidade fica às proximidades da Dr. Freitas.

5. A rua está equipada com "tecnologia" e sinalização para fazer dela um modelo de segurança no trânsito! Tomara que dê certo. Só destaco que é uma aposta enorme da CTBel acreditar que os condutores de Belém do Pará respeitarão uma faixa de pedestre. Concordo com a CTBel nesse particular, ou seja, a medida deve mesmo ser implementada e fiscalizada. Os infratores devem ser punidos. Já visitei cidades onde os motoristas realmente param quando se bota o primeiro pé no asfalto. Esta cultura terá que ser assimilada aqui. Até lá, quantos morrerão?

6. Em alguns pontos, foram instaladas passarelas para os pedestres cruzarem o canteiro central sem pisar a grama (ahahahahahah), que não foram protegidas por faixas de segurança. Tome cuidado.

7. Algumas medidas de segurança, inclusive os sensores eletrônicos de velocidade e avanço de sinal, as famosas "araras", devem ser instaladas até o final do ano. Ou seja, mais uma obra (re)inaugurada sem estar pronta.

Amanhã é dia de festa. Ponha a sua roupa de domingo e vá dar um abraço no seu prefeito. Ele estará super sorridente, inaugurando o seu triunfo e pronto para repetir a sua inovadora estratégia de marketing, usada em todas as suas campanhas: abraçar e beijar, com semblante emocionado, velhinhas e crianças com cara de pobre.

7 comentários:

Anônimo disse...

A Ctbel tinha um parque para educação das crianças para o trânsito, lá na av. Bernardo Sayão, junto à sua sede. Constava de vias, sinalizações, miniaturas de edifícios e de veículos. Foi desativado pelo Dudú e virou depósito de veículos apreendidos, é só passar por lá para constatar o absurdo!
Esse prefeito só pensa no bolso dêle.

Yúdice Andrade disse...

Eu me lembro do parque, anônimo. Se não me engano, chamava-se Cidade da Criança ou coisa que o valha. Foi implantado na gestão do Edmilson Rodrigues (isto é um fato, não um juízo de valor). Certa vez, fui à sede da CTBel e cheguei a caminhar pelo espaço do parque. Hoje, contudo, a coisa mais próxima disso que temos em Belém é aquela pistazinha que armam aos domingos, na Praça da República, para algumas pessoas ganharem dinheiro alugando carrinhos elétricos por minutos. Obviamente, a ênfase não é educacional.
Seu comentário disse tudo: acaba o parque e no lugar surge um parque de retenção, o famoso "curral". Leia uma postagem que fiz ontem, sobre a alta lucratividade do serviço de guincho em Belém.

Frederico Guerreiro disse...

Lá vai:
Apesar de ser bem possível alguns apaniguados do prefeito estarem ganhando uns belos trocados com as árvores de natal asfálticas que não durarão nada, a Duque melhorou.
Ou será que não, Yúdice?
Imagine-se no seu carrão indo ao trabalho no TJE por aquela Duque de dois anos atrás...
Passo por ali todos os dias..., vish... já perdi a conta por quanto tempo.

Com relação à Cidade Criança, aquilo não servia para nada. Raros eram os momentos em que as escolas levavam seus alunos para uma aula de educação para o trânsito naquele lugar tão inóspito. Não havia sequer cobertura para as crianças se protegerem do sol ou da chuva. Prefiro mil carros de motoristas infratores recolhidos ali do que uma só criança com ensolação ou resfriada.
Todavia, se melhoramos por um lado pioramos muito por outro: os camelôs venceram.
Provoco mais: como Belém estaria hoje com aquela administração de petista para petista?
Não temos saída, amigo. É tudo igual, mas melhoramos alguma coisa no asfalto. Você sabe que sim.
Manda aí agora, vai?

Yúdice Andrade disse...

Melhorou, sim, Fred. Jamais disse o contrário. Se examinares as referências que fiz aqui no blog, verás que as críticas tiveram o seguinte teor:
a) Num primeiro momento, executar uma obra de impacto sem consultar a população diretamente atingida, o que custou um desgaste dispensável. Isso mostra a feição tradicional de governo, autoritária: eu decido e vocês acatam. Convenhamos, o projeto poderia ser melhor, não poderia. E se não é, talvez tenha a ver com a incapacidade de ouvir.
b) O reconhecimento de que os maiores beneficiados pela obra são as pessoas que passam por ela de carro, como eu. Ou mesmo de ônibus. As condições de tráfego melhoraram. Será que o resto melhorou?
c) O tempo absurdo para fazer uma obra que, digam o que disserem, poderia ter sido concluída com muito maior antecedência.
d) O pão e circo em torno da obra que, afinal, não é nenhum prodígio da engenharia. É apenas um alargamento de pistas e um novo paisagismo, envolvendo algumas decisões correlatas, como o sentido do trânsito, a nova sinalização e a instalação de umas luzinhas. Precisa alardear tanto? Lembrou-me o então prefeito Hélio Gueiros, que ao inaugurar a Praça Dom Alberto Ramos, no nosso Conjunto Médici, disse que praça bonita como ela "só nos Estados Unidos". Eu e meu irmão passamos anos chamando para ela de "praça americana". Convenhamos, um delírio.
Quanto ao Cidade Criança, era uma boa idéia, ainda que mal executada. No dia em que caminhei por lá, incomodei-me com o sol forte. Realmente, a infraestrutura não era muito pedagógica. O que lamento é não ter mais nenhum espaço de educação infantil para o trânsito na cidade. Isso é uma lástima pois, sabidamente, a criança é um forte argumento para mudar condutas irresponsáveis dos adultos. Por conseguinte, não acho que ter sido substituída por um pátio de retenção seja uma coisa boa.
E, definitivamente, se os mil carros estão lá porque a CTBel multa sem critério e empresários estão enriquecendo, mas o comportamento dos motoristas não muda e as vítimas continuam se avolumando, então com certeza está tudo errado. E alguém deve ser punido por isso. Para mim, o prefeito serve. Se houver um.
Sempre bom debater contigo.

Anônimo disse...

A Duque está realmente bonita, agora vamos esperar o inverno e trocar em alguns pontos o carro por barco.
Aguardem

Yúdice Andrade disse...

Anônimo, esse teu comentário foi muito misterioso. Estás sabendo algo sobre o sistema de drenagem da via que não nos contaste ou é apenas uma especulação sobre a qualidade habitual de nossas obras?

Anônimo disse...

Com relação ao item 1 de seu post, ainda existem os agentes que tentam a todo custo extorquir, inventando infrações.

Alguns exemplos:
- uma amiga foi multada porque estava cantando e o agente pensou que estava falando ao viva-voz do celular.
- outro amigo foi multado porque chamou a atenção do agente para o veículo que tinha acabado de passar no sinal quase lhe causando um acidente, como o agente se irritou com o "puxão de orelha", meu amigo levou a multa.
- um outro foi chamar a atenção de um agente para um motoqueiro que estava com a placa coberta e adivinha só quem recebeu a multa, só digo que não o motoqueiro.
- a algum tempo atrás um agente da CTBEL quis aplicar, cobrando R$80,00 para "deixar passar", como preferi não dar o "lanche" dele, recebi uma multa de R$120,00 por parar na faixa, só porque tirava o carro do acostamento.

Estes agentes é que precisavam ir para escolas de "Educação no trânsito!".

Sabemos que existem muitos motoristas que nem carteira deveriam ter, mas estes agentes também não sabem orientar apenas multar.

Mudam de rotas de trânsito e não fica nenhum agente para orientar, mas apenas para multar, alegam que se colocaram a placa ou pintaram o chão, já é responsabilidade do motorista estar sempre atento para estas mudanças, por mais que durante anos o sentido da via era um e de repente foi alterado.

Situação triste!