Pais ingleses queimam livros infantis sem final felizda Ansa, em Londres (reproduzido, aqui, da Folha Online)
Uma associação de pais britânicos, a favor de queimar os livros infantis sem final feliz, organizou para o fim deste mês uma série de "Fogueiras dos Livros Maus", convidando outros pais a levarem os volumes "pouco alegres" para jogá-los ao fogo, informou o "Daily Mail".
A "Happy Ending Foundation" considera que a vida já submete as crianças a amarguras e "coisas feias" demais e, por isso, é preciso "protegê-los" contra as histórias "deprimentes".
Além disso, por ocasião da Semana dos Livros Infantis, que começa na próxima segunda-feira, os pais da entidade escreveram para bibliotecas e escolas, convidando os responsáveis dessas instituições a tirarem de sua estantes os livros que julgarem "controversos".
As reações foram imediatas e, em sua maioria, negativas: para alguns, a "Happy Ending Foundation" lembra os nazistas, que queimavam publicamente os livros que não aprovavam.
Para o autor de livros infantis Kevin Brooks, "as controvérsias e as coisas negativas se encontram em qualquer lugar. É melhor descobri-las nos livros, onde está escrito com paixão, poesia e força".
Para outros, como a associação de defesa das crianças Kidscape, as leituras infantis devem ser "equilibradas" e não devem evitar certos assuntos, "condenando a perder a magia da literatura. Os livros permitem experimentar emoções, mantendo uma distância. É algo saudável".
Entre os livros criticados pela "Happy Ending Foundation" está a coleção "Desventuras em Séries", de Lemony Snicket, e "Matias e as pedras mágicas", de Marcus Pfister.
A fundadora da associação, Adrienne Small, decidiu criar a entidade em 2000, quando sua filha se sentiu deprimida depois de ler um livro da série de Lemony Snicket: "Falamos com outros pais e decidimos fazer algo positivo, com livros mais alegres. Não digo que o mundo deve ser apenas cor-de-rosa, mas é preciso fazer o possível para proteger as crianças".
Na Inglaterra, há 11 grupos locais ligados à associação.
Queimar livros nunca pode ser uma atitude provinda de pessoas decentes, até porque o fogo é um elemento simbólico, expressivo de uma especial aversão ao objeto e à ideia que ele contém.
Esses ingleses ligados às tais instituições são uns imbecis. Não sabem educar direito seus filhos e querem enfiá-los numa redoma cultural para, supostamente, resguardá-los das mazelas do mundo? Convenhamos, é uma providência inútil, certo? Todo mundo um dia sofrerá. Mais ou menos, por motivos justos ou não, mas todos pagaremos nossa cota.
Gostaria de saber o que esses débeis mentais diriam a um de seus maiores expoentes literários, J. R. R. Tolkien. Afinal, O senhor dos aneis termina com uma vitória triunfal do bem, mas a trilogia em si é muito dramática, chegando a se falar em estar-se quase no fim de toda esperança. Eles pensam que o meio do livro não tem o poder de deprimir o leitor? Tolkien também escreveu Os filhos de Húrin, recentemente lançado, que surpreendeu a crítica por ser um livro desolador e incrivelmente fatalista para um autor que escrevia para crianças.
Será que os ingleses queimarão Tolkien?
A iniciativa da destruição de livros, por si só, me causa repugnância. Lembra-me o Califa Omar incendiando a Biblioteca de Alexandria; a Igreja Católica destruindo toda e qualquer obra que não seguisse sua cartilha, sendo de se destacar o chamado "auto de fé de Barcelona", quando milhares de exemplares do Evangelho segundo o Espiritismo foram consumidos pelas chamas em praça pública. E lembra, claro, os nazistas.
3 comentários:
Caramba...passou tanta coisa em minha mente lendo o seu post. Pensei em todas as bruxas dos livros infantis.
Sempre que surge uma informação negativa pensamos logo nos nazistas.
Foi tão perfeita a comparação porque quem queima livros queima mentes. E sem ela não somos nada. O resultado é o mesmo: a morte, neste caso, cerebral!
Beijos, Yúdice.
Você foi divino em sua crítica! Eles bem que poderiam doar esses livros. Queimar nunca! O fogo extingue a possibilidade de exumação! Renascimento !
Bjs.
Yúdice, já viste Fahrenheit 451, filme do François Truffaut, baseado em livro de Ray Bradbury?
Eu pensava que nada disso iria acontecer e que o tempo das trevas já tinha passado para sempre. O ser humano é realmente surpreendente, tanto para o bem, quanto para o mal.
"O fogo extingue a possibilidade de exumação! Renascimento!"
Cris, hoje tu estás demais! Maravilhoso!
Francisco, não vi o filme, mas li o livro duas vezes, porque é excelente. Até hoje, se tenho a oportunidade de pegar um dente de leão, instintivamente o esfrego em meu queixo, bem de leve, situação tão singela que, na estória em questão, muda a vida de um homem e abre uma esperança para o mundo. Fantástico. Eu recomendo.
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