terça-feira, 16 de outubro de 2007

O lado bom e o lado mau da rotina

Para quem gosta — ou precisa — de organização, a rotina pode ser uma experiência muito salutar. Há muitos anos, criei o hábito de conduzir objetos pessoais sempre nas mesmas posições: relógio no pulso esquerdo, do mesmo lado em que levo a caneta (nunca saio sem uma); chaves à direita; carteira no bolso traseiro direito e, se de paletó, num bolso do lado direito, em geral externo. (Espero que estas informações não cheguem aos meliantes...). O problema é que, se por qualquer motivo, um desses itens sai do lugar, passo o tempo todo levando sustos. Mandei a trocar a bateria do relógio e tive uma manhã infernal. Cadê o meu relógio? Cadê o meu relógio?!
Essa padronização, contudo, permite que eu não esqueça as coisas. Frequentemente eu as esqueço, mas a própria ausência da sensação física me alerta que devo retornar e pegar o objeto faltante, antes de sair de casa. Ajuda.
Hoje, que levamos essa vidinha enquadrada, cheia de compromissos e tempo exíguo, a rotina pode nos salvar, ao mesmo tempo que pode causar transtornos, como o do rapaz que desceu comigo no elevador, hoje cedo. Sua vaga de estacionamento fica perto da minha, mas hoje ele deixara o carro na rua e perdeu tempo descendo até a garagem, sem necessidade.
Mais interessantes são os casos de pessoas que se mudam e, quase no automático, pensam retornar para casa. Somente se dão conta do erro quando chegam ao endereço antigo.
Tive um professor que quase passou mal, acreditando que haviam furtado o seu automóvel, quando na verdade ele o estacionara pela primeira vez em lugar diferente, na rua.
São acontecimentos prosaicos, sem maior importância, mas que podem chatear de verdade. Infelizmente, os condicionamentos excessivos que nos impomos são, também, a causa de mortes de crianças, esquecidas p. ex. em veículos, fato já comentado aqui no blog. Acidentes desse tipo, inclusive fatais, têm aumentado por aí afora.
Isso nos remete à necessidade de cuidar da saúde mental — não no sentido psiquiátrico, mas no da qualidade de vida. Retirar da rotina o que de melhor possa nos oferecer, sem nos aprisionarmos nela, ao ponto de nos tornarmos compulsivos. E evitá-la no casamento — ou nos relacionamentos amorosos em geral —, por motivos óbvios.
Boa semana para todos.

4 comentários:

morenocris disse...

Boa semana pra você Yúdice.

Sabes o filme "Melhor é impossível"...assim, desse jeito !

Sair da rotina, abrir as janelas pra vida!

Beijinhos.

Lindo o seu post.
Gosto demais quando você escreve em companhia da alma! Às vezes tento descobrir quem é quem!

Aldrin Leal disse...

A palavra-chave é controle: Controle na sua vida, controle sobre si, autodisciplina.

Capacidade de interagir e não se deixar levar pelo cotidiano.

É complicado? Sem dúvida. Exige um exame de consciência imenso. Mas parar e ver o que não está adequado e como corrigir, diariamente, é uma terapia saudável.

Yúdice Andrade disse...

Ora, Cris, como diria Fernando Pessoa, "tenho tanto sentimento que é freqüente persuadir-me de que sou sentimental". A alma me flui pelos poros!!

Lúcidas palavras, Aldrin. Tudo que envolve exame de consciência é por demais complicado, mas vale muito a pena.

morenocris disse...

Vocês já assistiram ao filme que citei?

E quando temos rotinas que não podemos modificá-las? Quando somos extremamente realistas e a consciência só nos reforça esse aspecto?

Também é saudável esse reconhecimento porque ele nos remete à nossa capacidade de limitação.

Beijos.