quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Preconceito genético? — E o mea culpa subsequente

Talvez se eu falar em James Watson, você não atine de quem se trata. Mas se eu falar em Watson e Crick, aqueles que passaram por bancos escolares e não deletaram todas as informações do cérebro deverão lembrar-se da estrutura helicoidal dupla da molécula de DNA. É a esse James Dewey Watson que me refiro.
O famoso cientista, hoje com 79 anos e vencedor do Prêmio Nobel de Medicina em 1962 (juntamente com Francis Crick e Maurice Wilkins), viajou a Londres para uma série de palestras, mas não foi recebido exatamente como um dos homens que mudaram os rumos da humanidade, e sim como um racista que pretende provar, cientificamente, a inferioridade intelectual dos negros. Watson afirmou: "todas as nossas políticas sociais são baseadas no fato de que a inteligência dos africanos seja igual à nossa, quando todos os testes realizados indicam o contrário".
Em apoio, assevera que nos próximos 10 anos serão descobertos os genes capazes de provar a existência de níveis diferenciados de inteligência. Para ele, a absoluta igualdade entre todos os seres humanos é apenas um desejo.
Os ativistas de direitos humanos estão indignados e pretendem cobrar da comunidade científica uma posição oficial sobre o assunto. Até porque Watson é "reincidente" em declarações catastróficas. Em certa oportunidade, declarou que uma mulher deveria ter o direito de abortar caso um teste pré-natal revelasse que o feto no futuro seria homossexual.
Deus não permita — Deus não permita! — que se descubra qualquer coisa, por menor que seja, capaz de municiar essas teses de Watson, nem que seja por interpretação. Tempos terríveis aguardariam a humanidade se algo assim ocorresse.

Atualizado em 19.10.2007:
A galope, o cientista se retratou do que disse, segundo noticia a BBC Brasil:

Nobel se desculpa por declarações sobre inteligência negraO geneticista e prêmio Nobel de Medicina James Watson se desculpou "profundamente" pelas declarações feitas a um jornal britânico de que os negros seriam menos inteligentes do que os brancos. "Eu estou desolado pelo que aconteceu", disse Watson a um grupo de cientistas e jornalistas no lançamento de seu livro de memórias Avoiding Boring People (Evitando pessoas chatas, em tradução livre) ontem, em Londres.
"Eu posso entender perfeitamente porque as pessoas, ao lerem essas palavras (no jornal) reagiram desta forma. A todos aqueles que tiraram conclusões das minhas palavras de que a África, como um continente, é geneticamente inferior, eu só posso me desculpar profundamente. Não foi o que eu quis dizer. Do meu ponto de vista, não há base científica para essa crença."
Em entrevista ao jornal The Sunday Times, o geneticista de 79 anos disse que estava "intrinsicamente pessimista sobre as possibilidades da África" porque "todas as nossas políticas são baseadas no fato de que a inteligência deles é a mesma que a nossa, quando todos os testes dizem que, na verdade, não é". Watson ainda disse que esperava que todas as pessoas fossem iguais, mas que "aqueles que têm de lidar com empregados negros não acham que isto seja verdade". As declarações provocaram reações e levaram o Museu de Ciências de Londres a cancelar uma palestra que o cientista daria hoje.

6 comentários:

morenocris disse...

Bom dia, Yúdice.

Prêmio Nobel ? ....Al Gore também recebeu...elas por elas...

Beijos.

Unknown disse...

puts...
é ver para crer...
A dos africanos até, como uma força, PODE ser justificada se melhor formulada, mas a primeira...
não dá...

Yúdice Andrade disse...

Não sei se é por causa do cansaço, mas não entendi nenhum dos dois comentários. Seria Al Gore um farsante, Cris? O que é que pode ser justificado em relação aos africanos, CT?
Desculpem, mas estou meio fora de órbita.

morenocris disse...

Al Gore diz que a questão climática não é uma questão política...brincadeira, não?

E segundo vários estudiosos, algumas colocações dele não têm embasamento científico. Dizer que o aquecimento global vai ficar pior...

Beijos.

Yúdice Andrade disse...

Grato pelos esclarecimentos, Cris. De fato, nestes últimos dias, foram apontados supostos nove erros em Uma verdade inconveniente. Acho difícil não haver nenhum. Mesmo que a causa seja nobre, a exploração dela sempre acaba sendo um tanto quanto maliciosa. Sabe-se lá com que finalidade.

Unknown disse...

nesse post, eu quis dizer que, se ele tivesse levado mais pro lado científico, se levasse só por esse lado e comprovasse, não seria tããão ruim, quanto a segunda afirmação, claramente preconceituosa!