terça-feira, 9 de outubro de 2007

Do caos às possibilidades

Incêndios no centro comercial de Belém não são nenhuma novidade, inclusive os de grandes proporções, como o de ontem. Prédios antigos, colados uns nos outros, excesso de madeira na estrutura, imensos depósitos com mercadorias altamente sensíveis ao fogo: só pode dar no que deu. Os prejuízos materiais, certamente enormes, felizmente não se fizeram acompanhar de perdas humanas.
Segundo a imprensa, as ruas estreitas do comércio e o fato de estarem obstruídas por camelôs dificultaram a ação dos bombeiros. Logicamente. Os donos da rua trataram de recolher seus pertences na hora das chamas, mas sem dúvida já querem voltar aos "seus" lugares — até porque se não o fizerem, logo haverá um outro não-paraense ocupando a vaga.
Esta seria, a meu ver, uma oportunidade de ouro para as autoridades retirarem os camelôs das ruas do comércio — definitivamente, sem choro e sem vela. Principalmente sem vela, por causa da chama. Afinal, é uma questão de vida ou morte, literalmente, sem alarmismos ou dramalhões. Quanto mais tempo os bombeiros demorarem a chegar ao local do incêndio, maior a probabilidade de vítimas fatais, maior a destruição dos prédios e consequente risco de desabamento. Já não bastou o incêndio no antigo prédio da Bechara Mattar, em que um ser humano morreu queimado, implorando por socorro, quando a única coisa que o impedia de se salvar era um cadeado num portão? Esperaremos esse horror se repetir para, humildemente e de joelhos, implorarmos aos nossos senhores feudais urbanos que liberem a rua?

5 comentários:

Francisco Rocha Junior disse...

Yúdice, perdoa-me, mas quero fazer duas observações ao teu texto.
A primeira é que, paraenses ou não, todos têm direito de ir a qualquer estado da federação e nele se estabelecer. Claro que não no mercado informal, que burla e viola toda espécie de normas; mas, creio eu, a menção à naturalidade dos camelôs não é cabível no que discute o post e, principalmente, parece reverberar o discurso xenófobo do "anti-maranhismo" e "anti-amazonismo" que às vezes se ouve por aqui - ainda que eu saiba não ter sido esta a tua intenção.
Aliás, este é justamente um dos (e o mais fraco de todos) argumentos daqueles que defendem a indivisão do Pará.
Segundo, o problema da camelotagem não atinge somente o Comércio. Ele se espraia em quase todas as ruas movimentadas da cidade, e em quase todos os bairros, centrais ou não. Logo, a retirada dos ambulantes do Comércio não vai impedir que eles passem para a Avenida Portugal, para a Treze de Maio, para a Praça Dom Pedro II ou para a frente da Catedral Metropolitana. Nesta última, inclusive, já há vários vendedores de côco; o que mais precisa para que os vendedores de quinquilharias paraguaias, chinesas, taiwanesas ali se instalem?

Anônimo disse...

Yúdice,

Eu já disse e torno a repetir: o poder público só vai se empenhar em retirar os camelôs do centro comercial e adjacências no dia em que cerca de 50 pessoas (ou mais) forem atropeladas, por aguardarem o ônibus ocupando duas faixas de trânsito da Presidente Vargas. Aquilo é uma vergonha, que atesta a falta de vontade política de resolver o problema. Com o atropelamento fatal, a opinião pública vai pressionar a prefeitura e, aí, o gestor máximo da cidade terá que agir. Por bem ou por mal, os camelôs deverão ser retirados.

Outra coisa, e gostaria que você abrisse um tópico para comentar: a Assembléia Paraense vai manter, no dia do Círio, aquela horrorosa e deprimente estrutura de madeira em frente à sua sede social, na Presidente Vargas? Temo que no inevitável empurra-empurra da procissão ocorra um desmoronamento sobre os fiéis.

Já pensou? Comente aí, mano!

Um abraço,

Adelino,

COISAS DE BELÉM
http://www.coisasdebelem.blogspot.com/

Yúdice Andrade disse...

Francisco, pensei duas vezes antes de escrever o texto como o leste, pois de fato isso modifica um pouco a questão central, que é a insurgência contra a ocupação das ruas, seja por quem for. Mas optei por deixar o texto como estava e receber algum retorno, como esse teu. Naturalmente, tens razão, mas eu seria insincero se não admitisse que camelô daqui me irrita, mas camelô de fora me irrita especialmente.
Não me considero xenófobo. Recebo de braços abertos os de fora, mas nem por isso deixa de me agastar o fluxo migratório permanente, que não soma, apenas intensifica as pressões sobre espaços e serviços públicos. Convenhamos, a turma chega, invade propriedade alheia, bloqueia ruas, e quando conseguem ficar, vendem as terras. Para mim, é demais.
Além disso, o excesso de permissividade de nossos poderes públicos me cansa.
Uma conhecida foi fazer doutorado na Alemanha. Não foi aventurar, e sim fazer algo no interesse da universidade local, que a aceitou. Mas, para isso, precisou de uma licença para morar na cidade de Würzburg. Além do visto para entrar no país, precisou de uma licença para morar na cidade. Isso pode soar agressivo aos ouvidos sempre suscetíveis dos brasileiros e, claro, tal prática é impensável no Brasil. Mas se deixarmos os pruridos de lado, veremos que, com um controle populacional atualizado, o governo local sabe exatamente quanto precisa investir em serviços públicos, daí a eficiência dos alemães: nada falta e nada se desperdiça.
Se isso é outro mundo para nós, precisamos ao menos dar um primeiro passo. Não menosprezo o direito de ir e vir, mas não concordo em assistir passivamente minha cidade inchando, inchando, inchando, sem que não se ofereçam outras oportunidades.
Quem sabe a divisão do Pará não seja uma boa idéia? Ao menos se dividiria a pressão.
A idéia pode ser antipática, reconheço. Mas realmente acho que devemos pensar a respeito.

Quanto ao segundo ponto, meu pensamento não foi retirar os camelôs das ruas e deixá-los à vontade para escolher outros pontos a esculhambar. E sim iniciar um processo definitivo de retirada, de todo o comércio e, progressivamente, dos demais pontos da cidade.

Yúdice Andrade disse...

Adelino, são hipóteses assim que nossas autoridades deveriam se empenhar em evitar, mas sabemos como funciona. Ou melhor, como não funciona.
Isso já me remete ao teu segundo questionamento. A garbosa Assembléia Paraense se ufana de seu catolicismo e seu empenho pelo Círio. Mas isso tem muito a ver com a antiga prática de orar em público, para todos verem, certo? Ricos, ou quem assim se considera e se vende à opinião alheia, adoram fazer isso. Mas se houvesse real comprometimento com a causa do Círio, eles teriam tomado com bastante antecedência a iniciativa de suprimir aquele mondrongo, que representa risco real de acidentes.
Contudo, sabe-se lá se por falta de fé, eles também vão pagar para ver. É uma lástima.

morenocris disse...

Yúdice, o FRJ está cusca mesmo !

rsrs

Beijos.
Bom dia.