sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Portas para o futuro

Há mais ou menos duas décadas, quando o Brasil não montava carros, mas apenas carroças, possuir um automóvel com quatro portas era sinônimo de sofisticação. O sujeito precisava de bala na agulha para ostentar um brinquedo como o Maverick — ou o Corcel II ou o Diplomata.
Com o tempo, porém, felizmente, as montadoras brasileiras decidiram levar a característica para veículos mais em conta, inclusive para os populares, categoria engendrada no começo dos anos 1990, graças à qual muita gente conseguiu sair dos pontos de ônibus. A comodidade seduziu o público brasileiro. Nada mais de bancos dianteiros com encosto rebaixado, para o passageiro de trás se espremer e passar. Nada mais de os passageiros da frente terem que saltar para liberar os caronas. Mais espaço e rapidez de movimentação. Paixão fulminante e definitiva, hoje, a maioria esmagadora dos automóveis produzidos no país têm quatro portas (ou cinco, contando com a do porta-malas, em alguns modelos).
Mais recentemente, uma onda de esportividade andou influenciando as fábricas, que decidiram apostar novamente em modelos apenas com portas dianteiras. Ao menos no Brasil, o movimento foi tímido, mas permitiu o surgimento de produtos como o Citröen C4, esse modelo inovador, especialmente na traseira. Tive a oportunidade de fazer, logo depois do lançamento, um breve test drive nele, justamente o que me motivou a escrever esta postagem.
Enquanto a vendedora se esmerava em mostrar as vantagens do produto, especialmente o que ela chamou de "preço tímido" (quase 70 mil reais), jurando que eu pretendia fazer a compra, sentei-me no banco do motorista e, após namorar o belíssimo painel, pousei os olhos na porta. Imensa. Abri e fechei, para observar o enorme ângulo que faz quando se move e concluí: quem tem um carro desses, não pode estacionar nos shoppings de Belém. Se o fizer, só descerá dele se tiver um teto solar, pois aquelas vaguinhas vagabundas, estreitíssimas, crueis com os gordos e fatais para os maus motoristas, são simplesmente impraticáveis.
As fábricas de automóveis devem adequar os seus produtos ao mercado específico. Carros de duas portas, as quais por motivos óbvios precisam ser grandes, estão se tornando um problema nos grandes centros urbanos, onde a luta por espaço está assumindo contornos épicos. E não apenas nos estacionamentos, mas inclusive nas ruas. Hoje, com o incremento do número de veículos em circulação, cada vez mais eles avançam por entre as faixas de rolagem. Cada centímetro é valioso. Por isso, os motoristas tiram o fino dos automóveis estacionados. Na hora de abrir uma porta voltada para o tráfego, qualquer descuido pode custar caro. Ainda mais por causa dos ciclistas e sua absoluta incapacidade de respeitar as regras de trânsito.
O drama é mundial, claro, o que explica as fábricas investirem em projetos audaciosos, para driblar a falta de espaço. Mesmo que o resultado seja um mondrongo como o Pivo 2, da Nissan, que você abaixo:



A ousadia do Pivo 2 é girar sobre o próprio eixo e se espremer para facilitar o estacionamento. Quer um desses?

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