Devo dizer, antes de mais, que tenho ojeriza a futebol. O termo não poderia ser menor do que esse. Por isso, nunca faço concessões a nada que tenha a ver com as insanidades que as pessoas cometem em nome de sua tão decantada paixão. Mas o que aconteceu ontem em Curitiba, no jogo entre Coritiba e Fluminense, que levou ao rebaixamento dos donos da casa, está acima de qualquer margem de tolerância.
Mas o que me impressionou mesmo foi o despreparo e a tibieza da Polícia Militar paranaense. Repudio, como qualquer pessoa sensata repudiaria, a violência policial. O abuso e a arbitrariedade. Mas o que se viu ontem naquele estádio foi uma invasão por um grupo considerável de baderneiros ensandecidos, a que a polícia reagiu desarmada e com visível fragilidade. Isto, é claro, reforçou os ânimos dos criminosos.
Veja, p. ex., esse delinquente que se armou com o tripé de um equipamento de fotofilmagem. Que ele roubou, é claro, porque duvido que o jornalista tenha cedido de bom grado.
Ele provoca os policiais, erguendo o tripé no ar, e depois avança para agredir. Vai aparecer alguns instantes depois, brandindo a arma contra os castrenses. Ao seu lado estará esse indivíduo que aparece abaixado, na imagem seguinte. Ele se arma com um pedaço de pau bem na frente dos policiais e não é impedido.
Imagino que um cidadão se sentiria vexado de ver a sua polícia recuando, claramente amedrontada, euquanto a bandidagem avança.
E a cena mais impressionante:
Os criminosos sitiam um grupinho de policiais e atiram contra eles tudo o que podem, inclusive um banco. Nesse momento, há um policial ferido na cabeça, caído no chão. Os bandidos atiram objetos contra essa vítima indefesa. Dolo de homicídio, eu afirmo.
Quando, finalmente, começam a chegar as armas não letais, que disparam balas de borracha, a consequência é imediata: os meliantes recuam apressadamente. O conflito não se resolve, mas não ganha outra dimensão. Não deveriam ter sido utilizadas imediatamente?
Meus amigos que, como o resto do mundo, adoram futebol, alegaram que, fosse aqui no Pará, a PM teria agido com a eficiência já conhecida. Até morte haveria, do lado dos baderneiros. Mas aí, claro, o mundo viria abaixo. E, a meu ver, o estrito cumprimento do dever legal seria, ao menos em princípio, plenamente justificável.
Eis aí a alegria do povo. Tem gente que dá a vida por isso. Literalmente.
7 comentários:
Yúdice ,
Em que pese serem os atores da barbárie uma minoria pequena (essa foi danada) facilmente identificável e portanto só não são punidos porque aqui neste Brasilsão de Arrudas e outras ervas daninhas, ninguém o é mas mesmo assim cabe a reflexão e o convite a ela que vc nos faz.
Cito aqui o exemplo do presidente do Palmeiras : Luis Beluzzo um dos mais brilhantes economistas do Brasil , professor emérito de universidades de prestígio aqui e no exterior , responsável pela estruturação do departamento de economia da Unicamp , uma referencia mundial , convidado há pouco para o lugar do Henrique Meirelles caso este saísse como foi cogitado e que em 2 episódios recentes se transformou num celerado tal e qual os que vc mostra nas fotos ao fazer declarações de morte e porrada a um juiz que "prejudicou" seu time ou numa referencia preconceituosa a torcida de um rival.Cabe a pergunta : se cabeças como a dele resvalam na mais funda sarjeta e no que há de mais podre no futebol o que pensar destes semi-analfabetos e excluídos que compõem parte pequena ,repito, das torcidas (des)organizadas????
A própria imprensa esportiva subliminarmente induz ao confronto , tratando o jogo como guerra , batalha e outros "incentivos" do mesmo teor.
Temos que refletir.
Em tempo , sou louco por futebol , botafoguense doente (o que é uma redundância rsrsrs) mas até então jamais me envolví em qq episódio violento por conta do meu amor ao meu time que por sinal é um time perdedor histórico , meu Deus!
Abraços e tremendamente oportuna tua postagem
Tadeu
Eu não asssisto futebol nem qdo é a copa do mundo.
Concordo contigo qto a ineficiência da polícia paranaense. O que houve ali foi uma covardia.
Achei tão absurda uma mulher na tv, não sei se ela era psiquiatra,pois qdo coloquei a filhote de ronquenfunça já estava falando as asneiras dela, ela estava analisando as imagens e ela me sai com um absurdo desses: "eles não sabem que o que estão fazendo é errado", eu até mudei de canal de tão "p" da vida que fiquei. É por isso que ainda continuam acontecendo esses absurdos, porque vem uma idota dessas e fala uma babaquice dessa...
E eu diria mais, tem gente que tira a vida dos outros por isso...
Tadeu, a receptividade de um louco por futebol me é extremamente benfazeja. Esperava receber apenas críticas. E o autor de uma atitude lúcida só poderia mesmo deixar um lúcido comentário. Valeu.
Tira a vida, sim, Ana. Nesse caso mesmo, morreu um policial. Uma enfermeira, que estava num ônibus que passava nas imediações do estádio e nada tinha a ver com o jogo, foi atingida por uma bomba, perdeu três dedos de uma das mãos e está profundamente deprimida. Essa é a felicidade que querem nos vender.
Aprecio o futebol. Mas não vou a campo, quanto mais comemorar - ou badernar - na rua. Mais acompanho resultados do que vejo na TV - isso quando vejo o jogo todo, coisa que só costumo fazer em jogos do Brasil na Copa.
Tenho nojo de fanatismo de qualquer espécie: fundamentalismo religioso (e o termo não deve ser associado somente a certos muçulmanos), político (impressionante o que integrar a juventude de um partido fez com a cabeça de alguns amigos meus), nacional (não suporto ufanismo - o mais recente comercial que abusa dele é, se não me engano, um da Brahma) e esportivo.
Considero o último o menos pior - é o que menos mata diretamente. Talvez também por isso, chame mais a atenção quando resulta em tragédias assim. Mas como corrói a mente desse país... pernas-de-pau, frangueiros, pés-murchos, não-raçudos e erros de juízes causam mais repulsa do que improbidade administrativa.
Creio que foi fanatismo incentivado pela Ditadura, que não via com bons olhos uma sociedade politizada: na época mais dura surgiu o campeonato brasileiro para unir o país, chegando a ter 96 times na edição de 1979. As divisões só foram surgir, é claro, com o fim dos governos militares. O lema da época era "Onde a ARENA vai mal, um time no nacional; Onde a ARENA vai bem, um time também!".
E como já comentaram aqui, esse vírus impregna o organismo até de pessoas ditas "esclarecidas", como o presidente do Palmeiras. Eis aqui um texto sobre ele que sintetiza boa parte do que falei: http://www.trivela.com/blog/revoltado-p1 . O autor é um tanto xenófobo-bairrista em outros textos, mas nesse ele acertou em cheio.
Sobre a confusão no Couto Pereira, menos mal que o policial não morreu. Está até fora de perigo, como pode ser visto aqui: http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a2741871.xml&template=3898.dwt&edition=13677§ion=1010
Houve ainda um rapaz que teria sido atingido por um tiro na cabeça, mas ele está em estado estável, embora grave: http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL1407148-5598,00-ACABARAM+COM+A+MINHA+VIDA+DIZ+VITIMA+DE+PANCADARIA+APOS+JOGO+NO+PR.html O mesmo link aborda o drama da senhora que perdeu dedos.
Desculpe o post exageradamente grande, professor. Não comento há tempos, mas não deixo de ler os seus dois blogs. Aproveito para deixar uma provocação que fizeram a você, caso ainda não lhe tenham noticiado (oitavo comentário): http://www.vic.blog.br/blogi/detalhe.asp?c=1954
Um grande abraço!
Caio
Quando criança, eu apenas não gostava de futebol. Mas esse sentimento foi evoluindo para um ódio extremo porque as pessoas me exigiam gostar. Aliás, gostar não: adorar, amar, ser alucinado por. E como jamais tolerei imposições inexplicáveis, meus sentimentos foram piorando.
Mais maduro, fui abandonando as raivinhas, mas minha posição já é sedimentada.
Eu até gostava de futebol. Aquele que você joga na rua de casa, com amigos, descalço, sem camisa, os portões como gol.
Até que um dia, esses que chamei de amigos começaram a mostrar seu verdadeiro caráter. Não aceitavam perder e jogavam com o propósito da rivalidade.
A partir de então, jamais joguei novamente e, assim como você, Yúdice, tenho sedimentado minha aversão a este esporte.
Alexandre
Parece-me uma revolta justa, Alexandre. E um ideal de fraternidade justo, também. Uma brincadeira não pode custar tão caro.
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