segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Argumentos que circulam para formar opiniões

O bate papo sobre segurança pública continua na caixa de comentários da postagem "Esferas sociais falhando", aí abaixo. Tudo graças ao desprendimento e senso de dever do nosso caríssimo Coronel Costa Jr., atual chefe de policiamento da capital. Trago à baila, hoje, a manifestação de Daniel da Silveira:

Caro Coronel,
Como é bom ver alguém da cúpula da polícia se manifestando sobre esse assunto. É de suma importância que as instituições, sejam quais forem, engajem debate com a população.
Todos nós temos uma idéia da penúria que são as instituições policiais no Brasil, mas muitas vezes não temos a real dimensão de como os indivíduos que a compõem pensam, quais suas principais dificuldades, receios, desejos, esperanças.
Essa informação é de suma importância, pois serve para avaliarmos criticamente a atuação de vocês e também defendermos as suas causas de ataques injustos.
Esse espaço (assim como outros na internet e fora dela) é frequentado por diversas pessoas cujo interesse é debater e circular argumentos para formarmos nossas opiniões. Que a polícia siga o seu exemplo e cada vez mais se explique, demonstre suas versões, se justifique para a população sempre, inclusive quando reprova as atitudes de seus profissionais. Esse seria um primeiro passo para uma vivência democrática das instituições.
Quanto ao mérito de seu comentário, reconheço a falha estrutural do sistema que estoura no sistema de segurança pública. Esse já é o pano de fundo de qualquer discussão sobre as dificuldades da polícia.
Achei muito importante sua análise técnica sobre o caso, para justificar o porquê que a operação policial nào conseguiu evitar as mortes nesse incidente. Faço votos que seja um caso que gere aprendizado e que possamos ter mais chance de evitar perdas como essas.
Concordo com sua análise de que as instituições tradicionais (família, igreja, moralidade cristã, etc) estão se corroendo em nosso tempo. Mas discordo de que a solução seja lembrá-las com saudosismo ou preservar suas "essencias". Temos de lidar com os problemas conforme nossa época, que é a um só tempo desprovida de uma única moral definitiva e incessante revisora da moral existente.
Por fim, solidarizo-me com o senhor, com a corporação policial e com a família do policial assassinado em serviço. As vezes esquecemos que ainda nesse mundo blasé, enfastiado, há quem se arrisque todos os dias para alimentar a própria família e para servir a população em troca de um salário incompatível com a dignidade dessa função. Ao menos que saibam o quanto valorizamos o trabalho de vocês, que nos juntamos nesse luto e agradecemos aqueles que honram o serviço público.
Atenciosamente,
Daniel Coutinho da Silveira

11 comentários:

Anônimo disse...

Caro Yúdice,

Não me deixo provocar por algumas pessoas que nos tratam como "o pessoal dos direitos humanos" pois sou sabedora de que algumas de nossas manifestações provocam debates acalorados surgindo diversos comentários do tipo: a) os direitos humanos só se preocupam com os direitos humanos dos “bandidos”, b) o pessoal dos direitos humanos não se solidariza com a família do policial assassinado, etc. Afinal os discursos que envolvem os direitos humanos são fartamente distorcidos e "retorcidos" por quem tem claramente o interesse de desqualificar nossas ações. Porém acredito que devamos esclarecer alguns pontos a estas pessoas que por medo ou ignorância reproduzem tais (pré) conceitos quase sempre superficiais fundados na observação apenas de parte dos fatos extraído de um acontecimento complexo e que deveria instigar a uma observação mais profunda do todo, na essência do fato e não apenas na “aparência” como parte da mídia quer nos levar a acreditar quando nos oferece espetáculos agonizantes do dia a dia violento e excludente de nossa sociedade.
continua no proximo post...

anna lins

Anônimo disse...

Frise-se que por “pessoal dos direitos humanos” segundo este conceito difundido, leia-se um vasto grupo heterogêneo de pessoas e aqui também me incluo que:
1) Não concordam que a polícia possa arrombar sua porta sem motivo e sem mandado;
2) Não concordam com a prática recorrente que as forças de coerção possuem o direito de “atirar primeiro e perguntar depois”;
3) Não concordam que a polícia possa humilhar (e estapear, e prender etc) um adolescente na rua só porque ele é ou aparenta ser um garoto de periferia, na cor da pele ou no estilo das roupas;
4) Acreditam que as instituições devem agir com inteligência e eficácia para identificar, julgar rapidamente e tirar de circulação os delinquentes, dando-lhes o encaminhamento adequado para que não voltem às ruas como fonte de risco á sociedade;
5) Acreditam que algumas “autoridades” e instituições abusam de seu poder, punindo com violência alguns e sendo benevolente com outros...
6) São contra a corrupção nas instituições e de “autoridades” e as recorrentes meias, cuecas, panetones e congêneres;
07) Denunciam a falta de apoio jurídico e psicossocial para as vítimas e seus familiares, além de se preocuparem com as ameaças as vítimas e testemunhas, principalmente em casos envolvendo “autoridades”, “políticos influentes” além de empresários e grupos econômicos;
08) Lutam contra a omissão criminosa do Estado quando o mesmo não executa políticas públicas essenciais a vida e a efetivação do princípio da dignidade humana, inclusive aos militares;
09) Lutam por uma sociedade justa, fraterna e mais igualitaria possível em uma sociedade excludente com um profundo abismo entre os que possuem direitos e áqueles que não possuem direitos ou simplesmente são invisibilizados;
continua no proximo post...
anna lins

Anônimo disse...

Àqueles que reproduzem comentários dos quais li aqui cabe esclarecer que nos preocupam sim a morte do policial, aliás, nos preocupam todo o fato e suas conseqüências sob todos os angulos, e também sob a ótica dos familiares de todas as vítimas e não apenas de um ou de outro lado. Afinal isto não é uma partida de futebol em que há os torcedores do Remo e do Paissandu, ou uma luta de vale tudo entre dois grupos, os dos defensores de direitos humanos dos delinqüentes e os dos defensores dos direitos da vítimas. A defesa dos direitos humanos não merece ser colocada como um embate maniqueísta entre o bem e o mal, afinal direitos humanos são para todos, inclusive para os “menos humanos” e para os “demasiadamente humanos”. Os direitos humanos são na verdade um parâmetro de um ideário de Justiça Social e um conjunto de princípios jurídicos, legais, éticos baseados no princípio da dignidade humana.
O “pessoal dos direitos humanos” é, na verdade, a sociedade civil que espera ter o direito de viver com dignidade. Mas é intrigante que, nela própria, tantos se voltem contra seus interesses, sobretudo quando a sede de justiça fica forte demais, pendendo para a sede de vingança. Infelizmente a impunidade e o medo são capazes de transformar pessoas minimamente esclarecidas em carrascos aplicadores da lei de Talião. Talvez seja essa uma das origens de um fenômeno curioso: o discurso pronto e unívoco contra “o pessoal dos direitos humanos”.
Que sejam apurados sim os possíveis excessos, de ambos os lados até para que os familiares das vítimas possam ver investigadas as razões dessas mortes, o que claramente não irá trazê-los de volta, mas que ao menos possam ter direito á verdade.
Na ocasião, parabenizo também a atitude corajosa do Coronel Costa Junior o que prova que a mudança na corporação militar é possível a partir da mudança de comportamento e atitudes de pessoas dispostas a multiplicar tais atitudes, afinal as instituições são feitas de pessoas e quanto mais humanas, melhor.

Anna Cláudia Lins (finalizando)

Luiza Montenegro Duarte disse...

Anna,

Também me considero do "pessoal dos Direitos Humanos". Acho essencial que mantenhamos os princípios da dignidade, justiça e fraternidade em relação a todos, inclusive aos "menos humanos" (acho que é isso que as pessoas acham dos "marginais").
Por outro lado, tento compreender o que leva pessoas normalmente solidárias e justas a comemorar a morte de um bandido ou seu espancamento por populares. Na verdade, a maioria das pessoas tem essa reação hoje em dia. Na minha casa, sou a mais absoluta exceção. Então, porque meus pais, irmãos, namorado e amigos (enfim, pessoas que eu amo e considero boas) acham mesmo que "bandido bom é bandido morto" e que "o pessoal dos direitos humanos só defende bandido"?
Pode ser ignorância, pode ser falta de informação, pode ser a imprensa sensacionalista e outras mil coisas. Ou todas elas juntas. Se eu tivesse que apontar, porém, uma razão maior, eu diria que a causa disso é a falência do estado brasileiro e de suas instituições em geral.
O contratualismo necessita de instituições fortes. Os homens abrem mão de sua liberdade (inclusive a do "olho por olho, dente por dente") em troca de uma ordem social e de sua própria segurança. As instituições brasileiras (sendo nesse caso específico as mais importantes a polícia e o Poder Judiciário) vem falhando visivelmente na garantia de ambas.
A imprensa, sensacionalista ou não, noticia que criminosos condenados continuam soltos e seguem roubando ou matando livremente. Os réus de "colarinho branco" nunca chegam a uma punição de fato. O prefeito corrupto é cassado e continua no cargo. Mensalmente há uma fuga em alguma delegacia, etc. Desculpem, mas é muito difícil para um leigo entender todas as nossas justificativas jurídicas para esses fatos. Alguns casos podem até estar corretos, mas outros são fruto de mero despreparo, morosidade, desinteresse e mais corrupção, o que leva todos os casos à vala comum da impunidade, na visão dos jurisdicionados.
Na visão das pessoas, elas, cidadãs de bem, trabalhadoras, cumpridoras das leis, pagadora de impostos, etc, se vêem tolidas no seu direito de dormir em paz quando os filhos saem, de andar à pé durante a noite (dirigir também assusta!), de se demorar no carro na frente de casa, de tirar dinheiro no banco, de andar de relógio ou atender o celular na rua, de sentar na calçada pra conversar e outras pequenas necessidades ou desejos que é absurdo que não possam satisfazer. E, na visão dessas pessoas, a culpa é dos “bandidos”, que a “polícia corrupta e incompetente” não tem condições de prender e, quando prende, “a justiça solta”.
Então, seguindo a lógica do contratualismo, se o governo falha nas garantias estipuladas ou ultrapassa os limites de seu poder, o contrato está rompido e o povo tem o direito de se rebelar. Parece que ele está se rebelando e por mais que achemos isso chocante, não podemos dizer que é totalmente incompreensível.

Ana Miranda disse...

Concordo que "Direitos Humanos" é para todas as pessoas, infelizmente, nunca vejo as famílias das vítimas sendo amparadas pelo "pessoal" dos direitos humanos.
Por que qdo uma pessoa é assassinada por um bandido, a polícia prende esse bandido e o "pessoal" dos direitos humanos preocupa-se com o bandido, mas não vai à casa da família da vítima, principalmente qdo é um pai de família, às vezes o único a sustentar a casa???
Não estou falando só de família de policial, não. Estou falando de vítimas em geral.
E qdo o assassino não é preso e o resto da família passa a viver desesperadamente com medo?
Nunca ouvi dizer que houve alguém dos direitos humanos à casa dessa família dando apoioe nem falo de apoio financeiro, falo de apoio emocional mesmo.
E qto às atividades policiais, infelizmente grande parte da população não sabe de seus direitos, pois nos são impostos nossos deveres, sempre.
Então acho triste precisarmos que alguém precise alerta uma grande parte da população que a polícia não tem o direito de arrombar sua porta, de lhe tratar com brutalidade, de lhe revistarpor causa da cor de sua pele ou por seu "status"social.
Sei bem o que é alertar as pessoas sobre seus direitos, pois mesmo sem ser advogada, nem nada, faço parte de um Comitê que tem a preocupação de levar às pessoas que vivem em ocupações seu direito à uma moradia digna. E sei o qto eles são carentes de seus direitos.
E acho horrível que tenhamos que ir até eles levar esses conehcimentos, qdo acho que eles deveriam ter conehcimento de todos seus direitos, pois são cidadãos.
Gostaria muito que o "pessoal" dos direitos humanos lembrassem tbm das famílias das vítimas, principalmente das famílias carentes, pois els não têm dinehiro para comprar comida, fazer terapia então, está fora de cogitação, e eles precisam e muito, de apoio moral!!!
Meu desejo de um mundo melhor tem que ser para essa vida, pois não não acreedito em outras.
Não dá para esperar mais.

Ana Miranda disse...

E se a polícia pune os pobres e libera os ricos, pois é exatmente assim que acontece, todos sabemos que cadeia é para pobre, a culpa é exclusivamente nossa que votamos nas pessoas que fazem as nossas leis.
Minha principalmente, porque mesmo morrendo de vergonha, sou obrigada a confessar que há umas 5 eleições só voto 00-confirma, ajudando a proliferar a corrupção nesse país, que na minha opinião, é a grande causadora de toda essa violência. Corrupção que gera impunidade e que gera, entre as pessoas de bem, a descrença total nessa política fajuta.

Ana Miranda disse...

A-do-ro ver no papel as coisas lindas que se escrevem.
Infelizmente na prática, nem sempre é assim...
Que bom que exista o "pessoal" dos direitos humanos, defendendo as vítimas em geral.
Que pena que seja igual ao MST, tentam colocar contra a população. O caso do MST eu conheço, dos direitos humanos, não.

Ana Miranda disse...

Último detalhe, não tenho a menor intenção de provovar quem quer que seja, exponho, e exporei enquanto o Yúdice permitir, a minha opinião.
Desculpe-me Yúdice ter usado esse espaço para demonstrar minha indignação a uma reportagem que me tirou do sério...

Yúdice Andrade disse...

Vocês estão demais, minhas queridas! Terão o destaque que merecem.

saibadascoisas disse...

Volto ao blog não apenas para agradecer as referências ao meu nome, mas sobretudo para registrar o alto nível do debate.
Também acolho com humildade todas as referências sobre as falhas ventiladas sobre a minha (nossa) corporação. Seria hipocrisia não admiti-las, numa instituição com mais de 13 mil pessoas.
Quero ainda deixá-los informados que na manhã de hoje estivemos em um culto realizado nas instalações físicas da 2ª. Zona de Policiamento, em São Braz, local onde trabalhava o falecido cabo Moisés, da Polícia Militar. Lá estavam seus companheiros, policiaismiitare e civis, além de familiares, dentre estes a sua esposa, Helen e a sua genitora, dona Bete.
Temos dado todo o apoio à família. Um capitão foi designado para orientar a esposa sobre todos os procedimentos relativos à assistência às filhas de 04 e de 08 anos de idade e demais direitos da viúva.
As despesas relativas ao enterro do policial foram custeadas pelo Estado e Moisés teve honras militares durante o seu funeral.
Também foi nomeado um tenente-coronel para presidir o inquérito policial militar sobre o fato e findo o qual, na condição de comandante de policiamento da capital, vou solicitar ao comandante geral da Polícia Militar a promoção post mortem do cabo Moisés.
É o mínimo que podemos fazer para amenizar o sofrimento da família.
Não deixa de ser, também, um reconhecimento a quem abraçou uma carreira e disse em juramento que defenderia a sociedade “mesmo com o risco da própria vida”.
Moisés morreu trabalhando. Foi vítima da criminalidade que ele próprio combatia.

Parabéns ao Yúdice, que tem um espaço que ganha a credibilidade pelo alto nível de seus leitores, que se manifestam para a melhoria das instituições e da democracia.
Isso me deixa muito honrado, como policial militar e como cidadão da minha terra.
Muito obrigado.
Cel PM Costa Jr.

Anônimo disse...

É Luiza...
concordo contigo!
Que bom saber que nao estamos só e nos multiplicando cada vez mais, mesmo que o cenário seja desolador, nao nos deixemos acreditar em nossos ideiais e construi-los dia a dia.
saudações,
Anna Lins

À Ana Miranda,
Desculpe, mais acredito que toda generalização não é inteligente para se iniciar debates, principalmente como estes...
portanto, como disse não me senti provocada, mas apenas no desejo de me incluir na tua denominação "pessoal dos direitos humanos" e me posicionar sobre suas declarações,no mais tens todo o direito de criticar. Vc e diversas pessoas que estão amarguradas, inquietas, descrentes, amedrontadas e revoltadas. No fundo, no fundo...te compreendo, pois estou a ponto de começar a anular meus votos também.
saudações,
Anna Lins