terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Equipamentos específicos?

O primeiro shopping center de Belém o Iguatemi, hoje Pátio foi inaugurado em 27.10.1993. O Castanheira, em 30 de novembro do mesmo ano. Àquela altura, por estas bandas computador pessoal ainda era coisa de poucos. Internet então, nem se fala. Por isso, a ideia de que qualquer pessoa pudesse escrever e disponibilizar ao mundo suas impressões sobre o cotidiano, como hoje fazemos através da blogosfera, era algo impensável.
O terceiro grande shopping da cidade, o Boulevard, recém inaugurado, chegou já dentro do contexto que acabei de mencionar. Por isso, sua inauguração mobilizou um monte de blogs, nos quais foram publicados textos e fotos do empreendimento, fazendo-lhe uma festa que eu faria, talvez, para a inauguração de um Guggenheim. Ou do Aquário da Amazônia, cuja construção fora anunciada pelo governo Ana Júlia, não passando de mero anúncio.
As compras natalinas me levaram a conhecer o Boulevard sem dúvida, o shopping mais bonito da cidade. Até as caixas de contenção das mangueiras de incêndio são sofisticadas. Pessoalmente, incomodou-me aquele branco que domina tudo, mas isso porque não gosto de branco. Olhando do último piso, pelo vão central, cheio de branco, vidro e amplidão, a sensação foi de vertigem. Literalmente.
Mas não estou aqui para falar sobre o Boulevard, e sim para fazer uma pergunta. Em um dos pisos do shopping, topei com um "sanitário teen". Além da breguice ridícula da assimilação de vocábulos estrangeiros (em inglês, para ser mais exato), que diabos vem a ser um sanitário teen?! Por acaso, existe alguma necessidade técnica, fisiológica ou de segurança que justifique separar os usuários já separados por sexo, compreensivelmente por faixas etárias? Os equipamentos, por acaso, são diferentes?
A única razão que vejo para a funcionalidade boba é agradar um segmento de consumidor, que depende menos dos pais para fazer suas próprias compras (porque dispõe de dinheiro ou de cartões e anda menos com a família e mais com os amigos) e, por isso, passou a merecer ser mimado em suas frescurinhas e chiliques, tais como contar com essa absurda privacidade. Absurda porque não é uma verdadeira privacidade, no sentido de proteção da própria intimidade, e sim a garantia de que nenhuma mãe, tia ou irmã mais velha perturbará os esquemas a serem maquinados nas cada vez mais cabeludas conversas de pré-adolescentes.
A menos que me apresentem alguma outra razão, que tenha passado despercebida a este ranzinza, "sanitários teen" são uma idiotice.
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9 comentários:

Anônimo disse...

Quando visitei o shopping me deparei com essa novidade. Desnecessária, mas a ideia parece ser nova. Imediatemente tive que ir lá ver do que se tratava, pois imaginava que um banheiro 'teen' teria Fresno, Latino, desenhos do Naruto além de outras contemporaneidades que atraem esse público. No interior, nada novo, a não ser um duas televisões e mictórios reduzidos.
O que deixou - em meu entender - mais sem sentido nessa inovação do shopping foi a placa de aviso na entrada do banheiro: "Proibido a entrada de maiores de 17 anos". Duas interpretações: primeiramente, nacionalista, se for pra atrair um público jovem, em que grande parte está para prestar vestibular, por que não informar fazendo o uso correto da concordância da língua portuguesa?;
segundo, se for fazer tanto uso do estrangeirismo (inglês), o banheiro pode ser utilizado até pelos quem tem 19 anos('nineTEEN').
E não encontrei fraldários como existem no Pátio Belém...

Leonardo Santa Brígida

Luiza Montenegro Duarte disse...

Ah, Professor, me irrita TANTO essas expressões em inglês! Não entrando no mérito da utilidade de um sanitário para jovens (que também não vejo nenhuma, frise-se), será que alguém achou que "Sanitário Teen" era chique, de alguma forma? Achei uma das coisas mais cafonas que li nos últimos tempos! Porque não "Sanitário Jovem"?
Algumas das coisas que mais me chamam a atenção ultimamente são as propagandas dos novos prédios. Todos eles tem "homme cinema", "fitness room", "solarium" (esse eu ainda não descobri o que é!), dentre outras coisas que ninguém usa.
Os cabelereiros agora são "Hair Stylists"; as doceiras são "Cake Designers"; as coisas da moda são "hype"; promoção é "sale".
Particularmente, só posso atribuir isso a uma boa dose de cafonisse e à baixa auto-estima do brasileiro. Sem contar que muitas dessas coisas são contrárias ao Código de Defesa do Consumidor, que exige que os anúncios sejam feitos em língua portuguesa.
Os países hispânicos, por exemplo, não abrem mão e "traduzem" tudo. Não é à tôa que o Big Brother lá é Gran Hermano (apenas um exemplo ilustrativo, não se aborreça! hehe).
Não sou radical e sei que os idiomas estão em constante mutação, ainda mais com a interação que existe hoje entre os países, mas há um exagero absurdo, pois não são novas palavras, novas coisas que vão surgindo, e sim uma mera substituição de palavras que existem da nossa língua, sem nenhuma justificativa.
Antes, as palavras tinham origem inglesa, mas eram adaptadas à nossa conjunção verbal e pronúncia (como "deletar"). Não se tem mais esse cuidado, usa-se a palavra na língua original e pronto. E aí de quem não souber que "a" tem som "ei"!

Ana Paula disse...

Yúdice

Acredito que o "sanitário teen" tenha sido criado por uma questão de proteção aos pré-adolescentes e adolescentes. Vejo claramente a utilidade dele, quando me recordo que sempre que vou ao shopping com minha tia e meu primo de 8 anos, que logicamente não aceita mais frequentar o banheiro feminino junto à mãe e, que sempre que vai ao masculino sozinho é cercado de recomendações acerca de não falar com nenhum homem estranho e etc. No mundo de hoje, onde pedófilos passam despercebidos entre nós, de certa forma, um banheiro assim acaba sendo útil por ser utilizado somente por pessoinhas da mesma faixa etária.

Ana Miranda disse...

Tudo pelo consumismo.
Quem são os maiores consumidores do planeta senão as crianças e adolescentes?
Tbm é muito mais fácil para os pais deixarem seus filhos nos shoppings, onde eles estarão em "segurança" e os logistas sabendo disso, capricham na "puxação de saco"...
Uma moça foi assaltada dentro de um shopping em São Paulo, será que os pais continuarão a sentirem-se tranquilos enquanto seus filhos circulam pelos shoppings?

Bia disse...

Caro Yúdice,
com a poesia e a esperança de Drummond, desejo que seu Natal seja feliz e que 2010 seja uma multiplicação infinita de desejos realizados.

Adelina


Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.

Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.

Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente.

Carlos Drummond de Andrade

Yúdice Andrade disse...

Leonardo, eu sou tão enquadrado que em momento algum me passou pela cabeça entrar no local, nem que fosse apenas para conhecer. Se me tivesse passado, eu desistiria assim que visse a tal placa. Aliás, que diabos foste fazer lá dentro? Vais me dizer que só tens 17?!
Em todo caso, valeu pela informação de que há mictórios reduzidos. Mas, pensando bem, por quê? A altura normal dos mictórios é perfeitamente adequada a adultos e adolescentes (ainda mais esses galalaus de hoje em dia!). Poderia ser um problema para crianças, mas estas não são o público alvo dos sanitários em questão.
Gostaria de saber de alguma mulher qual a diferença do "sanitário teen" feminino para os convencionais.
PS - O Boulevard tem fraldário, sim. Assim como o Castanheira.

Luiza, por outras postagens minhas sabes que concordo contigo. Detesto esses estrangeirismos. Nosso idioma é tão mais bonito! E mesmo que não fosse, é o que podemos usar.
A propósito, tenho um amigo arquiteto que projeta edifícios. Ele anda de saco cheio desse modismo e tem colocado termos em português em seus projetos.

Ana Paula, juro que pensei nessa utilidade que você menciona. Porque foi a única hipótese decente que me passou pela cabeça. Mas omiti do texto por desejar saber se mais alguém pensaria o mesmo, levando em conta que a ideia, aparentemente boa, é de uma inutilidade absurda. O pedófilo não precisa do banheiro para cooptar ou atacar vítimas. Pode parecer um lugar mais fácil, mas por outro lado é também muito óbvio e, por isso mesmo, visado.
Um menino, um adolescente, em pleno período de autoafirmação, particularmente de sua masculinidade, não se sentiria confortável em ser observado por um adulto no banheiro. Seria uma péssima abordagem. Mais fácil atrair a confiança dele na área de jogos, falando sobre games e coisas de que garotos gostam. Na lanchonete, num elevador, na descida da escada rolante. Qualquer lugar seria eficiente para um pedófilo contumaz.
No mais, sempre se pode burlar a segurança do "sanitário teen" por meio de intermediários.
Por isso, minha cara, realmente se a ideia não for idiota, porque considerou o item segurança, ela não deixa de ser tosca - no mínimo, ingênua.

Ana, os assaltos em shoppings aqui acontecem com mais frequência do que gostaríamos. Já houve tiroteio dentro de um. Como disse acima, estamos no campo da falsa segurança.

Bia, que carinho maravilhoso! Merece destaque.

Breno Peck disse...

Ironicamente o funcionário que cuida do "banheiro teen" NÃO é um menor aprendiz.

. disse...

Só sei de uma coisa: até onde eu conseguir impedir, a Dalila nunca entrará num sanitário teen!!!!
Meeeeeeedaaa de adolescentes soltos sozinhos.

Yúdice Andrade disse...

O Breno matou a pau: se o funcionário é um adulto, como assegurar a tal proteção contra os pedófilos?

Eu tenho pânica, Waleiska.