Na continuação dos nossos debates em relação à postagem "Barbárie", o Cel. Costa Jr. fornece mais explicações, para quem deseja compreender um pouco melhor o complexo fenômeno da atuação policial:
Yúdice e Sra Rita Helena.
Na condição de Comandante de Policiamento de nossa capital, sei da responsabilidade que possuo.
Quero dizer, também, que divido esta responsabiliade com 2.300 profissionais policiais militares, que também são cidadãos de nossa querida Belém. E como cidadãos, também pecisamos de segurança para nós e para nossa família.
O evento da quinta-feira tirou de nosso convívio, o cabo Moisés, da 2ª Zpol (Zona de Policiamento) e isso nos deixou muito tristes. Sem comentar as dores de seus familiares. A Polícia Militar deu toda a asistência à família, através do Serviço de Psicologia e Assistência Social. A instituição custeou todo o funeral de seu integrante e lhe prestou honras fúnebres.
Isso era o mínimo que podíamos fazer.
Mas, a corporação e a família perdeu um ser humano. Nada o trará de volta.
A ocorrência foi um novo ensinamento. Ela será utilizada para estudo de caso e certamente redundará em nosso aprimoramento.
Em ocorrência como a que se eu na Travessa 3 de Maio, é preciso que o cidadão entenda, ela não teve as etapas que normalmente se sucedem numa ocorrência com refém.
Normalmente, há o cerco, o isolamento e a contenção. Depois, é normal que haja uma estabilização. Em seguida se dá a negociação.
Mas, nem bem ocorreu o cerco e o clima ainda estava muito tenso. O cidadão infrator já havia efetuado dois disparos e isso gerou toda a tensão, inclusive entre os policiais.
O assaltante não demonstrava a intensão de se render e apontava a arma para a refém. Foi nesse momento que um dos policiais efetuou o disparo no assaltante e ademais as imagens mostraram o que ocorreu.
A D. Rita tem razão: a nossa cidade parece que tem algo diferente. Nossos jovens perderam os escrúpulos. Parece que assaltar par eles é "se dar bem".
Há por trás disso(acredite) todo um incentivo ao consumo e a questão das drogas.
O incentivo ao consumo se dá porque o jovem ir aos seus encontros sociais vestido com a melhor roupa e calçando o melhor tênis. Chega numa festa de Tchnobrega, ele quer impressionar as jovens no baile. Ora, se ele não tem renda, está desempregado, como é que ele conseguirá trajar-se e adquirir, na festa, a cerveja ou outra bebida qualquer?
Ele precisará subtrair de alguém.
Por outro lado, a questão das drogas. Quase que 90% dos homicídios em nossa capital estão ocorrendo por acerto de contas. E as drogas estão por trás dessas ocorrências.
Decerto que eu escreveria centenas de linhas neste blog e não esgotaríamos o assunto.
Mas, resumidamente, estamos perdendo para a desestruturação familiar, pela ausência de Deus na vida das pessoas, pela baixa qualidade do ensino público e pela proliferação das drogas.
E nós, policiais aqui na ponta de todo o problema... fazendo o papel de pai, de professor, de juiz, de médico, de padre, de pastor... numa luta incansável, que não vai resolver nunca o problema.
Não quereos dizer que o nosso trabalho não seja importante e necessário.
Mas, é bom que cada cidadão reflita que antes do trabalho policial, muitas esferas da sociedade estão falhando.
É apenas uma breve reflexão.
Cel PM Costa Júnior - Comandante de Policiamento da Capital
POLÍCIA MILITAR DO PARÁ
Muito obrigado, coronel, por humanizar o debate. Na maior parte do tempo, as pessoas tendem a encarar a polícia simplesmente como uma instituição e não, como também é, uma grande comunidade de pessoas, tendo que cuidar dos mesmos assuntos e interesses que qualquer um de nós.
7 comentários:
Concordo com quase tudo o que foi dito. Só não acho que essa seja uma peculiaridade da nossa cidade. A nossa cidade não tem nada de "diferente". Nossos jovens não perderam os escrúpulos sozinhos. Muitas cidades brasileiras vivem uma violência ainda maior que Belém (como Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, etc) e outras tantas vivem situação semelhante. A motivação dos jovens é sempre a mesma: A ascensão "social" e "poder".
Os nossos compram roupas caras para ir ao tecnobrega, os cariocas para ir ao baile funk e os paulistas para as festas de hip hop.
As drogas estão diretamente ligadas a esse desejo. Aposto que o sonho de muitos garotos no Rio de Janeiro é ser o "chefe" de uma favela, ter o "respeito" dos amigos, o temor dos inimigos e a "admiração" das mulheres. O mesmo deve acontecer por aqui, em menor escala.
Infelizmente, Coronel e D. Rita, o problema não é local.
Sabe o que mais me revoltou nessa história???
É ligar a televisão e ver o pessoal dos direitos humanos esbravejando contra a ação dos policiais, preocupados com o bandido que morreu, mas não ouvi em momento algum aquela mulher preocupada com a família que perdeu o policial, que estava trabalhando.
E aí, cadê o pessoal dos direitos humanos para dar apoio à família do policial morto no exercício de sua profissão que é defender a população????
E aí pessoal??? E família do cidadão que estava trabalhando, qdo é que vcs irão lá levar o apoio de vcs???
Quando, hein??? Quando???
Só mais uma coisinha, sou obrigada a discordar veementemente sobre a "ausência de Deus" na vida das pessoas...
Sou ateia, não tenho Deus na minha vida e nem por isso saio cometendo essas barbaridades por aí.
Só para constar...
Apenas em um ponto eu discordo do Coronel: quando ele fala na "falta de Deus na vida das pessoas". Porque como representante do poder público, ao abordar o problema da criminalidade, precisa ter objetividade. A todo momento, podemos ouvir de qualquer pessoa, que "falta Deus na vida das pessoas", mas essa idéia de Deus já é tão particularizada, tão apropriada pelos discursos do senso comum, que reflete mais o egocentrismo do belenense (e não é à toa que o nosso blogger aqui considera Belém a Capital do Egocentrismo) que uma noção de solidariedade e fraternidade, presente no fundamento inicial do cristianismo.
As religiões perderam o controle sobre o conceito de "Deus". Cada um o imagina como quer. Na Colômbia, até os assassinos de aluguel têm sua padroeira, para a qual rezam, antes de realizar uma execução, para que não errem o alvo. Coronel, não me queira mal. Sua análise é muito boa, mas não há ferramentas estatísticas que meçam o índice de fé da população, nem de como essa fé influencie na moral particular.
Também acho que a questão da fé não reforça argumentos objetivos!
Abraços.
Caro Coronel,
Como é bom ver alguém da cúpula da polícia se manifestando sobre esse assunto. É de suma importância que as instituições, sejam quais forem, engajem debate com a população.
Todos nós temos uma idéia da penúria que são as instituições policiais no Brasil, mas muitas vezes não temos a real dimensão de como os indivíduos que a compõem pensam, quais suas principais dificuldades, receios, desejos, esperanças.
Essa informação é de suma importância, pois serve para avaliarmos criticamente a atuação de vocês e também defendermos as suas causas de ataques injustos.
Esse espaço (assim como outros na internet e fora dela) é frequentado por diversas pessoas cujo interesse é debater e circular argumentos para formarmos nossas opiniões. Que a polícia siga o seu exemplo e cada vez mais se explique, demonstre suas versões, se justifique para a população sempre, inclusive quando reprova as atitudes de seus profissionais. Esse seria um primeiro passo para uma vivência democrática das instituições.
Quanto ao mérito de seu comentário, reconheço a falha estrutural do sistema que estoura no sistema de segurança pública. Esse já é o pano de fundo de qualquer discussão sobre as dificuldades da polícia.
Achei muito importante sua análise técnica sobre o caso, para justificar o porquê que a operação policial nào conseguiu evitar as mortes nesse incidente. Faço votos que seja um caso que gere aprendizado e que possamos ter mais chance de evitar perdas como essas.
Concordo com sua análise de que as instituições tradicionais (família, igreja, moralidade cristã, etc) estão se corroendo em nosso tempo. Mas discordo de que a solução seja lembrá-las com saudosismo ou preservar suas "essencias". Temos de lidar com os problemas conforme nossa época, que é a um só tempo desprovida de uma única moral definitiva e incessante revisora da moral existente.
Por fim, solidarizo-me com o senhor, com a corporação policial e com a família do policial assassinado em serviço. As vezes esquecemos que ainda nesse mundo blasé, enfastiado, há quem se arrisque todos os dias para alimentar a própria família e para servir a população em troca de um salário incompatível com a dignidade dessa função. Ao menos que saibam o quanto valorizamos o trabalho de vocês, que nos juntamos nesse luto e agradecemos aqueles que honram o serviço público.
Atenciosamente,
Daniel Coutinho da Silveira
Dando razão a Luiza, pondero que um dos grandes problemas de nossa juventude é essa insistência em copiar o que não presta. Começa pela indumentária, por certos hábitos e gostos. Daí vem o tipo de produto que se consome. E coisas mais sérias. Os bailes para glorificação dos criminosos eram típicos do narcotráfico no Rio de Janeiro, mas o que vemos nas festas de aparelhagens de Belém, hoje? A "Galera da GTA"?
Cópia. Com efeitos ruins para todos nós. Daí que, com base nos valores que o coronel lembrou estarem sendo perdidos, poderíamos copiar coisas melhores, úteis e edificantes.
Ana, sobre o "pessoal dos direitos humanos" e o discurso em torno deles, prefiro não comentar. Um passeio pelo passado do blog poderia lançar luzes sobre esta particularidade.
No mais, a maioria da sociedade se regula por referenciais religiosos, sim, mesmo que com a plena consciência de que pretende violá-los. Por isso, acredito que a alegação do coronel se reforça e continua sendo pertinente.
Artur e Rita, com base no que escrevi acima, concordo que agentes públicos devem ater-se a argumentos e finalidades objetivos. Contudo, onde é que esses objetivos serão implementados? Na sociedade. Com todos os seus valores e, dentre eles, a religião é um dos mais fortes. Por conseguinte, entendo que o poder público deve sim usar a religião (termo empregado em sentido amplo) como parceira.
E é a capital mundial do egocentrismo.
Daniel, vais à ribalta.
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