Em 1982, o mundo viu surgir, nas prateleiras das lojas, uma nova versão do álbum The Visitors, da famosa banda Abba, lançado no ano anterior. Era o formato compact disc, resultado de uma parceria entre Philips e Sony.
Os primeiros CD saíram de uma fábrica da Philips, na Alemanha. A intenção dos fabricantes era modesta: produzir uma mídia que suportasse uma hora de áudio. Esse tempo foi ampliado para 74 minutos, a fim de que a 9ª Sinfonia de Beethoven coubesse num único disco. Aliás, no começo de sua vida comercial, a grande maioria dos CD continha música clássica, mas o motivo não era nobre: a indústria acreditava que o público consumidor desse tipo específico de música teria mais dinheiro para gastar com a nova tecnologia. Afinal, o CD player chegou ao mercado custando US$ 1,9 mil (ou mais de 4.000 reais).
O que nem os fabricantes esperavam era que, em tão pouco tempo, os discos de vinil caíssem no obscurantismo, atraentes apenas para fãs e DJ, e a nova tecnologia fosse adotada pela informática para o armazenamento de dados, um sucesso absoluto hoje em dia.
No Brasil, o CD chegou mais tarde, claro. Ganhei o meu primeiro no comecinho dos anos 90. Era uma coletânea de canções populares gravadas por Plácido Domingo que tenho e escuto até hoje. Lembro-me da satisfação de não precisar trocar o lado do disco, de poder selecionar faixas ou escutá-las aleatoriamente. Foi quando aprendi o sentido da palavra "randômico". Falando em lados, pergunto-me o que o amigo Fred Guerreiro, que agora sei ter sido dono da querida loja Lado A Discos, achou de não existirem mais os lados A e B.
25 anos e 200 bilhões de CD depois, a tecnologia mostra as suas garras: as inovações duram cada vez menos tempo. Veio o DVD, que conviveu pacificamente com o CD no mercado, inclusive na informática. Mas, nos últimos anos, justamente a informática se tornou a maior ameaça aos CD. Com a popularização das mídias .mp3 e .wma, além de sei lá mais que outras, a indústria foi obrigada a se reinventar. Os prejuízos se acumulam e repercutem diretamente sobre os artistas. Esqueça essa história de direitos autorais. A contrafação é uma realidade sem volta. Afinal, melhor do que ter no carro uma disqueteira com capacidade para seis ou dez unidades, é ter um único CD com 250 músicas gravadas. Coloco um na segunda-feira, a semana acaba e o CD continua.
O nosso amiguinho, decerto, ainda viverá um bom tempo conosco. Afinal, é nele que gravamos as nossas próprias seleções musicais. Muitas alegrias nos deu e continuará dando. Então, feliz aniversário.
2 comentários:
Caro Yúdice:
Se por um lado ganhamos praticidade pelo tamanho e por haver um lado só, perdemos muito da qualidade artística representada naquele momento do vinil. Quase tudo.
Naqueles tempos, como acho que até você já bem observou, até a capa e os encartes eram obras de arte. Lia-se a letra para entender o seu significado. Hoje não há mais letras, quanto mais poesia. Eram adereços que, associados à musica, formavam a expressão completa de um momento ímpar de efervescência cultural.
Era a época de compor música por prazer, em vez de gravar mais um CD ou DVD como se diz hoje. Era a época de escutar um disco todinho, nem que por força da preguiça e embriaguez para levantar para pegar o braço do toca-discos e mudar de faixa. Hoje é só tocar um botãozinho 1, 2, 3, 4, ... e por aí vai. Ou seja, a música ficou tão pobre que virou número de recluso das trevas da ignorância musical. Hoje as pessoas compram CD por uma música, que quase sempre não presta, e já programam o aparelho para tocar só aquilo; meus digníssimos "culturados" vizinhos que o digam, eles são o meu bonequinho Alf do antigo seriado enlatado norte-americano de TV: feios, sem graça e alienígenas aculturados da "piriquita".
Ademais, naquele tempo, como as gravações eram analógicas, o músico tinha de tocar pra valer, não havia muitos recursos digitais de remasterização para suprimir imperfeições. Hoje, ouve-se o CD e vai-se ao show do mesmo artista e tem-se a impressão de ter ido show errado.
No mais, penso, sem medo de errar, que a humanidade já produziu tudo de belo que poderia expressar pela música, restando-lhe como alternativa fazer o caminho de volta ao passado, nosso neoromantismo do século XXI.
Teus comentários, grande Fred, dão-me um sentimento saudosista, pois me remetem àquelas épocas. Era exatamente isso o que se dizia sobre as perdas que o CD representava. O fato é que se trata de uma polêmica sem vencedores, pois cada lado tem fortes argumentos. De minha parte, creio que o vinil cumpriu bem a sua missão, mas foi superado. Pessoalmente, não tenho vontade de escutar música em antigos vinis, mas acho um item de colecionador bastante charmoso.
No mais, acredito que ainda haja muita criatividade na música. Continuo adorando trilhas sonoras e algumas que escuto fazem a diferença. Adoro world music e penso que, curiosamente, é nesse retorno às origens que os músicos mostram a sua capacidade de se reinventar.
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