quarta-feira, 22 de agosto de 2007

E se tivessem desistido de Carolina?

O G1, portal de notícias da Globo, publica hoje uma extensa reportagem contando a história de Carolina, nome fictício dado a uma jovem agora com 19 anos, que ainda adolescente sofreu medida socioeducativa prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente. Sofreu internação na Fundação Casa, nome atual da famigerada FEBEM, que de bem estar do menor nunca teve nada. Na verdade, Carolina ainda está cumprindo a medida, mas ganhou o direito de permanecer em casa, sob vigilância.
O motivo? Ser estudiosa até demais. Participou do ENEM e sua média foi 81,27 — muito, muito superior à média nacional (42,95). Graças a isso, habilitou-se a se matricular numa faculdade beneficiada pelo Programa Universidade para Todos — ProUni.
Com todos os indícios de que está ressocializada, Carolina faz planos para o futuro, inclusive concluir a graduação em Administração para, depois, cursar Serviço Social, seu real objetivo. Ela foi sensibilizada para essa carreira pelos assistentes sociais que a atenderam durante sua internação.
Agora eu pergunto, principalmente aos entusiastas da redução da maioridade penal: e se a sociedade tivesse desistido de Carolina?
A moça foi sentenciada por tráfico de entorpecentes, cuja pena varia de 3 a 15 anos de reclusão e, por se tratar de crime hediondo, exige o regime fechado inicial. Se a maioridade penal ocorresse aos 16 anos, Carolina estaria agora em alguma penitenciária de segurança média ou máxima, sem perspectiva de liberdade. Não estaria estudando e, provavelmente, jamais chegaria a uma universidade. No dia em que voltasse às ruas, estigmatizada pela prisão, não teria oportunidades para realizar o projeto que agora está em plena execução.
Carolina está na fronteira entre o delinquente que iniciou uma carreira criminal e jamais se recuperará e o delinquente que reconhece os seus erros, recebe uma segunda chance e a agarra.
"Ora", direis, "ela é uma exceção. A maioria é moleque safado, mesmo!"
Leviandade sua. Você não conhece o histórico de vida dos jovens delinquentes. Não tem como julgar em que medida eles são realmente sociopatas e destinados geneticamente ao crime e à violência, ou vítimas de todo tipo de abandono: das famílias, do Estado, da comunidade em geral.
Duas coisas posso afirmar: há pessoas para as quais nenhuma ajuda será profícua. O cara é mal e incorrigível. Mas essa é a exceção. A grande maioria das pessoas precisa de orientação e apoio e reagirá às situações da vida na medida em que os tenha recebido.
Para estas, o assistente social gentil e comprometido faz toda a diferença. O profissional abusivo e cínico só teria corrompido ainda mais o caráter do público por ele atendido.
Para estas, o estímulo dado à jovem, para que pudesse estudar em sua casa, foi tão benéfico que já produziu importantes resultados.
Para estas, a existência de um programa social como o ProUni faz toda a diferença.
Para estas, até a escolha de uma carreira denuncia os valores mais solidamente construídos na alma.
Para quem faremos as nossas leis?

Um comentário:

Anônimo disse...

"Não tem como julgar em que medida eles são realmente sociopatas e destinados geneticamente ao crime e à violência, ou vítimas de todo tipo de abandono: das famílias, do Estado, da comunidade em geral. Duas coisas posso afirmar: há pessoas para as quais nenhuma ajuda será profícua. O cara é mal e incorrigível. Mas essa é a exceção"

Não tenho mais o que dizer!!!

E mesmo assim, se tratarem estes casos como exceção que trate os "menos favorecidos" que "crescem na vida" como tal!!! Afinal adoram fazer da exceção a regra!!!

Excelente colocação sua!!!


Abraçaao Primo!!!