Adoro refletir sobre o que leva uma pessoa a ter manias. Naturalmente, divago sobre as minhas. Dentre elas, fazer um exercício mental que consiste em identificar as causas de cada acontecimento. Não as causas superiores e metafísicas, aquelas para as quais teríamos que pensar no papel do ser humano no mundo ou nos desígnios de Deus. Refiro-me às causas próximas, mundanas mesmo, tais como: hoje você encontrou aquele grande amigo com o qual perdera contato há anos, apenas porque alguém segurou o elevador e você se atrasou dois minutos; ao botar o pé na rua, topou com o seu amigo e está radiante com o acontecimento. Ocorre que o seu vizinho segurou o elevador enquanto esperava a esposa, que passava mal devido a uma intoxicação alimentar, adquirida na véspera numa comemoração de aniversário de criança, nascida de mãe solteira. Em suma: o reencontro com seu amigo aconteceu porque, um dia, duas pessoas que você jamais conhecerá se esqueceram de usar preservativo.
O querido leitor pode achar que eu não sou muito bom da cabeça, mas considero esse exercício fascinante e muito divertido.
Costumo dizer que, se hoje sou um homem casado, é porque em 1999 minha amiga Bárbara Dias foi aprovada para cursar doutorado. A cadeia causal surgida daí é bem interessante, mas não será divulgada pela internet, que não é lugar para essas inconfidências. Seja como for, Barbarovska é minha madrinha de casamento, por justos motivos.
Experimente parar um momento do seu dia e imaginar as causas de estar onde está, naquele instante, fazendo o que estiver fazendo. Quando sentir o abraço da pessoa amada, pense se, talvez, ele não se originou num dia em que algo deu errado na sua vida e, aborrecido, você aceitou um convite inesperado para ir ao cinema, mudou de filme várias vezes até que, na fila, uma furtiva troca de olhares lhe valeu grandes alegrias depois.
Se essa maluquice que proponho não lhe servir para mostrar que coisas boas surgiram de outras nem tanto, quem sabe lhe ajude, ao menos, a compreender melhor sua própria vida e a lembrar que tudo que fazemos tem conseqüências. Usufrua do autoconhecimento.
3 comentários:
Caro Yúdice, tenho também a mesma maneira, de ficar ainda mais fascinado com o imponderável da vida, como você!
O máximo é quando penso que se meu pai não tivesse casado com minha mãe, ou se naquele dia, da minha concepção, alguém tivesse tocado a campainha para uma visita ou mesmo alguma outra ocorrência fortuita, tivesse desviado os fluidos do casal, eu não existiria, nunca mais!
Fico feliz, ou ao menos aliviado, ao saber que existem pessoas doidinhas além de mim no mundo. Obrigado pelo alento.
Grande Primo Yudice!!!
Pensei eu q fosse o unico "louco" a pensqar nessas coisas de relação causa efeito, porém em geral penso as cosias de maneira trágica e as vezes até os faço de heróis, como algo do tipo: "só estou aqui porque 10 anos atrás uma pessoa morreu, e o pai dela se mudou para cá etc..." então isso é o que em geral eu aço, mas é um exercício muito bom, sugiro que falas o exercício diferente. Pense como seria se aquilo não tivesse acontecido, como seria?
Acho que o universo diante da sua infinidade conspirou e deu fluxo às suas energias para que tal ação acontecesse, foi uma combinação de milhares (bilhares) de variáveis que resultaram em determinado fim.
Claro que pra um ateu seria razoável que não pensasse que isto seria uma obra metafísica, ou melhor, obra de Deus, porque até a metafísica eu as vezes aceito hehe
Grande Abraço!!!
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