Aliás, os norteamericanos tiveram do que se queixar. Durante dois anos, Russell provocou as autoridades com textos publicados. Um dia, no ano de 1918, foi intimado a esclarecer uma declaração que fizera insultando um aliado da Grã-Bretanha em tempo de guerra. O aliado eram os Estados Unidos e o comentário fora de que este país provavelmente intimidaria grevistas na Grã-Bretanha e na França depois que a guerra terminasse. Ocorre que essa afirmação fora baseada em um relatório do Senado americano, por isso há quem acredite que Russell foi condenado pelo conjunto da obra, mas sob o pretexto do fechamento daquele seu texto, do seguinte teor:
Não digo que estes pensamentos estejam na mente do governo. Todos os indícios tendem a mostrar que não há absolutamente nenhum pensamento na mente daqueles que ocupam os postos do Estado, e que eles vivem ao deus-dará, consolando-se com a ignorância e as tolices sentimentais.
Russell foi condenado a seis meses de prisão. Provavelmente, também pesou para isso sua recusa em alistar-se para a I Guerra Mundial, pois era um pacifista.
Já tinha traçado o seu plano para aquela "retirada forçada do mundo": por dia, quatro horas de escrita filosófica; quatro horas de leitura filosófica; quatro horas de leituras gerais. Graças a isso, sua passagem pelo cárcere foi profícua. Àquela altura, ele já publicara Principia Mathematica, que sabia ser obra de poucos leitores. Por isso, sua meta era esmiuçá-la, pois "se novos filósofos o compreendessem, enfrentariam os problemas filosóficos de maneira muito mais profícua do que costumavam fazer". Decorre daí que decidiu escrever dois livros: o primeiro seria um "prelúdio aos Principia"; o segundo, uma reelaboração meticulosa de "A filosofia do atomismo lógico". Saiu da prisão com o famoso Introdução à filosofia matemática pronto.
Russell foi laureado com o Nobel de Literatura em 1950, "em reconhecimento dos seus variados e significativos escritos, nos quais ele se bateu por ideais humanitários e pela liberdade do pensamento". Morreu em Penrhyndeudraeth aos 2.2.1970, de gripe.
Vale relatar um fato pitoresco de sua prisão. Ele mesmo o narrou em sua Autobiografia:
Fui muito confortado, ao chegar, pelo carcereiro no portão, que havia obtido informações sobre mim. Perguntou minha religião e respondi "agnóstico". Pediu-me que soletrasse a palavra e comentou, com um suspiro: "Bem, há muitas religiões, mas suponho que todas cultuam o mesmo Deus." Esse comentário me manteve de bom humor por cerca de uma semana.
Este texto destina-se apenas a aguçar a curiosidade em torno da vida e obra de Russell. As informações biográficas dele constantes foram colhidas na boa e velha Wikipedia. O restante foi retirado da apresentação escrita por John G. Slater, da Universidade de Toronto, para Introdução à filosofia matemática (Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2007).
Em 2008, um escritor (Apostolos Doxiadis), um professor universitário (Christos Papadimitriou) e um desenhista (Alecos Papadatos) se reuniram para contar a vida de Russel em uma graphic novel, um projeto interessantíssimo que a Martins Fontes publicou no Brasil em 2010. Comprei-o para presentear minha esposa, que é professora de Lógica, mas também li e achei muito instigante. Vale a pena conferir.
Site oficial do livro: http://www.logicomix.com/en/
Esta postagem foi modificada em 26.9.2011, para acrescentar a alusão a Logicomix.
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