domingo, 19 de agosto de 2007

Grandes personalidades: Bertrand Russell

Bertrand Arthur William Russell, 3º Conde Russell, nascido em Ravenscroft aos 18.5.1872, entrou para a História como matemático, filósofo (formado pela Universidade de Cambridge) e lógico. Também foi um político liberal, notável pelo trabalho de popularização da Filosofia. Mas sempre foi um indivíduo controvertido, pelas causas que defendia, tais como a ácida insurgência contra o uso de armas nucleares e contra a ação militar estadunidentes no Vietnã.
Aliás, os norteamericanos tiveram do que se queixar. Durante dois anos, Russell provocou as autoridades com textos publicados. Um dia, no ano de 1918, foi intimado a esclarecer uma declaração que fizera insultando um aliado da Grã-Bretanha em tempo de guerra. O aliado eram os Estados Unidos e o comentário fora de que este país provavelmente intimidaria grevistas na Grã-Bretanha e na França depois que a guerra terminasse. Ocorre que essa afirmação fora baseada em um relatório do Senado americano, por isso há quem acredite que Russell foi condenado pelo conjunto da obra, mas sob o pretexto do fechamento daquele seu texto, do seguinte teor:

Não digo que estes pensamentos estejam na mente do governo. Todos os indícios tendem a mostrar que não há absolutamente nenhum pensamento na mente daqueles que ocupam os postos do Estado, e que eles vivem ao deus-dará, consolando-se com a ignorância e as tolices sentimentais.

Russell foi condenado a seis meses de prisão. Provavelmente, também pesou para isso sua recusa em alistar-se para a I Guerra Mundial, pois era um pacifista.
Já tinha traçado o seu plano para aquela "retirada forçada do mundo": por dia, quatro horas de escrita filosófica; quatro horas de leitura filosófica; quatro horas de leituras gerais. Graças a isso, sua passagem pelo cárcere foi profícua. Àquela altura, ele já publicara Principia Mathematica, que sabia ser obra de poucos leitores. Por isso, sua meta era esmiuçá-la, pois "se novos filósofos o compreendessem, enfrentariam os problemas filosóficos de maneira muito mais profícua do que costumavam fazer". Decorre daí que decidiu escrever dois livros: o primeiro seria um "prelúdio aos Principia"; o segundo, uma reelaboração meticulosa de "A filosofia do atomismo lógico". Saiu da prisão com o famoso Introdução à filosofia matemática pronto.
Russell foi laureado com o Nobel de Literatura em 1950, "em reconhecimento dos seus variados e significativos escritos, nos quais ele se bateu por ideais humanitários e pela liberdade do pensamento". Morreu em Penrhyndeudraeth aos 2.2.1970, de gripe.
Vale relatar um fato pitoresco de sua prisão. Ele mesmo o narrou em sua Autobiografia:

Fui muito confortado, ao chegar, pelo carcereiro no portão, que havia obtido informações sobre mim. Perguntou minha religião e respondi "agnóstico". Pediu-me que soletrasse a palavra e comentou, com um suspiro: "Bem, há muitas religiões, mas suponho que todas cultuam o mesmo Deus." Esse comentário me manteve de bom humor por cerca de uma semana.

Este texto destina-se apenas a aguçar a curiosidade em torno da vida e obra de Russell. As informações biográficas dele constantes foram colhidas na boa e velha Wikipedia. O restante foi retirado da apresentação escrita por John G. Slater, da Universidade de Toronto, para Introdução à filosofia matemática (Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2007).
Em 2008, um escritor (Apostolos Doxiadis), um professor universitário (Christos Papadimitriou) e um desenhista (Alecos Papadatos) se reuniram para contar a vida de Russel em uma graphic novel, um projeto interessantíssimo que a Martins Fontes publicou no Brasil em 2010. Comprei-o para presentear minha esposa, que é professora de Lógica, mas também li e achei muito instigante. Vale a pena conferir.
Site oficial do livro: http://www.logicomix.com/en/

Esta postagem foi modificada em 26.9.2011, para acrescentar a alusão a Logicomix.

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