Todos os dias, leio alguns jornais pela internet e gasto algum tempo assistindo a telejornais em mais de uma emissora. Faço isso não apenas para estar um pouco informado, como para minimizar os efeitos nefastos das linhas editoriais tendenciosas que se vendem como imparciais.
O fato é que um dos assuntos mais debatidos há duas semanas é o acidente do voo 3054, da TAM. E, agora, com a divulgação de registros da caixa-preta de voz, cresce o interesse. Todavia, o que me impressiona é que, de acordo com uma fonte, essas informações aumentam as chances de o acidente ter sido provocado por falha humana. Outra fonte diz que aumentam as chances de falha mecânica. E, assim, conforme o gosto do freguês, quanto mais informações temos, mais desencontradas elas se mostram.
Entendo que isso decorre do mau uso que se tem dado às informações obtidas. Acima de tudo, como a imprensa tem lidado com a questão? Ontem, os deputados membros da CPI se irritaram com a divulgação de dados, através da Folha e da Veja. Deveriam ser sigilosos, mas alguém permitiu o seu vazamento para a imprensa. A troco de quê?
Até concordo com o deputado Fernando Gabeira, quando pondera que a imprensa é paga para descobrir e não para ocultar (embora oculte frequentemente, se for de sua conveniência). No entanto, há que se lembrar que muitas dezenas de famílias acompanham o caso com interesse pessoal e cada novo acontecimento mexe com seus justos sentimentos. Essas pessoas precisam ser poupadas de mais dor. Não se pode induzi-las a culpar o governo, para no mesmo dia jogar a culpa na TAM e, no momento seguinte, no piloto. Há grandes interesses em jogo, inclusive no que tange a indenizações.
Pessoalmente, achei horrível o destaque dado às notícias da caixa-preta de som. Nossa valorosa imprensa caprichou em expressões como "filme de terror", devido aos gritos. Que tal? As famílias das vítimas sabem que os passageiros tiveram tempo de compreender o que estava acontecendo e se apavorar. Mas deixar patente o desespero que sentiram é maltratar demais o espírito dos familiares. Por Deus, parem com isso!
No final das contas, a falta de respeito do brasileiro está imperando. O que devia ser sigiloso será cada vez mais público e, o que é pior, sem qualquer preocupação com os efeitos emocionais decorrentes.
É uma espécie de vitimização secundária. Os familiares já sofrem com o falecimento de seus amados. Agora precisam suportar o pouco caso de jornalistas e a impulsividade de parlamentares de boca grande. Que Deus os proteja.
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