Juridicamente, não há muito o que se dizer sobre esse primor jurisdicional transcrito na postagem anterior. É uma demonstração escancarada de que não existe juiz isento e de que todo provimento jurisdicional é menos a exteriorização do ordenamento jurídico vigente no país que da visão de mundo do magistrado, com suas virtudes e mazelas, o que não precisa ser necessariamente ruim. A cada um, segundo sua própria miopia.
O juiz machão Manoel Maximiano já foi afastado de suas funções e, pelo que consta, já andou se metendo em confusões anteriores. Agora, terá que responder ao Conselho Nacional de Justiça, além de ações que deverão ser propostas por pessoas e grupos que se sentiram prejudicados. Apoio, mesmo, parece que só recebeu do pai, segundo notícia que encontrei na Internet. Faz sentido. Um desvio comportamental assim intenso não surge do dia para a noite; deve ter sido alimentado de berço.
O rapaz, que parece ignorar a existência de gays nos meios judiciários, merece ser estudado pela ciência. Afinal, ele não apenas redefiniu o conceito de homofobia — traçando uma nítida linha divisória entre atletas homo e heterossexuais, que não devem misturar-se sob hipótese alguma —, como está convencido de que todo mundo concorda com ele, já que os atletas héteros, treinadores, comissão técnica e diretores de clubes, como afirmou, ficariam todos constrangidos com a proximidade de gays. Isso sem falar no público, que vai aos estádios, muitas vezes levando crianças.
Note-se, ainda, que a decisão é escrita numa linguagem de mesa de bar. Não parece um texto jurídico. Não que textos jurídicos devam ser floreados — vício patético que vem sendo combatido nos últimos anos, mas "ora, bolas, se a moda pega" também já é demais. Em suma, o moçoilo desceu das tamancas e proferiu a decisão que qualquer um de mesma mentalidade poderia ter proferido numa arquibancada cheirando a xixi, num joguinho qualquer da série C, daqueles de cumprir tabela. Talvez por isso ele tenha lembrado, ao final, que é magistrado. Talvez precisasse convencer a si mesmo.
No mais, não creio que os negros e os defensores do sistema de cotas tenham se sentido elogiados, com o teor da decisão.
O juizão, sem dúvida, não ama o Direito. Só ama o futebol, o que já é outro grande defeito. Se amasse o Direito, ou se tivesse maior familiaridade com o Direito Penal, saberia que, nos crimes contra a honra, pune-se a conduta que afeta ao menos potencialmente a honra da vítima, segundo uma compreensão da sociedade em certa época. Não importa se a vítima não considera, pessoalmente, a acusação ofensiva, bastando que as pessoas em seu meio o considerem. O camarada, definitivamente, distorceu o Direito para justificar-se. E, se o fez, certamente foi porque não queria se sentir ajudando um gay.
É, há muita gente precisando de ajuda — entenda-se: de tratamento.
6 comentários:
Yúdice, o caso deste juiz não é patológico, não; é pura e simples ignorância, da mais rasteira, e em todos os sentidos da palavra. E posso estar enganado, mas pelos termos utilizados na sentença, ainda me parece que ele estava bêbado ao dejetá-la.
No mérito não tenho nem o que dizer de tão abusrda que é a decisão. MAs uma outra coisa chamou minha atenção: um claro sintoma do total despreparo do juiz para a função é o trecho "É assim que eu penso... e porque penso assim, na condição de Magistrado, digo!". Ora, bolas! Se ele pensa assim, azar o dele!!!! A função dele não é dizer o que ele acha ou pensa! A função dele é outra, muito mais importante e útil! Abraços, Vlad.
Ele é da ala imperialista radical da "fiel". Tem medo da concorrência!!!
Concordo com o comentário acima, não é possível que alguém esteja na sua sanidade mental normal quando proferiu tal sentença!!!!
É de envergonhar, sem contar o linguajar de extrema vulgaridade que como definiste, "de mesa de bar"!!!
Eu sou apaixonado por futebol, as não cego diante da realidade, se ele existe façamos o contrário, tulizaremos para justamente fazer com que os homossexuais sejam mais aceitos!!!
Infeliz, mas muito infeliz o "juiz"!!!
Graned abraço Yudice!!!
Excelente post!
Até pude esquecer um pouco meus acometimentos.
Abs
Francisco, "dejetar" a decisão foi demais. Morri de rir.
Concordo, Vladimir, entendo que o juiz perdeu o referencial da condição em que se encontra. Só não sei se apenas nesse caso ou se definitivamente.
Fred, sobre essas minúcias futebolísticas, nada sei.
Jean, de acordo quanto a ter havido uma brutal inversão de valores e finalidades da prática jurisdicional.
Barretto, fico feliz. Espero desenvolver esses meus dotes "medicinais".
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