Afinal de contas, chope deve ter colarinho ou não?
Esta p
ergunta, que decerto já mobilizou milhões de pessoas ao longo das décadas, em torno das mesas de bares, sem que jamais se tenha chegado a um consenso, agora ganhou uma nova roupagem. Uma roupagem jurídico-processual. Pode parecer surreal, mas quem resolveu se pronunciar sobre o colarinho da bebida foi a Justiça Federal da 4ª Região.
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Julgando um recurso, a 3ª Turma do TRF-4 estabeleceu que “chope sem colarinho não é chope, como é conhecido nacionalmente”, segundo o voto da relatora do feito, desembargadora Maria Lúcia Luz Leiria. E assim entendendo, a Justiça livrou um restaurante de Blumenau da multa aplicada pelo INMETRO, que considerou abusivo o estabelecimento vender chope com espuma e cobrar por ela, pois somente poderia cobrar pelo líquido.
Esta não é uma questão restrita a bebuns, não. É uma questão científica. Tanto que a magistrada enveredou pelos estados físicos da matéria, ao explicar que a espuma também é chope, só que em outra forma, devido à pressão a que o produto é submetido durante o preparo.
A primeira sensação, lendo a matéria sob comento, é pensar: será que o Judiciário não tem nada mais importante com que se ocupar? Será que em Blumenau não há crimes, sonegação, problemas eleitorais? Contudo, passada a impressão inicial, temos que ser sensatos: o Judiciário deve responder às demandas que lhe são apresentadas pelos cidadãos e, uma vez provocado, não pode negar uma prestação jurisdicional. Por isso, se há um culpado nessa história, é o INMETRO, cujos fiscais, pelo visto, saíram de bar em bar pela noite da lindíssima cidade catarinense de trena na mão, medindo a espessura da faixa de espuma nos chopes. Ou eles não tinh
am nada melhor para fazer (de que duvido, considerando a enorme quantidade de indústrias na região), ou estavam interessados em alguma outra coisa. Sim, também existe a terceira hipótese: eles estarem empenhados na defesa do consumidor.
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Para os desavisados, INMETRO não é um cara que escreve o quadro "Estamos de olho" do Fantástico, e sim o Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial, uma autarquia federal criada em 1973, cuja missão é "prover confiança à sociedade brasileira nas medições e nos produtos, através da metrologia e da avaliação da conformidade, promovendo a harmonização das relações de consumo, a inovação e a competitividade do País."
PS — Alô, seu INMETRO, venha medir a quantidade de gelo nos copos de suco vendidos em Belém do Pará, por favor!
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