Eu não seria eu, contudo, se não destacasse também o lado ruim do show. E isto fica por conta da organização, com o altíssimo padrão esculhambado típico dos paraenses.
Aqui, normalmente não são vendidas mesas, remanescendo apenas alguns camarotes, se o local dispuser de tal infraestrutura. O negócio é enfiar o máximo de gente possível em pé, para aumentar o faturamento. No caso de "Maré", talvez pelo fato de o público de Adriana Calcanhotto envolver também pessoas de mais idade e refinamento, alguém decidiu dividir o espaço em "pista" e "cadeiras". Para tanto, colocaram aquelas cadeiras de plástico horrorosas, com logomarca de cerveja estampada nelas, logo em frente ao palco. Atrás delas, separada por uma divisória de madeira, o espaço para os plebeus que não se dignaram a pagar 100 reais para ver o espetáculo. O visual era deprimente. No andar superior do Hangar, também foram dispostas cadeiras, mas agora as do próprio ambiente, mais confortáveis. Contudo, minutos antes da apresentação, funcionários ainda carregavam cadeiras. Não deveria estar tudo pronto?
Pìor mesmo foi a venda de comida no recinto. Transformaram o show de uma das maiores artistas brasileiras numa espécie de jantar dançante. Na área dos cadeirantes, podia-se chamar os garçons e, na da plebe, improvisaram uma mesa, com as acepipes a postos. Creio ter visto uma balança, ou seja, o serviço deve ter sido a quilo. Quase um bandejão. Não me dei ao trabalho de saber o que estavam servindo.
Insuportável o atraso de duas horas para o começo do show, marcado para as 22 horas. Sabemos que sempre atrasa, mas desse jeito é uma absoluta falta de respeito. E o que justifica isso? O costume do atraso, como se essa atitude estúpida merecesse algum respeito? Ficar esperando os desgraçados que chegam atrasados voluntariamente, em prejuízo dos idiotas, como eu, que chegam na hora (passando de 23 horas, muitas cadeiras ainda estavam vazias)? Esperar lotar aquele extorsivo estacionamento de cinco reais? Forçar as pessoas a comprar bebidas, para suportar a enfadonha espera? Qualquer das opções é deplorável. Antes de consumar o meu objetivo no local, minhas costas já estavam arrebentadas. Afinal, ontem trabalhei de manhã, à tarde e à noite. Não tenho mais idade para essas noitadas. Muito menos disposição.
E como a produção era do Parafolia, ainda tivemos que suportar um mala (chato o suficiente para dizer "boa noite", reclamar que a resposta fora fraca e insistir, com mais energia, num "boa noiteeeeeeeeeeeeeeeee!!!!!!!!!!", bem ao estilo Xuxa nos anos 1980) lendo a programação de shows até o final do ano, apesar de ela ter sido exibida no telão incontáveis vezes. E que programação! Banda Calypso, pagodeiros, breganejos... Adriana foi o último evento musical de 2008, a julgar pelo que vi ali.
Por último, o povo de Belém do Pará, a capital mundial do egocentrismo, como gosto de defini-la. Um fulaninho ordinário chegou momentos antes do início da apresentação e foi empurrando para ficar perto de sua namorada ou coisa que o valha. Quando passou à frente de minha tia, ela se queixou. Ele chegou a empurrá-la, mas ela foi um perfeito chihuahua: minúscula, latiu mais alto e ficou com o espaço.
Já uma senhôura entendeu que devia bater papo com sua acompanhante, sobre os assuntos mais variados. Lá pelas tantas, meu irmão se cansou e pediu que lhe fosse assegurado o direito de escutar a artista cantando. A resposta: "Os incomodados que se retirem." Ele teve que passar uma descompostura e, claro, a ordinária continuou achando que tinha razão. Depois disso, cantou com Adriana o máximo que pode, jogando-se para cima de meu irmão, para incomodá-lo. Definitivamente, não tenho mais saúde para suportar essa escumalha.
Acho que só enfrento um outro show aqui em Belém se for da Emma Shapplin. E olhe lá.
Nenhum comentário:
Postar um comentário