sábado, 11 de outubro de 2008

Desejos de paz

Ontem e hoje, tendo que lidar com uma grande quantidade de pessoas dos mais variados tipos, flagrei-me tendo dúvidas sobre se deveria ou não desejar um feliz Círio para elas. Afinal, sei que muitas pessoas — e aqui me permitam a sinceridade —, por serem evangélicas, lidam mal com esse grandioso evento que é, essencialmente, católico. Refiro-me especificamente aos evangélicos porque nunca vi adeptos de outras orientações religiosas tendo posturas hostis em relação ao Círio, algumas até bem extremadas. [Por favor, eu não disse que elas inexistem e sim que eu nunca vi.] Pelo contrário, já tive a oportunidade de conversar com judeus e umbandistas falando com muita simpatia a respeito.
Nós, espíritas, por exemplo, temos um carinho extraordinário pela mãe de Jesus, a mãezinha de todos nós. Há livros escritos sobre ela, na vasta literatura espírita, os quais deixam muito claro que ela é uma figura extraordinária, com uma missão única e maravilhosa.
Como não realizamos cerimônias ou cultos, as atividades nos centros espíritas consistem em reuniões — de estudo ou de trabalho, sendo que as mediúnicas (talvez as mais características) são restritas a participantes devidamente preparados, ao menos, claro, nas instituições sérias.
Frequentei essas reuniões nos grupos de jovens, por vários anos, na sede da União Espírita Paraense, na Oswaldo Cruz, quase na esquina da Presidente Vargas e, por isso, muito próxima ao trajeto da Trasladação. Devido a isso, as reuniões normais dos grupos eram suspensas, até porque a frequência se tornava irregular. Todos os jovens presentes eram reunidos numa só assembleia e, ali, fazíamos um encontro com tema voltado ao Círio, normalmente falando sobre a vida de Maria. Foi ali que aprendi a amá-la como a amo hoje. Talvez por isso eu sempre me emocione muito vendo as imagens do Círio, mesmo que apenas pela TV. Curiosamente, o que mais mexe comigo não é a imagem da berlinda, e sim a do povo. Fico comovido de vender pessoas completamente anônimas, simples, chorando e rezando com total devoção e honestidade. É isso que me toca.
Amanhã, cumprindo uma rotina de alguns anos, meu contato presencial com o Círio consistirá em levar minha mãe, bem cedinho, até a Catedral da Sé, de onde ela sairá, descalça, caminhando com os demais devotos até onde aguentar. E depois voltará para casa obcecada pelo almoço com pratos típicos que ela mesma preparou. Um dia maravilhoso, sem dúvida.
Independentemente de qualquer religião, considero um imenso privilégio para uma cidade dispor de um momento no ano em que pessoas na casa do milhão se irmanam em sentimentos de paz, de bondade, de esperança. Num mundo tão cheio de maldade, é como se abríssemos uma ilha de boas vibrações, cujos benefícios não se pode aquilatar.
Um feliz Círio para você, encare a coisa do jeito que encarar. Tanto faz. O bem que se deseja apenas se deseja e cumpre a sua finalidade.

2 comentários:

Francisco Rocha Junior disse...

Yúdice, não sei se lembras, mas outro dia escrevi a respeito de um amigo meu, muito querido, que diz que quando as pessoas rezam, conectam-se em prol do bem comum.
Consegues imaginar o que gera o Círio? É muito bom pensar nisso, não é?
Um bom Círio pra ti, pra Polyana e, especialmente, para Julinha. Que Nossa Senhora a abençoe sempre.

Yúdice Andrade disse...

Sim, eu me lembro. E é verdade. Nada como um desejo sincero pelo bem para que as coisas já comecem a ficar mais leves. E olha que quem te fala não é exatamente uma pessoa otimista.
Um Círio maravilhoso para ti também, meu amigo, com toda a família. Abraços.