Pergunte a um especialista e ele lhe dirá que, em casos de sequestros prolongados, quando sequestrador e refém se encontram sitiados, é muito grande a probabilidade de o sequestrador atentar contra o refém e depois contra si mesmo, principalmente se o delito foi cometido por razões passionais. No caso do sequestro de quatro dias, em Santo André, ainda se tem a agravante de que o agressor, Lindemberg, não fazia exigências. Ele não queria colete à prova de balas, carro abastecido, nada que sugerisse um plano de fuga. Ele apenas cozinhou a polícia em banho-maria por todo esse tempo, coisa que ficou muito clara quando ele anunciou que libertaria a refém quando quisesse, quando bem entendesse, e não avisaria o momento. A polícia deixou que ele se sentisse no comando. E ele estava.
Tudo apontava para o desfecho que, afinal, acabou acontecendo. Mesmo tendo uma resistência enorme, Lindemberg estava cansado, claro. Quando um criminoso chega ao seu limite e acha que não tem mais nada a perder, as consequências costumam ser desastrosas.
Qualquer que seja a explicação que se dê, não me conformo que a polícia tenha permitido o retorno ao apartamento de Nayara, já libertada. Ela é apenas uma menina e foi posta, novamente, deliberadamente, naquela situação. Agora tem uma bala no rosto. Ainda que os médicos anunciem que não haverá maiores danos, não merecia passar por isso.
Sem dúvida que a polícia paulista terá muito a explicar à sociedade sobre sua paciência, suas decisões e sua técnica. Convencer-nos será bem difícil.
3 comentários:
O que mais me preocupa é a sanha assassina com que muitos tem se referido ao rapaz. Desejo de vingança explicito e uma necessidade de julgar, condenar e punirr (não necessariamente nessa ordem). Mas concordo que seja uma cronica de tragédia anunciada desde o inicio do namoro.
Abraços, e de um cheiro em Júlia...
Yúdice, os negociadores cometeram erros crassos! Deveriam ser substituídos logo depois de aceiatarem o retornar ao 'cativeiro'! Isso não existe em nenhum manual de negociação! Segundo, o tempo da negociação foi um novo recorde mundial. A boa técnica recomenda em casos envolvendo inocentes, o uso do atirador de elite (snipper), assim o desfecho seria outro. Duas vidas inocentes seriam salvas. Há um leniência dos políticos, da justiça e dos membros da segurança pública em agir de verdade! Receio de ferir direitos fundamentais de facínoras e responder criminal por isso. Veja os casos de ataques criminosos a Polícia e a Justiça no interior do estado. Aonde chegaremos?
Jesiel, sem dúvida que é exatamente a crônica de uma tragédia anunciada. Quanto ao desejo de vingança que mencionas, inspirou a postagem que acabei de fazer.
Com efeito, anônimo, houve uma declaração - não sei de quem partiu - de que a polícia não tomou outras atitudes por receio da repercussão. É como no famoso caso do ônibus 174, novamente lembrado por causa do filme recentemente lançado: todos os policiais queriam matar o seqüestrador, mas não o fariam sendo filmados ao vivo, para exibição imediata em cadeia nacional.
É ótimo que a imprensa desmobilize a brutalidade policial, mas quando a polícia abandona a técnica por medo, aí é o caso de prever que vamos parar num lugar bem aterrorizante.
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