sábado, 4 de outubro de 2008

Esquadros

Desde o primeiro show para o futuro CD Público, impressionou-me a adoração que os fãs de Adriana Calcanhotto têm por sua canção "Esquadros" (do segundo álbum, Senhas, 1992), mormente considerando que ela não tem apelo comercial nem parou na trilha sonora de nenhuma novela (a artista sempre emplaca algum hit em trilhas de novela). Bastaram os primeiros acordes e houve uma histeria. O teatro todo cantava junto. Não sei se ocorre o mesmo em outras cidades, mas acredito que esse seja, de fato, um dos maiores sucessos da cantora. No evento de ontem, essa impressão se confirmou.
Eis o belo poema que baseia a canção:

Eu ando pelo mundo
Prestando atenção em cores
Que eu não sei o nome
Cores de Almodóvar
Cores de Frida Kahlo
Cores!

Passeio pelo escuro
Eu presto muita atenção
No que meu irmão ouve
E como uma segunda pele
Um calo, uma casca
Uma cápsula protetora
Ai, eu quero chegar antes
Pra sinalizar
O estar de cada coisa
Filtrar seus graus...

Eu ando pelo mundo
Divertindo gente
Chorando ao telefone
E vendo doer a fome
Nos meninos que têm fome...

Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
Quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle...

Eu ando pelo mundo
E os automóveis correm para quê?
As crianças correm para onde?

Transito entre dois lados
De um lado
Eu gosto de opostos
Exponho o meu modo
Me mostro
Eu canto para quem?

Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
Quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle...

Eu ando pelo mundo
E meus amigos, cadê?
Minha alegria, meu cansaço
Meu amor, cadê você?
Eu acordei
Não tem ninguém ao lado

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