Acredito que uma pessoa de bons princípios e valores, que não tenha a personalidade deformada por algum transtorno diagnosticável pela Psiquiatria, não aceitaria facilmente participar de um linchamento. Sequer endossaria tal prática. Por conseguinte, deve-se perquirir os motivos que levam o cidadão comum a aderir à violência — e não uma violência qualquer, e sim uma desse tipo, desmedida.
Abstraindo os fatores individuais, forçoso reconhecer que o linchamento é mais um sintoma da falência do Estado, particularmente no campo da segurança pública. Porque se o cidadão contasse com o poder público, se acreditasse que seria prontamente atendido e que a demanda seria tratada à altura, pelos mecanismos oficiais, provavelmente escolheria o caminho menos custoso para si. Pelo menos, quero crer nisso. Muito melhor para o cidadão comum deixar que o criminoso acerte suas contas como devido do que se expor a riscos, esforços e traumas. O problema é justamente ele estar convencido do contrário: de que a polícia não atenderá o chamado — por falta de interesse, de pessoal, de viatura ou de combustível — ou de que o sistema de justiça criminal não responderá ao crime como se espera. A antecipação da impunidade induz o indivíduo a preferir o caminho que lhe parece mais garantido. E aí todo mundo se iguala: o tal homem de bem, honesto, trabalhador e pai de família, e o criminoso mais bestial.
Resolve-se o problema focal. O problema de fundo, esse continuará a existir, porque não foi sequer arranhado. Prosseguimos assim, com o Estado brasileiro empurrando as pessoas ao vício, ao crime, ao horror.
É uma explicação possível. Jamais uma justificativa.
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