quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Como isso começou?

Naturalmente, minha recente condição de pai me leva a pensar essas coisas e, justamente por ser tudo recente, peço desculpas se minhas ideias ainda estão muito incipientes ou mesmo confusas.
O país tem acompanhado, desde segunda-feira, o desenrolar de um sequestro em Santo
André. No comando do show, um jovem de 22 anos, que alega ter agido porque a vítima, sua ex-namorada, de apenas 15 anos, recusava-se a conversar com ele e o deixava falando sozinho. Segundo alega, sequer pretendia retomar o relacionamento; só queria conversar e, desatendido, muniu-se de uma arma, tornou-se um criminoso famoso e está dando mostras de incômoda resistência física e psicológica nessas horas extremas.
Não pretendo julgar o sequestrador, a vítima ou a família desta. Só suscito um ponto para debate: notaram as idades dos protagonistas desse drama? 22 e 15. Quando o namoro começou, 19 e 12. Pergunto: devem as famílias concordar, sem maiores questionamentos, com um namoro nessas condições?
Quanto mais velhos ficamos, menos significativa fica a diferença de idade (falando genericamente, claro, sem ponderar particularidades de casal). Uma mulher de 50 e seu companheiro de 43, ou um homem de 32 e sua namorada de 39, provavelmente, estarão focados em objetivos convergentes, nos âmbitos pessoal, familiar, profissional. Mas um(a) jovem de 23 anos certamente está num nível diferente de outro(a) de 30. Talvez um esteja preocupado em passar no vestibular ou em se formar, enquanto o outro já deve ter as vistas mais voltadas para questões profissionais, sobretudo estabilização financeira. É provável que o de 30 já tenha vivido um relacionamento amoroso prolongado e com características de relação marital.
Contudo, é nítida a diferença entre uma menina de 12 anos, em plena transição da infância para a adolescência, em plena puberdade, para um rapaz de 19. Eles se diferenciam pelos interesses, experiências, preocupações imediatas e modos de se relacionar, dentre outros itens. Ela é uma neófita no complicado mundo dos relacionamentos; ele deve ter dado as suas cabeçadas.
Sabemos todos que ninguém impede namoro. Garoto(a) que quer namorar o fará, manifeste-se a família ou não. A questão não é proibir, mas deixar claro, através de muito diálogo, o que se espera do relacionamento. E o que se pode esperar de um namoro entre uma menininha, talvez ávida por provar que já é mulher, e alguém que já é homem (fisiologicamente falando)?
Será que, se essa pergunta tivesse sido feita dois anos e meio atrás, pelos pais da menina sequestrada, estaríamos hoje vendo este interminável sequestro?

2 comentários:

Anônimo disse...

Que esse triste episódio sirva como exemplo para tantas famílias que nem se preocupam em saber onde e com quem estão seus filhos. Vou usar agora um argumento batidíssimo: a culpa é da televisão, que desperta nas pessoas, especialmente nos mais jovens, os instintos mais bestiais.

Mais clichê e mais verdadeiro, impossível.

Paulo Torres

Yúdice Andrade disse...

Há diversos fatores, além da TV, meu caro. Posso dizer que o primeiro é a progressiva substituição que as próprias famílias fazem, de seu dever de educar por mecanismos que ocupem o tempo das crianças, a fim de que elas dêem menos trabalho. Pode ser a TV, a rua ou outra coisa. Mas o resultado não será bom.
Isto também é um clichê - e bem verdadeiro.