sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Enfermeiro de Angola

Há dois anos não falo com meu amigo Renato Rodrigues Camarão. A última vez foi quando ele esteve em Belém, para visitar sua cidade natal após uma década e meia sem por os pés aqui. Sua família se mudou para Brasília e ele, que precisou ir junto, construiu sua vida por lá. Radicou-se em uma daquelas cidades-satélite. Nessa visita, extremamente ansiada por ele e pelo povo que deixou aqui, veio com seu filho Arthur, então com 10 anos. O menino ficou viciado em sorvetes da Cairu. Compreensível.
Um dia, Renato me mandou um e-mail estranho, truncado, como se fosse a continuação de outro. Falava coisas sobre uma viagem, sobre Angola e sobre alguns anos por lá. Pedi explicações sobre o que aquilo significava, mas não me respondeu. Imaginava o que era, mas a confirmação me chegou depois, através de parentes dele. Renato, que é enfermeiro, inscrevera-se em um programa humanitário. Foi cuidar da população miserável e doente de Angola — as terríveis doenças da pobreza, facílimas de tratar, se você não for pobre. Nem todas, claro. A AIDS é uma epidemia permanente em boa parte da África.
Quando esteve aqui, Renato — que é separado — me falou do seu desejo de levar o filho para morar com ele. Era um projeto para um futuro bem próximo, disse-me. Sentia necessidade de estar com Arthur todos os dias. Contudo, optou por ficar alguns anos sem ver o filho, cuidando dos filhos alheios.
A última informação que tive foi uma rápida mensagem no Orkut, para todos os seus amigos, na qual Renato dizia estar em Angola, com enormes dificuldades para acessar a Internet. Não sabia quando poderia mandar notícias. Isso faz tempo. Nunca mandou notícias. Sei que ele, como pode, tenta manter contato com o filho. É uma barra para ambos. Mas ele segue em frente.
Renato é um humanista. Ele realmente se importa com o semelhante, mesmo aqueles que parecem tão diferentes. Com o próximo, que está distante na geografia e nas condições de vida.
Renato hoje faz aniversário. 33 anos. Não posso parabenizá-lo pessoalmente, mas posso deixar esta homenagem, expressão da minha imensa admiração e respeito. Um ser humano que faz a diferença, como gente, como profissional, como pai, como cidadão, como brasileiro.
Deus te abençoe, meu amigo.

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