terça-feira, 21 de outubro de 2008

Agora, a rebarba

Todos sabemos que, para a imprensa, é um delírio quando acontece um fato de enorme repercussão, porque ele garante pauta por dias, semanas ou até, nos casos dos bons, meses (como o "mensalão"). A notícia se vende sem que ninguém precise procurar novidades. Infelizmente, dá-se uma atenção extremada à violência e, por isso, os fatos de maior dominação da mídia acabam sendo crimes terríveis, daqueles de tirar o sono de muita gente.
Passado o crime propriamente dito, é preciso explorá-lo em todas as suas nuanças, para garantir mais algumas pautas. Com o sequestro de Eloá Pimentel não poderia ser diferente. Além dos intermináveis panos para manga que o caso permite, em relação à atuação policial, os veículos de comunicação estão nos brindando com temas correlatos, tais como:
a) Pessoas que não têm relação direta com o crime, mas que o acompanharam intensamente, precisaram fazer terapia de grupo para aceitar o desfecho e tocar suas vidas adiante.
b) O pai de Lindemberg foi encontrado em algum lugar da Paraíba e deu uma inútil entrevista de meia dúzia de palavras apenas para repudiar o comportamento do filho. Filho esse com o qual, diga-se de passagem, perdeu o contato há anos. Terá sido abandono? Terá sido esse abandono determinante na formação ou deformação da personalidade do jovem? Tem esse pai o direito de criticá-lo?
c) O pai de Eloá é acusado de ser membro de uma facção criminosa da Polícia Militar de Alagoas, envolvida em vários crimes, sendo ele mesmo acusado de matar um delegado, irmão de um ex-governador.
d) A cela em que Lindemberg está isolado tem 6 metros quadrados, um catre, uma pia e um sanitário. Já fizeram até uma animação em computador para representá-la.
Considerando que o mundo continua a girar e há coisas acontecendo por toda parte, penso que já chega. Ou não?

3 comentários:

Frederico Guerreiro disse...

O povo já está até ansioso pelo próximo lançamento, para não cair em depressão por falta de algo emocionante.
Quando tudo estiver quase no esquecimento e nada for morbidamente comovente para atrair o público, os dominicais vão reunir as pessoas que receberam os órgãos de Eloá e - de muito mau gosto, eu sei - tentarão juntá-la no auditório. Será a apoteose.

Anônimo disse...

Sobre o caso...

É, acho que demoraram demais para invadir. O problema é que ele se fazia de coitado quando concedia entrevistas pelo telefone, e os repórteres passando a idéia de que não se tratava de um bandido (pq? por não ser reincidente? todo mundo começa não sendo "né"?!). Ficou no "chove e não molha", pronto, acabou acontecendo o pior e o esperado.
Mas dois desfechos eram possíveis, porque eu não acreditava que acabasse tudo bem, que ele se entregaria, até pela conversa com a polícia, era lógico que ele só esperava a invasão para atirar, e se desse tempo, acredito que teria se matado.
1 – a polícia matar Lindemberg; alguém duvida que os noticiários condenariam? “o pobre rapaz não sabia o que estava fazendo, não precisava de tudo isso”, “ele não era bandido”.
2 - o que aconteceu; claro, eu concordo que houve um despreparo na hora da invasão e duvido muito desse “tiro ouvido antes”, mais ainda que “sabíamos que deveria ter algo obstruindo a porta”, se soubessem francamente, porque demorariam pra entrar? E mais, porque aquele policial desceu correndo para tentar entrar pela janela? Mas a desculpa de que teriam que esperar, ele atirou por se assustar, conta outra! Eles já deviam ter invadido é muito antes, mas o plano devia ter sido melhor arquitetado.

Enquando isso a Bovespa opera em queda e o dólar dispara, será que o povo lembra?

Yúdice Andrade disse...

Não duvido nada que eles tentem fazê-lo, Fred. E o pior é que os transplantados, até por ingenuidade e gratidão, acreditando render uma homenagem à pessoa que lhes ajudou, acabarão concordando com o evento.

O momento em que o seqüestrador ainda renderá muito pano para manga, Marcela. E a garantia de mais alguns dias vendáveis, para a imprensa.