quarta-feira, 6 de junho de 2007

Língua Portuguesa muda em 2009

Afanei a postagem do blog do Val-André Mutran, devido a sua enorme importância para todos nós.

O novo português chega em 2009por Rosângela Bittar, chefe de redação da revista Valor Econômico
6/6/2007


Quase 20 anos depois do primeiro entendimento de filólogos e demais especialistas em torno do acordo ortográfico, que acabou sendo assinado em 1990 pelos chefes de Estado dos países de língua portuguesa, vai-se aproximando a data de real entrada em vigor da nova língua, e o Brasil corre para adaptar-se à norma cuja característica básica é aproximar o português falado no Brasil daquele que é falado em Portugal.
Em 89, houve o primeiro entendimento; em 90, o acordo; em 95, o acordo foi aprovado no Brasil, depois de já ter sido em Portugal. Havia, porém, uma contradição no texto: o acordo deveria entrar em vigor em 94, mas ao mesmo tempo teria que ser aprovado pelo Congresso de todos os países. Resultado: as regras eram incompatíveis.
Foi elaborado, então, um protocolo modificativo que suprimiu uma data para entrada em vigor. O acordo já tinha sido aprovado por Portugal, Brasil e Cabo Verde. O protocolo modificativo já foi aprovado por Brasil, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. No Brasil, o acordo foi aprovado em 1995, e sua modificação, com a eliminação da data de entrada em vigor, em 2002, pelas duas Casas do Congresso.
Tecnicamente, o acordo já pode entrar em vigor, porque uma regra da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), onde o Brasil é representado pelo embaixador Lauro Moreira, diz que quando três países concordam com uma medida, está produzida a decisão de consenso e os demais acompanham. A CPLP é de 94, e o Timor Leste, que não existia, já entrou para a comunidade concordando com os acordos existentes.
Depois de passar por cinco presidentes - José Sarney, Fernando Collor, Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso e agora Luiz Inácio Lula da Silva - os empurrões e aceleração dos preparativos que as autoridades de todos os países estão dando agora podem fazer com que a nova ortografia entre em vigor em 2009. A princípio, a Academia Brasileira de Letras esperava vê-lo implantado em 2008, mas os levantamentos sobre dificuldades e impacto da nova língua em todos os países estão indicando que não dá.
No Brasil, por exemplo, o livro didático que vai ser usado no ano letivo de 2008 já foi contratado este ano, e o que está em uso agora foi comprado no ano passado. Mas até 2009 será possível perfeitamente cada país adaptar seu sistema educativo e de comunicação.
Mudam 0,5% das palavras do Brasil.
"Uma só ortografia vai facilitar a circulação de livros, materiais educativos, professores, alunos, intercâmbio, cooperação. Vai beneficiar, principalmente, os países africanos, que desejam aumentar a cooperação com o Brasil, têm muitos estudantes aqui mas seguem a norma portuguesa para o ensino da língua", afirma o coordenador das providências para o acordo entrar em vigor no Brasil, Carlos Alberto Xavier, assessor especial do ministro da Educação, Fernando Haddad.
Claro exemplo de benefício desta unificação é o próprio dicionário de Antonio Houaiss, que representou o Brasil na formulação do acordo. Editado no Brasil e em Portugal com o apoio dos governos, o dicionário tem quatro volumes lá e um volume aqui. A palavra úmido por exemplo, está escrita com u aqui e com h em Portugal, com a mesma definição nos dois casos. A edição e circulação dos livros ficará facilitada com a unificação, afirma Xavier. Com a entrada em vigor do acordo, 98% das diferenças ficarão resolvidas. Permanecerão como eram, diferentes, questões que, mais do que ortográficas, são culturais. Os portugueses, por exemplo, não deixarão de falar António, com o o aberto e acentuado, enquanto os brasileiros continuarão falando Antônio, com o "o" fechado e circunflexo.
As mudanças atingirão, no Brasil, 0,5% do total de palavras mais usadas, e em Portugal mudarão 1,6%. Os dicionários maiores do Brasil têm cerca de 380 mil palavras; os dicionários escolares estão na ponta oposta, com umas 30 mil palavras em média. Segundo os cálculos dos estudos de adaptação que estão sendo feitos no MEC, 200 mil palavras fazem um bom dicionário, e meio por cento disto são 10 mil palavras. Estas seriam as que sofreriam mudanças. "Mudar a grafia de 10 mil, em um universo de 200 mil, não é muito", avalia Carlos Alberto Xavier.
A nova ortografia, aprovada há quase 20 anos, já ficou esquecida e, com a aproximação de sua entrada em vigor, devem se multiplicar as edições de obras explicativas para o público em geral e de obras didáticas para professores e alunos. Uma das primeiras, a Nova Ortografia da Língua Portuguesa, de Antonio Houaiss, editora Ática, publicada em 1991, está esgotada.
As modificações, lembra Xavier, serão feitas em "21 bases". Para rememorar grupos de mudanças: uma das bases é o hífen. O traço cai para um bom número de palavras, como mandachuva e paraquedas, que designam um ser ou objeto único. O trema fica praticamente extinto. Não existirá mais em palavras como linguística, cinquenta, tranquilo. Poderá ser usado apenas em palavras derivadas de outras, da língua estrangeira, que possuem o sinal.
Palavras acentuadas no português do Brasil perderão o acento: vôo e enjôo, por exemplo. Caem também os acentos de palavras que contenham os ditongos eie oi, como "idéia", "jibóia", "assembléia". O alfabeto, atualmente com 23 letras, ganha mais 3: k, y, w. A dupla grafia é outra das 21 bases do acordo, e será admitida em muitas palavras para manter as características culturais da língua, como cômodo (Brasil) e cómodo (Portugal), gênio (Brasil) e génio (Portugal).
O Ministério da Educação vem acelerando os estudos tendo no horizonte a data de janeiro de 2009 para a entrada em vigor da nova ortografia. "O prestígio internacional da língua é também um objetivo, para facilitação da cooperação e do intercâmbio entre os usuários. O que interessa não é só a língua falada nos oito países (Brasil, Portugal, cinco africanos e Timor Leste), mas todas as comunidades usuárias da língua portuguesa espalhadas pelos cinco continentes", diz Xavier.

Outro dia, um orientando de trabalho de conclusão de curso me indagou se era verdade que não se podia mais usar mesóclise. Fui taxativo: o idioma ainda não foi alterado; use a mesóclise. Isso mostra como, mesmo nos meios acadêmicos, a transformação de nossa língua deve causar enormes dificuldades.
Ainda que achando tudo isso estranho (é difícil encarar a mudança de algo tão arraigado), estou curioso para viver esse processo. Que me conste, a última reforma da língua ocorreu em 1942, quando foram abolidos, p. ex., acentos em palavras como "ele". Até hoje conheço pessoas, agora idosas, que ainda escrevem "êle".
Minha maior curiosidade, contudo, é que diferença a reforma fará na vida da grande maioria dos brasileiros, que não conhece português algum.

6 comentários:

morenocris disse...

Yúdice, duas coisas:

Primeiro, a informação é importantíssima. Preciso visitar e linkar tb o Val-André.

Segundo, amigo o seu blog está cheio de novidades tecnológicas...será que ela poderia me dar uma consultoria tb?(a sua esposa). Está muito legal.
O Flanar tem me socorrido em tudo, graças à Deus! Mas, nunca é demais!

Beijos.

Unknown disse...

Meu Deus, isso, além de importante, me preocupa muito. Eu mal sei escrever atualmente, imagina quando mudar tudo isso!
Mas se é por uma boa causa, apóio, ou apoio, ah, sei lá!
hehehe

Anônimo disse...

Yúdice,
e os problemas entre o "s" e o "z", os "ss" e o "c"...
Tem ainda o "es..." e o "ex...". tipo exportar, estornar, estorvo ou extorvo...
Quando serão enfrentados?

Yúdice Andrade disse...

Minha esposa adora brincar com essas coisas. O problema é arrumar uma folga na agenda. Acredite, mesmo eu tenho dificuldade.
Carlos Thiago, melhor aprender antes do dia da prova...
Anônimo, a reforma será ampla, mas sua finalidade é homogeneizar o idioma em todos os países de Língua Portuguesa. Ignoro se vão se ocupar desse tópico que abordaste. Porém, não o vejo como um problema. Todos temos que saber escrever. Um bom volume de leitura já ajuda muito.

Anônimo disse...

O Brasil - um país maravilhoso, mas cheio de problemas - enfrentar uma mudança dessas na Língua Portuguesa? Sinceramente (minha opinião), acho muito desnecessário. A maioria da população não sabe nem utilizar a língua que hoje está em vigor, imagine se mudarem? Tanta coisa para ser feita e eles (ou êles) pensando em mudar a língua... Como se não bastasse que quase tudo que há aqui é cópia de outros países (assim como o tal fake do outro artigo), nem mesmo uma língua própria e personalizada podemos ter? Uma lástima sem fim.

Yúdice Andrade disse...

Alexandre, o Brasil tem, de fato, problemas muito maiores do que o idioma, até porque fora de uma perspectiva internacional, o idioma não é problema algum. Sem tirar a tua razão quanto a isso, gostaria de fazer as seguintes ponderações:
1. Abstraindo-se os motivos determinantes da reforma, não acho que ela devesse ser evitada porque as pessoas não conhecem nem a língua atual. O povo precisa aprender a falar e escrever corretamente o português, seja o atual, seja o novo. O poder público deve empenhar-se nisso. Abdicar da mudança por conta da fragilidade educacional do braileiro médio é inverter a ordem das coisas, nivelar por baixo e desistir da educação.
2. O que você quer dizer com "tanta coisa para eles fazerem"? Eles quem? Pondere que cada profissional atua em sua própria área. Nela, identifica os problemas e propõe soluções. A seguir, encaminha ao governo ou, no caso, ao parlamento, para deliberação. Assim, não se trata de gastar tempo com isso quando havia coisa mais importante a fazer, pois quem criou a proposta trabalha especificamente com isso. Quando aos que devem decidir, eles devem decidir todos os interesses do país, os mais e os menos importantes. Além do mais, não falta ao Congresso tempo para deliberar. É só eles trabalharem um pouquinho.
3. A reforma não nos obriga a engolir o idioma alheio. Trata-se de uma homogeneização, que adota práticas de todos os países envolvidos. Assim como teremos mudanças para nos adequarmos aos outros, algumas mudanças farão com que eles se adeqüem a nós. Por fim, está previsto que em alguns casos os países conservarão as suas grafias originais. Portanto, não vejo nenhuma violência ao jeito brasileiro de falar.
4. Finalmente, o povo não fala a norma culta. Façam a reforma que quiserem, a língua das ruas continuará evoluindo todo dia.
Abraço.